Hoje, é difícil crer que ointelectual erudito Sérgio Buarque de Holanda, autor de“Raízes do Brasil”, obra essencial para o entendimento de nosso país, se dispôs a escrever numa revista popular. E – o mais impressionante -que nela tenha abordado um assunto de sua vida particular: como via um seu filho seu, de 23 anos. No entanto, foi o que ocorreu em 1968, no lançamento da Pais&Filhos. Poucas pessoas conhecem este texto sobre Chico Buarque. A seguir, trechos importantes.
“A imagem que o público fixou de meu filho não é correta. Quando ele aparece em público, torna-se diferente. Talvez seja o medo de parecer ridículo. Mas podem crer, ele não é tímido nem bonzinho. É, sem dúvida, uma boa pessoa. Mas não bonzinho, no sentido em que esta palavra é interpretada.
Quando criança, procurava sempre ser independente. Nem um “amor de criança”, nem um “enfant terrible”. Normal. Desde menino, sempre se interessou por música e futebol. Jogo, não perdia uma irradiação.
Da música popular, seus ídolos eram Ismael Silva, Caymmi e Ataulfo Alves. Não há dúvida, Noel e Chico também se assemelham um pouco, porque ambos enfocam temas urbanos. Nada mais. Aliás, há no Brasil uma mania de Noel! Qualquer compositor que surge é imediatamente comparado com o grande criador carioca.
Desde cedo, Chico já tinha namorada. Sempre foi muito vivo e alegre. Jogava futebol nas ruas, como todos os garotos de sua idade.
Quanto aos estudos, dedicava-se a eles principalmente às vésperas de exame. Estudava duas ou três horas seguidas, depois cansava e ia se divertir.
O sucesso não o mudou essencialmente, chateia-o um pouco, apenas. Hoje, não pode sair às ruas sem que lhe venham pedir autógrafos.
Sua formação é, sem dúvida, paulista. Nasceu no Rio, mas quando completou 2 anos, mudamos para São Paulo. Aqui, passou toda sua infância.
Chico, em vez de começar a falar, cantou. Mais tarde, ficava com as irmãs aí pela sala, inventando música. Criando cidades imaginárias.
A família ficou um pouco tonta com o sucesso. Mas já nos acostumamos. Chico é que não se habituou a ele. Ficou muito contente de ter ido a Paris, porque ninguém o conhecia por lá. Talvez o sucesso tenha provocado uma espécie de defesa, tornando-o um pouco retraído.
Trata-se de uma pessoa normal, alegre, sem problemas graves de personalidade. Eu sei o que eu estou falando. Sou seu pai há 23 anos”.