Entre os nomes apresentados pelo presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, para compor seu governo, um sobrenome, em especial, se destacou: Allende. A neta do presidente socialista Salvador Allende (1970-1973), Maya Fernández Allende, será a ministra da Defesa e chefiará os três braços das Forças Armadas do futuro governo. Allende, o presidente, foi derrubado por um golpe militar em 1973.
Maya é filha de Beatriz Allende Bussi, segundo os jornais chilenos, a mais política das filhas do presidente. Seu pai é o diplomata cubano Luis Fernández Oña, que integrou o Departamento de América do Partido Comunista cubano e tinha como papel a relação do regime dos Castros com os partidos e movimentos de esquerda na América Latina, como escreveu o jornal chileno <i>La Tercera</i>.
Biólogoa, veterinária e militante do Partido Socialista, Maya nasceu em Santiago em setembro de 1971, quase um ano após a chegada do governo da Unidade Popular ao poder. Após o golpe de 1973, ela e a família passaram a viver no exílio, em Havana. Na ilha dos Castros, ela viveria os próximos 20 anos.
De volta ao Chile, em 1992, cursou biologia e, mais tarde, medicina veterinária na Universidade do Chile. Foi na época de estudante universitária que Maya se afiliou e passou a militar no partido de seu avô, o Partido Socialista, pelo qual viria a ser eleita deputada mais.
Segundo perfil publicado pelo La Tercera, seu primeiro cargo no governo foi em 2002 durante a presidência de Ricardo Lagos, um cargo técnico no Servicio Agrícola y Ganadero. Mais tarde, com a então presidente Michelle Bachelet, trabalhou entre 2006 e 2012 na Direção de Relações Econômicas Internacionais.
Sua carreira política teve início quando foi eleita vereadora, em 2008, por Nuñoa, a comuna onde vive até hoje. Ela foi eleita com o apoio dos partidos da Concertação de Partidos pela Democracia – a coalizão criada para enfrentar a ditadura militar de Augusto Pinochet, a mesma que derrubou o governo de seu avô. Sua candidatura, quatro depois, para prefeita da comuna não teve sucesso.
Em 2013, elegeu-se deputada pelo Distrito 10 e reelegeu-se em 2017. Dois anos depois, tornou-se a presidente da Câmara dos Deputados.
Maya fez parte da dissidência socialista à atual diretoria chefiada pelo senador Álvaro Elizalde. Segundo lembrou o La Tercera, a neta de Allende foi uma das primeiras figuras socialistas a defender uma inclinação do Partido Socialista mais para a esquerda e optou por uma aproximação entre seu partido e a Frente Ampla.
Pela mesma razão, diz o jornal, foi uma das primeiras figuras do partido a apoiar publicamente a candidatura de Boric, muito antes da definição do primeiro turno e quando o principal nome presidencial do Novo Pacto Social ainda era a senadora democrata-cristã Yasna Provoste.