Um dos balés mais conhecidos e encenados, O Quebra-Nozes, com sua temática natalina, tem espaço garantido a cada fim de ano na programação cultural paulistana. E, mais uma vez, quem brindará o público com a coreografia será a Cisne Negro Cia. de Dança. Essa será 38ª vez que o grupo apresenta a peça, criada em cima da música de Tchaikovski. A diferença será que, desta vez, não terá na coxia ou na plateia a sua criadora, Hulda Bittencort, que morreu em novembro passado, aos 87 anos. Por isso mesmo, e não poderia ser diferente, as apresentações que o grupo fará neste fim de semana, 18 e 19, no Teatro Alfa, serão em homenagem a ela e seu legado.
Diretora da Cisne Negro e filha de Hulda, Dany Bittencourt encara essa encenação como uma forma de manter vivo o pensamento de sua mãe. "Ela foi a visionária e fundadora de todo este legado, a homenagem será eterna", afirma. Por isso mesmo, a companhia fundada pela falecida bailarina há 44 anos faz questão de manter o clássico de Tchaikovski em seu repertório, espetáculo que apresenta desde 1982.
Fechar 2021, um ano difícil para todos, com uma obra para fazer sonhar e pensar em dias melhores é uma satisfação para o grupo. Segundo Dany, "não só o público espera pelo Quebra-Nozes, mas os bailarinos ficam se preparando e aguardando por esta oportunidade para dançar e viver esta obra universal clássica de Natal", que é uma obra-prima de Tchaikovski e "deve ser encenada para todas as gerações, uma criação atemporal", diz.
Em cena, estarão 60 bailarinos e, como de costume, a companhia terá dois convidados especiais – no caso, dois primeiros-bailarinos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Márcia Jaqueline e Cícero Gomes. Além deles, o ator Felipe Carvalhido também integrará o grupo, interpretando o personagem Drosselmeyer.
<b>CONVIDADOS</b>
Primeira-bailarina do Teatro Municipal do Rio, Márcia Jaqueline, 39 anos, atua também no Salzburger Landestheater, na Áustria. Para ela, estar com a Cisne Negro, companhia pela qual nutre grande respeito, "é gratificante". Além disso, conta que essa coreografia tem um significado especial para ela. "Quando eu ainda era da Escola de Danças Maria Olenewa, com 9 anos, foi um ballet em que tive a oportunidade de participar junto". Ela lembra que "a coreógrafa Dalal Achcar chamava crianças da Escola para compor o elenco e foi assim que comecei a ter um contato mais próximo com a companhia de que hoje faço parte", conta.
Apaixonado pelo Natal desde criança, Cícero Gomes, 37 anos, primeiro-bailarino do Municipal do Rio, conta que, "após começar a dançar, descobrir que havia um ballet que falava sobre o Natal, foi um verdadeiro choque de felicidade", afirma ele. E confessa que "é um sonho até hoje". Mas ele vai além, dizendo sentir um gosto de vitória, pois sempre ouviu que bailarino pequeno, baixo, não poderia dançar personagens de príncipes, que havia um estereótipo muito taxativo sobre isso, até preconceituoso mesmo. "Pois sabe que O Quebra-Nozes é o ballet que eu mais danço?", revela Cícero. "Acho que quebrei esse rótulo."
Coreografia clássica, O Quebra-Nozes exige muito dos bailarinos e é classificado por Márcia Jaqueline como um das mais difíceis. "Além da dificuldade técnica, exige muito a nossa resistência pois o pas-de-deux é muito longo e a variação também. Às vezes, no meio da coreografia, penso Ai, ainda falta tanto e eu já tô cansada", conta, aos risos. O mesmo diz Cícero Gomes, que afirma ser essa uma coreografia pesada, tanto para o homem quanto para a mulher. "Tem uma conotação muito clássica, tudo deve ser muito quadrado e executado com a maior precisão. O lado artístico vem contra tudo isso, leveza, tranquilidade, glamour, classe e aí que está a grande questão, o grande desafio: estabelecer um equilíbrio entre esses dois pontos. Mas francamente, é sensacional dançar quebra-nozes!".
<b>COREOGRAFIA</b>
Dividido em dois atos, o espetáculo retrata o sonho da menina Clara, que ganhou muitos presentes de Natal e, entre eles, um soldadinho quebra-nozes. Encantada com a noite de magia, ela adormece ao lado dos brinquedos, que ganham vida. A menina, assim, é transportada para o Reino das Neves e dos Doces.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>