No futuro, certamente assistiremos a um filme sobre a 89ª cerimônia de entrega do “Oscar”, prêmio concedido neste domingo, dia 26, pela “Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood”. Celebrando o 50º aniversário do clássico “Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas”, ao casal protagonista Faye Dunaway e Warren Beatty foi incumbida a apresentação do principal prêmio da noite, o de “Melhor Filme do Ano”. Após a anunciada vitória do musical “La La Land – Cantando Estações”, e dos discursos de seus produtores no palco, revelou-se que fora entregue aos apresentadores o envelope errado, pois o verdadeiro ganhador era o elogiado drama “Moonlight – Sob a Luz do Luar”, do diretor Barry Jenkins. No entanto, a gafe histórica e a grata surpresa não tiraram o brilho da dinâmica e politizada cerimônia de premiação, a melhor dos recentes anos, comandada pelo sarcástico comediante Jimmy Kimmel.
Narrando em três fases distintas o traumático amadurecimento de um garoto negro vivendo na periferia de Miami, o impactante “Moonlight” também conquistou os Oscars de “Melhor Roteiro Adaptado” e “Melhor Ator Coadjuvante” para o comovente Mahershala Ali, interpretando a ambígua caracterização de um traficante de drogas e figura paterna do protagonista. Favorito dos críticos e indicado em recordistas 14 categorias, o nostálgico “La La Land” foi, contudo, o grande vencedor da noite, faturando seis Oscars: “Melhor Direção” para Damien Chazelle (o mais jovem vencedor nesta categoria), “Canção” (a melódica “City of Stars”), “Trilha Musical”, “Fotografia”, “Direção de Arte” e “Melhor Atriz” para a encantadora e talentosa Emma Stone.
O disputadíssimo Oscar de “Melhor Ator” foi entregue para Casey Affleck, por sua melancólica personificação em “Manchester à Beira-Mar”, do diretor Kenneth Lonergan, que conquistou o Oscar de “Melhor Roteiro Original” por seu depressivo drama. Assim, o apático Casey Affleck acabou derrotando o veterano Denzel Washington, que concorria por “Um Limite Entre Nós”, o teatral filme que rendeu o merecido Oscar de “Melhor Atriz Coadjuvante” para Viola Davis, consagrada pela plateia, cujo emocionado discurso em homenagem às pessoas comuns (retratadas pelo falecido dramaturgo August Wilson) tornou-se uma das grandes sensações da cerimônia deste ano.
Confirmando todas as expectativas, o Oscar de “Melhor Animação” ficou com o empolgante “Zootopia”, e o de “Melhores Efeitos Visuais” para “Mogli – O Menino Lobo”. O excelente drama de guerra “Até o Último Homem”, dirigido pelo outrora vencedor Mel Gibson, faturou os Oscars de “Melhor Montagem” e “Montagem Sonora”, categoria esta que finalmente premiou o técnico Kevin O’Connell em sua 21ª indicação.
“A Chegada”, ótima ficção científica sobre comunicação e linguagem, venceu a categoria “Melhor Som”, enquanto que o criticado “Esquadrão Suicida” ganhou como “Melhor Maquiagem e Penteado”. Oriundo da franquia “Harry Potter”, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” foi honrado com o inesperado Oscar de “Melhor Figurino”, surpreendentemente desbancando a forte concorrência. Favorito absoluto em sua categoria, o mais longo filme a ser indicado para um “Oscar” (com sete horas e 47 minutos de duração!) “O. J. – Made in America”, de Ezra Edelman, conquistou o prestigiado Oscar de “Melhor Documentário”.
A anteriormente anunciada ausência do diretor iraniano Asghar Farhadi, em boicote contra o Presidente norte-americano Donald Trump, consolidou sua vitória na categoria “Melhor Filme em Língua Estrangeira” pelo denso “O Apartamento”. Uma representante leu o seu tocante discurso, o qual ressaltava que “dividir o mundo entre nós e os inimigos cria medo, justifica guerras”, e encerrava afirmando que “cineastas criam empatia entre nós e os outros, empatia que hoje precisamos mais do que nunca”.
Questões sociais / políticas e o Presidente norte-americano foram temas recorrentes em diversos discursos no palco do “Dolby Theatre”, de Los Angeles. Várias celebridades ostentavam fitas azuis do “Sindicato de Liberdades Individuais”, e discursos literais (a “construção de muros”, proferido pelo astro mexicano Gael Garcia Bernal) ou não (“a arte não tem fronteiras”, da Presidente da Academia Cheryl Boone Isaacs) politizaram a festa máxima do Cinema mundial, que mesclou jovens astros e estrelas do passado, esfuziantemente aplaudidas de pé como Shirley MacLaine, Michael J. Fox e a consagrada Meryl Streep, celebrando sua 20ª indicação para o “Oscar”, e inimiga declarada do Presidente Donald Trump, o maior alvo de polêmicas piadas do genial Jimmy Kimmel.