Uma das grandes atrações do Cine Ceará é o Foco Argentina, retrospectiva da filmografia recente organizada pelo diretor Miguel Mato – que já concorreu aqui há três anos com Homo Viator, sobre o escritor Haroldo Conti, desaparecido durante a ditadura militar argentina.
Mato conta que, diante da tarefa proposta pelo Cine Ceará, decidiu-se por um recorte contemporâneo. “Era impossível integrar numa retrospectiva uma cinematografia rica, de mais de 100 anos, que hoje produz 140 longas por ano”, comentou.
Miguel Mato selecionou 28 obras: 17 longas e 11 curtas. Duas são do autor homenageado, Daniel Burman, que aqui estará com Ninho Vazio e Abraço Partido.
Os outros filmes procuram retratar a sociedade argentina, hoje, tal como é vista pelos jovens cineastas. “Este é o conceito, abarcar a diversidade produzida por 31 anos contínuos de democracia”, diz Mato, que assim escolheu títulos como O Crítico, Crônica de Uma Fuga, O Último Elvis, entre outros. A mostra se divide em focos temáticos – cinema de terror, animação e LGTB. “Espero que esses filmes deem um relato da Argentina hoje.”
Sobre a ausência de alguns dos autores mais premiados do novo cinema argentino como Lucrecia Martel (O Pântano e La Niña Santa) e Lisandro Alonso (Os Mortos e Jauja), Mato afirmou. “Não podia contemplar todas as vertentes do novo cinema argentino numa mostra relativamente pequena. Então, tive de fazer escolhas que refletissem a diversidade desse cinema e não privilegiar apenas aquela que faz mais sucesso em festivais e no exterior.”
Acontece que essa vertente, que alguns críticos chamam de “contemplativa” é a que maior trânsito internacional tem, graças ao prestígio obtido em festivais. Mato entende que um certo cinema argentino preocupa-se demais com a forma, deixando o conteúdo em segundo plano. “São ótimos para ganhar prêmios, mas também para afastar o público. Minha geração entende o cinema como forma de comunicação, o que equivale a dizer que leva em conta o público.”
Ele diz ter razão para se preocupar. Apesar de produzir muito e da repercussão no exterior com seus autores jovens, o cinema argentino ocupa apenas 12% do seu mercado interno. Para efeito de comparação, ano passado, o Brasil ocupou 18% do mercado cinematográfico com suas produções (este ano, a porcentagem deve cair).
Como exemplo de filme que contempla inovação com diálogo com o público, ele cita Pizza, Birra y Faso, de Adrián Caetano, que venceu o Festival de Gramado anos atrás. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.