Estadão

Chique e elegante, C6 relembra que a música ainda é o que importa

O C6 Fest, realizado no final de semana no Parque Ibirapuera, não é um desses festivais anabolizados. Veja bem, os headliners de domingo, 19, não custam mais de US$ 1 milhão, cifra que se tornou o novo "salário mínimo" dos artistas que costumeiramente encabeçam os festivais populares, como Lollapalooza, Rock in Rio e The Town.

Longe disso: as atrações principais do domingo, 19, custaram um quarto deste montante, no máximo: o cantor de R&B e soul Daniel Caesar e a banda de rock alternativo Pavement.

O mesmo se viu no sábado, quando a dupla de synth pop Soft Cell e a banda de blues rock Black Pumas se dividiram entre os dois principais palcos montados nas proximidades do Auditório Ibirapuera – muito bem acompanhadas das queridinhas do indie e do R&B, respectivamente, Romy e Raye. Cachês modestos, bem distribuídos, criavam um quarteto de atrações invejável, sortida para públicos diferentes.

Tudo é diminuto, até o público: foram pouco mais de 25 mil pessoas. Longe de ser um problema. Na verdade, se o C6 Fest realmente for viável do ponto de vista financeira, será um alívio para o mercado de shows brasileiro, justamente por fugir das aspirações de gigantismo que criam acéfalos e monstruosos eventos musicais com medrosas decisões de curadoria baseadas na entrega financeira mais segura possível.

Na primeira edição, em 2023, o festival buscou inspiração em um tradicional e já extinto Free Jazz, no qual os ingressos eram vendidos por acesso a cada palco (se a pessoa quisesse assistir a atrações de dois palcos diferentes, compraria dois ingressos). A estratégia, que deu certo três ou quatro décadas atrás, afugentou o público na estreia do C6 Fest – uma pena, porque ótimos artistas passaram por lá, de Arlo Parks a The War on Drugs.

<b>Aprendizado</b>

Já em 2024, a organização aprendeu com as próprias dores em muitos aspectos (inclusive em juntar os acessos em um mesmo ingresso).

Há pontos de atenção. O ingresso ainda é caro e o Ibirapuera cria barreiras no número de palcos e distâncias de caminhada problemáticas, além das limitações de horário e som. Mais: uma arena dentro das árvores, embora linda, atrapalhe bastante a visão do público.

Quando somamos essas questões ao valor do aluguel (que ajuda a aumentar o preço do ingresso) e à pouca oferta de transporte público, cria-se um quebra-cabeça sobre a melhor localização para este festival boutique. Mesmo assim, com estes temas a serem tratados, a segunda edição fluiu melhor.

Esqueça as ativações de marca chamativas e luzes neon que arremessam logomarcas nas retinas sem pedir licença. C6 Fest era, pelas palavras do público presente, um festival chique. Bem decorado, sem exageros, com toda a cenografia em preto, o que se destacava era, de fato, a música.

E a curadoria, sim, deu aula. Em vez de agradar às massas, buscaram-se os nichos. Esqueça a história dos festivais gigantescos, cujas fichas são colocadas nos "ingressos vendidos garantidos" de nomes como Maroon 5 ou Foo Fighters, com bases de fãs testadas e comprovadas, para voltar a cada dois anos e garantir seus 40 mil ingressos vendidos e, com isso, confirmar um novo cheque de milhões de reais em patrocínio.

<b>Sonho</b>

Em vez de brigar em leilão para trazer estes nomezões, o C6 Fest investe no "show da vida" de alguns. Pavement não é a banda favorita de 50 mil pessoas em São Paulo, mas, para aquelas 5 mil aglutinadas na tenda do Ibirapuera, era um sonho ver o grupo tão de perto, em uma rara segunda performance da banda no Brasil.

Cantavam, o público, não só os hits ou a bem-sucedida faixa Harness Your Hopes, hit do TikTok – a turma vibrava com lados B, como We Dance, Type Slowly e Frontwards. Ruído de distorção, pandeiros tocados propositalmente mais alto do que deveriam, vocais provocativamente desafinados, deboche: uma ode ao weird dos anos 90. É nos nichos que o C6 Fest se encontra – e encanta.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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