A criança branca monta sobre a moça negra que, amedrontada, olha para a máquina fotográfica. Mais de um século depois, algumas babás não precisam mais servir de pôneis para os filhos de seus patrões, no Rio de Janeiro, descobriu Adalberto Neto, de O Globo, no mês passado. Uma delas, Eliecy Amaral Ferreira, a Cecy, passou a se sentir numa situação melhor, desde que se tornou babá de animais, como revelou ao repórter. Atualmente, sua obrigação é dar tratamento de “rei” a um cãozinho west highland white terrier. Ela garante: “É melhor trabalhar para animais do que para gente. Eles são dóceis, alegres e fiéis”.
Nesta atividade, Cicy talvez escape de constrangimentos como o recentemente suportado por uma colega carioca, retirada da piscina do Jockey Club onde entrara para cuidar da segurança do filho do seu patrão porque uma sócia da agremiação se recusou a permanecer na mesma água em que estava uma babá – registrou o jornalista Leonel Kaz. Cicy também possivelmente não fique exposta às “blitzs de babás” como as dos clubes Pinheiros, Paineiras e Paulistano, de São Paulo, executadas por funcionários autorizados para verificar se elas portam crachás nos pescoços, vestem roupas brancas e usam calçados fechados. Signos visuais que as “diferenciam” dos sócios e impedem a circulação delas pelas áreas de piscinas e restaurantes, segundo o jornalista Celso Jardim.
Além de Cicy, outra babá de cachorro foi localizada pelo repórter de O Globo. Margarida Rodrigues da Silva, a Margô, cuida de Luiza, cadela de 9 anos pertencente à empresária Ângela Marapodi.
Margô gosta muito de Luiza, por isto não quis conversar com Adalberto, garantiu a empresária. Naquele momento, ela “estava atarefada cozinhando para a patroa canina”, informou Ângela.
Felizmente, nem Cicy, nem Margô tem Tupi como “patrão canino”. Criação fictícia de Salomão Schwartzman apresentador de programa matinal na Rádio Cultura de São Paulo, o cachorro pouco se importa com os sentimentos das babás. Na historinha que Salomão transmitiu pela emissora no último dia 18, Tupi ouviu a súplica de sua babá, no horário do entretenimento que Salomão imagina adequado a quem exerce o trabalho dela: as telenovelas: “Vamos lá, Tupi, faça logo seu pipi. O Antônio Fagundes está nos esperando”. Totó se irritou com aquela insistência. Urinou. Já que ela pedia. Na perna dela, porém.
Cicy, certamente, tem razão: cachorrinhos reais tratam babás como seres humanos. Salomão, não. Obviamente.