China: irresponsáveis não vão abalar relação com Brasil

O porta-voz da Embaixada da China no Brasil, o ministro-conselheiro Qu Yuhui, disse na sexta-feira, 10, que a relação entre os dois países não será facilmente abalada por "um ou dois indivíduos irresponsáveis", se referindo ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, e ao ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ambos usaram as redes sociais para fazer críticas consideradas xenófobas e racistas pelo país asiático.

Em videoconferência com jornalistas brasileiros, o porta-voz afirmou que esse tipo de declaração não favorece o ambiente de negócios e de cooperação. "Não são favoráveis à manutenção de um bom ambiente de negociação e cooperação entre dois países. Por outro lado, as relações entre Brasil e China são muito maduras. Essa parceria é um trabalho de várias gerações, de muitos esforços de muitas pessoas dedicadas a essas causas, que não vai ser abalada ou danificada facilmente por um ou dois indivíduos irresponsáveis", disse.

O ministro-conselheiro reforçou que a China segue sem compreender a razão dos comentários "lamentáveis e irresponsáveis". "Até hoje não conseguimos entender por que eles fizeram este tipo de declarações. Ou é pela ignorância, ou é por outras intenções que não sabemos quais são. Como figuras públicas, eles devem ter uma noção do peso da responsabilidade."

Weintraub usou as redes sociais no último dia 4 para fazer insinuações sobre supostos benefícios que a China teria com a crise do coronavírus. O ministro usou o jeito de falar do personagem Cebolinha, criado por Maurício de Sousa, que troca o "r" pelo "l". A intenção do ministro era ridicularizar o fato de alguns chineses, quando falam o português, também trocarem o som das letras.

No texto, Weintraub insinuou que a pandemia da covid-19 seria um plano infalível chinês para dominar o mundo. Depois da repercussão negativa, ele apagou a mensagem.

No fim de março, Bolsonaro conversou com presidente da China, Xi Jinping, após Eduardo ter culpado o país pela disseminação do coronavírus. "Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez, uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor, tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução", escreveu o deputado ao compartilhar postagens acusando o governo chinês pela pandemia.

Segundo o Ministério da Economia, o fluxo de comércio (exportações e importações) do Brasil com a China é de cerca de US$ 100 bilhões. Os chineses respondem por 27,8% das exportações e 20% das importações – o primeiro país tanto nas vendas como nas compras. O superávit para o Brasil é de US$ 30 bilhões.

Um estremecimento nas relações com o país asiático alerta líderes do agronegócio brasileiro, que recentemente pediram cautela e pacificação na relação dos dois países diante das incertezas causadas pelo avanço da pandemia do coronavírus.

Na conversa com os jornalistas, o porta-voz chinês disse ainda que as declarações do filho do presidente e do ministro da Educação alimentam "um certo sentimento anti-China, racista ou xenófobo contra China".

Qu Yuhui afirmou que a parceria entre China e Brasil será importante não apenas para enfrentar o novo coronavírus, mas, sobretudo, para depois que a pandemia for superada. "A parceria continuará sendo importante para os dois lados", disse. "Nossas economias são muito complementares. Temos necessidades cotidianas e estratégicas para fomentar a nossa cooperação. Mas isso requer um cuidado, um carinho muito especial. Temos que colocar tijolos nessa parceria, em vez de tirar os alicerces desse edifício", disse.

<b>Cooperação</b>

Apesar do estremecimento diplomático, a China, segundo o porta-voz, seguirá cooperando com o Brasil no enfrentamento ao coronavírus, mantendo contato com o Itamaraty e o Ministério da Saúde. No último dia 7, o ministro Luiz Henrique Mandetta procurou a embaixada chinesa para pedir um esforço comum para a entrega de equipamentos médicos.

O jornal O Estado de S. Paulo procurou na sexta-feira Eduardo Bolsonaro e Weintraub, mas até a conclusão da edição do jornal eles não haviam se manifestado. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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