Estadão

China fala em unificação pacífica com Taiwan, que promete resistir à pressão

Em mais um movimento de deterioração da relação entre China e Taiwan, os líderes do país e da ilha trocaram acusações e ameaças sobre a unificação do território, considerado por Pequim como uma província rebelde . No fim de semana do 110.º aniversário da Revolução de 1911, a tensão no Estreito de Taiwan só aumenta, após a maior incursão por aviões militares chineses na zona de identificação de defesa aérea da ilha.

O presidente chinês, Xi Jinping, prometeu uma "reunificação" inevitável com Taiwan por "meios pacíficos" e a presidente da ilha, Tsai Ing-wen, reagiu dizendo que ninguém obrigaria a população a se curvar à pressão chinesa. Taiwan relatou na última semana um número recorde de incursões de aviões militares de Pequim.

O discurso de Xi ocorreu no sábado, 9, durante comemorações da Revolução de 1911, que derrubou a última dinastia chinesa. O mesmo evento foi lembrado neste domingo, 10, em Taiwan, onde Sun Yat-sen, o primeiro e efêmero presidente chinês, é considerado o pai da nação.

Na Revolução de 1911, a dinastia Qing foi derrubada e fundou-se a República da China, sob Sun Yat-sen. Na subsequente guerra civil, os comunistas liderados por Mao Tsé-tung tomaram o poder, enquanto o partido nacional chinês, o Kuomintang, refugiou-se com o governo em Taiwan.

Hoje, a ilha se considera independente, e se proclama República da China, celebrando a revolução como seu feriado nacional. A liderança comunista em Pequim, por sua vez, vê Taiwan como "parte indivisível" da República Popular da China, fundada em 1949. A ilha de Taiwan vive sob um sistema democrático, mas a China ameaça usar a força no caso de uma proclamação formal de independência.

"Alcançar a reunificação da pátria por meios pacíficos é do interesse geral da nação chinesa, incluindo dos compatriotas de Taiwan", afirmou Xi no Palácio do Povo em Pequim, com um retrato de Sun Yat-sen ao fundo. "A reunificação de nosso país pode e será alcançada", garantiu o presidente chinês, fazendo um alerta contra qualquer interferência estrangeira.

As tensões entre Taiwan e o continente atingiram seu nível mais alto a partir de 2012, sob a presidência de Xi Jinping, e se deteriorou ainda mais em 2016, com a eleição de Tsai. Na ocasião, Xi interrompeu a comunicação oficial com Taipei. "Aqueles que traem a pátria e dividem o país nunca terminam bem", ameaçou Xi a respeito dos separatistas taiwaneses.

O governo de Xi considera que Tsai apoia o separatismo da ilha, mesmo a presidente se declarando favorável a manter o statu quo e não tendo dado nenhum passo em direção a uma declaração de independência.

Após ganhar duas eleições, Tsai propôs negociações a Pequim, que as rejeitou. No discurso de ontem, a presidente reiterou sua oferta de "iniciar um diálogo" e disse ser a favor da manutenção da atual situação entre os dois territórios. Mesmo assim, o sentimento nacionalista taiwanês vem crescendo, especialmente entre os jovens.

"Ninguém pode forçar Taiwan a seguir o caminho que a China traçou para nós. Queremos uma distensão das relações (com Pequim) e não agiremos precipitadamente, mas eles não devem ter a ilusão de que o povo taiwanês se curvará sob pressão", disse Tsai.

<b>Incursões</b>

Um recorde de 150 aeronaves militares chinesas, incluindo bombardeiros H-6 com capacidade nuclear, fizeram incursões na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) de Taiwan antes e depois de 1.º de outubro, data do feriado nacional chinês.

Esta zona não corresponde ao espaço aéreo taiwanês, mas a uma área maior, que em alguns casos se sobrepõe à China continental. Tsai alertou ontem que tudo o que acontecer a Taiwan terá grandes consequências regionais e globais.

Na sexta-feira, 8, os Estados Unidos admitiram que treinavam em segredo o Exército taiwanês há meses. Um contingente de cerca de 20 membros das operações especiais e forças convencionais americanas vem conduzindo o treinamento há menos de um ano.

Os EUA fornecem armas a Taiwan, incluindo mísseis de defesa e caças, e têm um compromisso ambíguo de defender Taiwan. Xi voltou a falar, no sábado, que a situação na região é um tema interno". "A questão de Taiwan é um assunto puramente interno da China. Ninguém deve subestimar a forte determinação do povo chinês em defender a soberania nacional e a integridade territorial", afirmou.

O domínio crescente de Pequim sobre Hong Kong, um modelo de como a China pretende governar Taiwan, deixa os habitantes da ilha inda mais temerosos com as declarações de Xi. "Como taiwanês, não acho que podemos aceitar (a reunificação), basta olhar para o que acontece em Hong Kong", disse à AFP Hung Chen-lun, que esteve com seus dois filhos nas celebrações do feriado nacional ontem. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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