Em 22 anos de É Tudo Verdade, muitas vezes a abertura foi feita no Rio e houve até uma época em que Amir Labaki alternava Rio e São Paulo na inauguração. Nesta década, porém, é a primeira vez que a abertura do Festival Internacional de Documentários volta ao Rio. Será nesta quarta, 19, para convidados, com a exibição de Eu, Meu Pai e os Cariocas – 70 Anos de História de Música no Brasil. O longa que assinala a estreia da atriz Lucia Veríssimo na direção conta uma história que sempre calou fundo na artista – como seu pai e o tio formaram, na casa de sua avó, um grupo musical, Os Cariocas, cuja história atravessa a MPB.
Labaki diz que há muitas celebrações na bela estreia de Lucia (Veríssimo). “É um filme de amor – ao pai, à música brasileira, ao Rio de Janeiro, ao Brasil. Antecipamos nossa abertura para o Rio pelo privilégio de celebrar logo com ela.” Em São Paulo, a abertura será na quinta, 20, com Cidade de Fantasmas. O filme de Matthew Heineman celebra a imprensa que encara a brutalidade do Estado Islâmico. É fortíssimo. De 19 a 30, no Rio e em São Paulo, o É Tudo Verdade vem confirmar o que se cristalizou ao longo destes mais de 20 anos. O fortalecimento do documentário como gênero de cinema, no próprio mercado.
Sempre existiram grandes documentários – os filmes de Robert Flaherty têm cadeira cativa entre os melhores de todos os tempos. Agora mesmo, documentários importantes estão em cartaz nos cinemas – Pitanga, Martírio, Jovem aos 50. A crise pode estar péssima na economia, mas tem estimulado os documentaristas. Houve recorde de inscrições para o festival deste ano. Há, porém, o que Labaki chama de “um dos continentes submersos da história do documentário”, e é a produção não ficcional na antiga URSS. Neste ano em que se comemora o centenário da Revolução Russa (de 1917), É Tudo Verdade resgata um pouco dessa história por meio de sua retrospectiva internacional – com curadoria de Amir Labaki e do mestre em cinema Luís Felipe Labaki, seu filho e especialista em Dziga Vertov.
A retrospectiva 100: De Volta à URSS traz obras pouco conhecidas ou mesmo desconhecidas pelos cinéfilos. A programação inclui raridades de Dziga Vertov (Avante, Soviete), Alexander Dovjenko (A Batalha por Nossa Ucrânia Soviética), Artavazd Peleshian (O Início) e Marina Babak (Mais Luz!). Os dois últimos foram feitos para comemorar 50 e 70 anos da revolução. Peleshian transforma e condensa procedimentos estéticos de Dziga Vertov e Eisenstein para fazer um ensaio visual e sonoro com imagens de arquivo que discutem o significado da data. Marina usa o passado e o presente para refletir sobre erros e acertos do período.
Em sua 22ª edição, o festival soma às tradicionais competições brasileira e internacional, uma mostra competitiva latina, com 12 filmes de média e longa-metragem, todos inéditos no Brasil. No total, serão exibidos 82 títulos de 30 países; 16 serão estreias mundiais. Haverá uma retrospectiva brasileira, dedicada a Sergio Muniz, sessões especiais em homenagem a Andrea Tonacci, Jean Rouch e João Moreira Salles. Amir Labaki não vacila em afirmar que No Intenso Agora, de João, será o filme brasileiro do ano. Na Conferência Internacional do Documentário, haverá mesas específicas para debater No Intenso Agora e o centenário de Jean Rouch, com a versão restaurada de Eu, Um Negro como farol.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.