A Prefeitura de São Paulo permitiu a volta de atividades presenciais extracurriculares em escolas públicas e particulares a partir do dia 7 de outubro. A decisão, como antecipou o <b>Estadão</b>, foi anunciada em coletiva de imprensa do prefeito Bruno Covas (PSDB) nesta quinta-feira, 17. O retorno não é obrigatório para escolas nem para as famílias e valerá para todo o ensino básico (0 a 17 anos). O ensino superior foi liberado para voltar com aulas. Já nas escolas, o retorno está previsto para 3 de novembro. Colégios e faculdades da capital estão fechados desde março, como forma de frear a transmissão do novo coronavírus.
A capital paulista já tinha autorização para a retomada de atividade de reforço e acolhimento nas escolas desde o dia 8 de setembro pelo governo do Estado, mas as prefeituras têm autonomia e Covas não havia concordado com a data. As escolas deverão retomar o funcionamento com 20% dos alunos, como informou ao Estadão o secretário municipal, já as faculdades poderão operar com até 35% da capacidade, segundo protocolo estabelecido pelo governo do Estado.
Agora, o prefeito autorizou que escolas possam fazer atividades extracurriculares em outubro, que são esportes, línguas, música, recreação e acolhimento. Para alunos da creche e pré-escola municipais, o acolhimento será feito em Centros para Crianças e Adolescentes (CCA), que também serão reabertos em outubro e recebem crianças vulneráveis. Segundo o secretário municipal de Educação, Bruno Caetano, ainda não está definido se haverá ou não férias em janeiro.
Na rede municipal, segundo ele, na volta às aulas prevista para novembro, haverá prioridade para o fim dos ciclos, 3º ano do médio, 9º ano e 5º ano do fundamental.
"Estamos liberando o protocolo elaborado pelo governo do Estado de São Paulo. Até agora a cidade de São Paulo teve flexibilização sem retroceder, com redução em óbitos e internações. E é com essa mesma cautela que vamos continuar no setor educacional", disse. Segundo Covas, a Prefeitura vai continuar com outros inquéritos sorológicos. "Estamos recebendo pressões de tudo quanto é lado. Mas temos certeza que estamos fazendo o que é recomendado pela área da saúde. Temos a vida como bem principal a ser protegido."
Como o Estadão antecipou, Covas não seguiu a decisão de prefeituras do ABC de deixar a reabertura das escolas apenas para 2021. Ele chegou a cogitar essa possibilidade, mas foi convencido pelos seus principais auxiliares da Educação e da Saúde de que não seria a melhor opção. O adiamento para o ano que vem tem sido muito criticado por especialistas, que enumeram os danos às crianças e adolescentes da falta da escola, principalmente os mais vulneráveis. O Brasil, segundo organismos internacionais, é um dos países com mais tempo de escolas fechadas do mundo por causa da pandemia de coronavírus.
Além de temer a contaminação de professores e alunos, Covas também tem se preocupado com a opinião pública com relação à volta às aulas, já que é candidato à reeleição em novembro. Em pesquisas nos últimos meses, cerca de 70% da população dizia ser contra o retorno. Há ainda a batalha com os sindicatos de professores e diretores, que ameaçam greve caso as aulas voltem. Eles pediam que as escolas fossem abertas somente em 2021.
Para passar para a próxima etapa, em que 70% dos alunos poderão ir à escola ao mesmo tempo, áreas que concentrem ao menos 60% da população do Estado precisam estar por 14 dias consecutivos na fase verde da flexibilização da quarentena. Atualmente, todas estão na fase amarela, uma antes da verde.
A Prefeitura apresentou também nesta quinta-feira o inquérito sorológico, que foi feito com alunos das redes pública municipal e estadual e também com estudantes de escolas particulares. A amostra contou com 6 mil alunos e a pesquisa foi feita entre 1 e 3 de setembro. Nesta fase, os alunos testados e que tinham anticorpos para covid-19 foi de 17,2% nos da rede estadual, de 18,4% na rede municipal e de 9,7% entre os alunos da rede particular. O estudo mostrou um cenário de alto número de assintomáticos entre os estudantes tanto da rede pública quanto privada. Os assintomáticos são 64,1% na rede estadual, 66,4% na rede municipal e de 70,3% em alunos das instituições particulares.
"É muito grande a preocupação da Prefeitura por conta dos estudos apresentados com a questão da volta às aulas. Estamos falando de 2,5 milhões de alunos, com proporção de assintomáticos maior que na comparação com os adultos. Há possibilidade de receio de segundo pico se voltar de forma integrada. Precisamos modular e ter precaução", disse Covas. Segundo o secretário de educação, todos os alunos da rede municipal passarão por uma avaliação de aprendizagem na volta às aulas. "Somente após aplicação de avaliação é que poderemos mensurar o tamanho do desafio de recuperação de aprendizagens, disse Caetano.
As universidades e faculdades estão autorizadas para voltar a dar aulas presenciais a partir de 7 de outubro. "Ela (a decisão) tem muito mais a ver com o inquérito sorológico dos adultos", justificou, frisando que respeita a autonomia de cada universidade e que será necessário manter as medidas sanitárias de distanciamento. "Não tem mais sentido, com os dados que nós temos, continuar a proibir o ensino superior na cidade." Muitas instituições, no entanto, já anunciaram que vão permanecer online no segundo semestre.
A capital foi classificada na fase amarela da quarentena no final de junho e não retrocedeu desde então. Mas, com base no resultado de uma fase anterior do inquérito sorológico com alunos da rede municipal, que mostrou que, dos 16,1% que tinham anticorpos para a doença mais de 64% eram assintomáticos, Covas havia decidido não liberar as aulas por medo do risco de contágio. A segunda fase havia mostrado que, dos 18,3% alunos que apresentavam anticorpos, 69,5% eram assintomáticos.
Covas anunciou também a abertura de 14 mil vagas para atendimento socioemocional das crianças, a partir de 7 de outubro, assim como a abertura dos 110 CCAs. De acordo com ele, a Secretaria Municipal de Saúde já registrou 5 mil crianças vítimas de violência doméstica desde o início da pandemia.