Uma equipe de cientistas europeus mapeou todas as variações ocorridas nas águas superficiais – rios, lagos, lagoas e pântanos – do planeta nos últimos 30 anos. O mapa, com grau inédito de detalhamento, mostra que a maior parte das mudanças ocorridas nesse período foram provocadas por secas, pela construção de barragens e pela extração de água para abastecimento.
O estudo, publicado nesta quarta-feira, 7, na revista Nature, utilizou mais de três milhões de imagens do satélite Landsat para quantificar, mês a mês, com uma resolução de 30 metros, as mudanças na localização das águas superficiais no mudo. Algoritmos foram utilizados para classificar cada quadrante de 30×30 metros como terra ou água, excluindo os oceanos.
De acordo com a pesquisa, liderada por Jean-François Pekel, do Centro de Pesquisas Conjuntas da Comissão Europeia, sediado em Ispra (Itália), no período estudado, muitas áreas de águas permanentes desapareceram em todas as regiões do mundo, mas a quantidade de novas áreas que surgiram foi bem maior.
No período, segundo o estudo, uma área de águas superficiais de 162 mil km2 – o equivalente a 850 vezes a área da Represa Billings, a maior de São Paulo – foi perdida, ou se tornou sazonal.
Os cientistas concluíram que a maior parte das perdas ocorreu no Oriente Médio e na Ásia Central, provocadas por construções de reservatórios e represas, além de extração de água e da ocorrência de secas. Cerca de 70% das perdas ficaram concentradas em cinco países: Casaquistão, Usbequistão, Irã, Iraque e Afeganistão.
No entanto, eles também concluíram que novas superfícies de águas permanentes se formaram em outros locais, cobrindo uma área que é quase o dobro da que existia há 30 anos: 184 mil km2. Além disso, todas as regiões continentais mostram um aumento real nas áreas de águas permanentes, exceto a Oceania, que teve uma perda de 1%.
Segundo os cientistas, a maior parte dos ganhos de águas permanentes está relacionada à construção de reservatórios em todo o mundo. Em alguns casos, as mudanças climáticas foram o fator responsável por aumentar as áreas de águas superficiais. O estudo detectou, por exemplo, que parte da expansão dos lagos foi causada pelo derretimento de glaciares no Planalto do Tibete.
Na mesma edição da Nature, o climatologista Dai Yamazaki, da Agência de Tecnologias e Ciências da Terra e do Mar do Japão, comentou o estudo e concluiu que o mapa é o maior avanço até hoje na compreensão das mudanças ocorridas nas águas superficiais do planeta.
“Suas descobertas serão cruciais para muitos estudos de ciências da Terra, como os de modelagem climática, de ecologia da interface entre lagos e rios, e também serão importantes para iniciativas globais de gestão hídrica”, disse Yamazaki.
Segundo eles, um mapa das águas de superfície havia sido feito em 2009, mas a resolução espacial era de 250 metros, o que impedia uma análise detalhada de rios e lagos menores. “Isso era um problema, porque as estimativas estatísticas sugerem que milhões de lagos com menos de um quilômetro quadrado podem corresponder a 40% da área global de águas continentais”, afirmou Yamazaki.