Na sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades chinesas anunciaram que, pela primeira vez desde dezembro, a cidade de Wuhan, epicentro da pandemia de covid-19, não registrou nenhum caso da doença em 24 horas. Aos poucos, a China respira cada vez mais aliviada e vislumbra a vida pós-coronavírus.
Em quatro meses, a covid-19 deu a volta ao mundo, infectou mais de 250 mil pessoas e matou cerca de 10 mil. "Não houve mais casos em Wuhan nas últimas 24 horas", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, na sexta-feira. "A cidade dá esperanças ao restante do mundo de que mesmo as situações mais extremas podem ser superadas."
Após 81 mil casos de covid-19 na China, menos de 7 mil permanecem doentes. Na sexta-feira, o país registrou poucos novos registros, a maioria de pessoas que vieram de outros países – e apenas três mortes, o menor número desde que as autoridades começaram a divulgar os dados, em janeiro.
Com isso, na semana passada, o último hospital temporário montado em Wuhan foi fechado e a Apple anunciou a reabertura de todas as suas 42 lojas no país. Aos poucos, bares e restaurantes vão reabrindo em Xangai, especialmente no Bund, à beira do Rio Huangpu, zona boêmia da cidade. Em Pequim, o trânsito volta lentamente ao caos habitual e, em breve, o ar da capital ficará irrespirável de novo.
Para Fausto Godoy, que foi embaixador do Brasil em países da Ásia e é coordenador do Núcleo de Estudos Asiáticos da ESPM, a recuperação chinesa se deve ao comportamento da sociedade. "Governo e população atuaram juntos e isso faz uma diferença brutal", disse. "Na Ásia, em geral, o ser humano só se realiza em sociedade. Ou seja, temos valor quando agregamos algo à sociedade. Esse é um conceito fundamental para entender a reação dos asiáticos ao coronavírus."
<b>Pandemia</b>
Em dezembro, a covid-19 surgiu na China e se espalhou pelo mundo, ganhando status de pandemia dado pela OMS. Inicialmente, o governo chinês negou que houvesse um problema. A polícia de Wuhan chegou a ameaçar Li Wenliang, médico que havia alertado sobre a escalada da doença e cuja morte, em fevereiro, provocou revolta da população local.
Mas logo o país mudou de estratégia, reconheceu a gravidade da situação e adotou medidas extremas: confinamento em massa e criação de centros de saúde para atender apenas os suspeitos de portarem o vírus. "Foi uma atitude diferente da que tiveram na época do surto de Sars (entre 2002 e 2003). Na ocasião, Pequim dizia que não tinha culpa e escondia tudo. Agora, quando a coisa explodiu, a China envia especialistas para outros lugares", disse Godoy.
Mas ainda é preciso cautela, segundo a OMS. Restrições de viagem ainda vigoram na Província de Hubei, onde está localizada a cidade de Wuhan, que permanece isolada. Autoridades dizem que a quarentena em massa só acabará quando não houver mais nenhum caso registrado por 14 dias consecutivos. Preocupados com uma segunda onda de contaminações, várias regiões, incluindo Pequim, decidiram impor uma quarentena de 14 dias para quem chega de viagens internacionais.
"Evidentemente, precisamos agir com precaução. A situação sempre pode mudar. Mas a experiência de cidades e de países que lutaram e derrotaram o vírus deve dar esperança e coragem ao restante do mundo", disse o chefe da OMS.