Christopher Cross apenas esboça um sorriso tímido de duas letras, “rs”, quando deveria responder a fundo uma questão séria. Afinal, teria ele noção do quanto contribuiu para o crescimento da população mundial depois de lançar os “love songs” que garantiram uma das carreiras de maior exposição radiofônica do mundo? Se sentiria responsável pela explosão demográfica depois de criar verdadeiras conduções coercitivas aos braços da pessoa amada, como Arthurs Theme, Never Be The Same, Sailing, All Right?É tudo muito sério, mas Christopher Cross apenas sorri.
As rádios de amor da madrugada devem metade de suas audiências ao homem que se apresenta apenas nesta sexta-feira, 7, na casa de shows Espaço das Américas. Em entrevista por e-mail ao jornal “O Estado de S. Paulo”, ele adianta que está gravando um disco, imaginem os fãs, instrumental. “É um álbum quase-instrumental. Há uma canção com voz e o resto será instrumental. Vou me mostrar como um guitarrista, algo que os fãs me pedem ao longo dos anos.”
Christopher é um guitarrista de rock and roll virtuoso escondido atrás do cantor e compositor romântico. Ele mesmo conta a história do célebre dia em que teve de substituir o gigante guitarrista Ritchie Blackmore, do Deep Purple. No primeiro show dos ingleses nos Estados Unidos, Blackmore adoeceu por fortes reações a uma vacina contra a gripe. O produtor, então, por acaso chefe do garoto aprendiz Chris Geppert (nome real de Cross), propôs ao tecladista Jon Lord: “A plateia está lotada. Para não cancelar o show, eu tenho um menino aqui que me ajuda na produção e que pode substituir o Blackmore. Ele conhece todas as músicas.” Lord topou, mas o vocalista Ian Gillan não.
A pressão da plateia continuava e o vocalista teve de ceder. Seria o que Deus quisesse. “Então, basicamente, eles anunciaram ao público que Ritchie estava doente e eu subi ao palco. Foi incrível para mim. Foi um momento icônico”, lembra Cross. Anos depois, já milionário, Cross foi lançar um álbum pelo selo Eagle Rock Records, que também tinha o Deep Purple no casting, e resolveu perguntar a Lord sobre aquele dia. “Isso nunca aconteceu”, disse o tecladista. “Não podia ser”, pensou Cross. Para tirar a dúvida, encontrou o amigo guitarrista Eric Johnson, que havia feito o show de abertura para o Deep Purple naquele dia. “Sim, aconteceu, eu estava lá”, disse Johnson. Refeito do susto, Cross lamentou: “Isto é algo do qual eles querem esquecer e que eu quero lembrar”.
Se era tão bom no rock, porque, afinal, Cross tomou outro caminho? “Acho que tudo está relacionado com o que gosto de ouvir, que admiro e talvez a forma como eu componho. Eu só toco guitarra, mas as pessoas pensam que toco piano. Sou um escritor muito solitário e tudo o que faço praticamente me inspiro em Joni Mitchell. Mas sou mesmo solitário, tanto quanto o momento em que as músicas começam a virar realidade.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.