Opinião

Cidades movidas a quatro rodas correm o risco de parar


O Brasil teve o janeiro de maior produção de veículos da história. Foi o melhor desempenho para o mês com a fabricação de 261.777 automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões e ultrapassando o volume contabilizado em 2008, que chegou a 254,2 mil.


 


Os números “quentinhos” foram divulgados nesta segunda-feira pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e demonstram que houve acréscimo de 6,4% no confronto com janeiro do ano passado, mas redução de 9,1% ante dezembro. A diminuição frente ao mês anterior nem é representativa, já que se compara com um período – historicamente – de vendas em alta. Em vendas (244,9 mil), janeiro apresentou expansão de 14,8% na comparação com igual mês no ano passado.


 


Para quem imagina que esses números em alta são sinônimo de desenvolvimento, há um grande engano. Afinal, nossas cidades não estão preparadas para receber essa verdadeira avalanche de veículos que deixam as fábricas e chegam às ruas. Difícil encontrar um grande município brasileiro que possa se orgulhar de contar com um planejamento urbano capaz de absorver essa demanda.


 


Na capital paulista, já há um carro para cada dois habitantes, um número absurdo quando se leva em consideração o poder aquisitivo de grande parte da população. As fábricas comemoram vendas em alta desde os modelos populares até aqueles mais luxusos e esportivos. E elas não param de apresentar novidades aos consumidores, sempre incentivando a troca de um usado ou seminovo por um zerinho. Lógico que o carro que deu lugar a um zero volta ao mercado em um efeito que se estende por toda a cadeia de consumo.


 


Em Guarulhos, há cerca de um veículo para cada 2,5, três habitantes. Algo como se todos os casais da cidade tivessem um automóvel. Por aqui, a situação é ainda pior do que na Capital, já que o sistema viário nunca contou com qualquer planejamento. Não à toa, a cada dia que passa, há congestionamento por tudo quanto é canto. Até em ruas de menor movimento, entre bairros, ficam repletas de carros, motos, ônibus e caminhões, nos horários de maior movimento.


 


A situação se torna ainda mais preocupante quando se percebe que, fora a ausência de um planejamento viário, não existem grandes investimentos no transporte público de massa. A própria modernização do sistema de transporte da cidade esbarra no excesso de demanda e pouca oferta de veículos. Enquanto São Paulo, além das linhas férreas (trem e metrô), estima-se uma frota de 15 mil coletivos, Guarulhos se vira com pouco mais de mil ônibus, micros-ônibus e lotações, sem contar com um metro sequer de transporte sobre trilhos.


 


Só por aí dá para perceber a carência que vive a cidade, que não cansa de receber mais e mais automóveis, veículos que privilegiam o transporte individual. Caso não haja uma mudança conceitual de cultura, nossas cidades vão parar. E isso não vai demorar para ocorrer.


 

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