No ápice da temporada do futebol europeu, Manchester City e Inter de Milão se enfrentam neste sábado, em Istambul, pela final da Liga dos Campeões. Caminhos diferentes no ano separaram as equipes até a decisão: os ingleses podem alcançar a tríplice coroa com a conquista inédita neste sábado. Já a Inter busca seu segundo título no ano após tropeços no Campeonato Italiano e tenta "salvar" a campanha do país em competições continentais.
Este é o quinto encontro entre italianos e ingleses na decisão da principal competição de clubes do mundo. No retrospecto, duas vitórias para cada lado, sendo que em todas as ocasiões o representante inglês foi o Liverpool. Em 1984 e 2005, vitória sobre Roma e Milan, respectivamente. Em 1985 e 2007, Juventus e Milan se vingaram dos Reds.
Desde 2010, um clube italiano não conquista a Liga dos Campeões. Na ocasião, a própria Inter realizou o feito, ao derrotar o Bayern de Munique na decisão. Treze anos depois, a equipe milanesa tem mais uma oportunidade de colocar a Itália no topo da Europa, em uma temporada que colocou o país no centro das disputas.
O momento da Inter coincide com uma fase positiva dos clubes italianos na Europa. Neste ano, todas as finais europeias (Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência) tinham representantes do país na decisão, mas nenhum conseguiu alcançar a glória: na Liga Europa, a Roma foi derrotada nos pênaltis pelo Sevilla, enquanto a Fiorentina sucumbiu diante do West Ham. Em meio a esse cenário, a Inter tem a missão de, além de conquistar o tetracampeonato da Liga dos Campeões, evitar uma temporada sem conquistas da Itália em nível europeu.
Apesar de não ter participado das últimas duas Copas do Mundo (2018 e 2022), o momento da Itália no esporte permite com que a Inter sonhe com o título. Em 2021, a seleção masculina conquistou a Eurocopa, por exemplo. Mas, assim como em 2010, a Inter chega como "azarão" na decisão. O próprio treinador, Simone Inzaghi, reconhece esse status da equipe.
"É normal o Manchester City ser favorito, é o melhor time do mundo e já o demonstrou. Também fizemos uma campanha fantástica. Queremos fazer história. Depois de 13 anos, estamos na final e queremos aproveitar a oportunidade. Vamos precisar de muito coração e muita mente", afirmou o técnico, em entrevista coletiva nesta semana.
A Inter sofreu com perdas ao longo do ano, até chegar à decisão. A principal, do então capitão Milan Skriniar, foi um momento de mudança para o time. No início do ano, o zagueiro se recusou a renovar o vínculo com a Inter e acertou um pré-contrato com o Paris Saint-Germain. Além disso, foi afastado da equipe para tratar uma lesão nas costas em março. Desde as oitavas de final, contra o Porto, não entra em campo.
Lautaro Martínez, camisa 10, foi o escolhido por Inzaghi para assumir a braçadeira. Na Itália desde 2018, é o grande nome de uma equipe que também conta com Dzeko, Lukaku e Brozovic. Campeão com a seleção argentina no Catar, pode levantar a taça da Liga dos Campeões após sofrer com lesões na metade da temporada.
"A sensação é semelhante à da final da Copa do Mundo. O mérito vai para o trabalho de todo o ano. O trabalho em equipe é o mais importante para atingir as metas. Agora falta a última etapa, precisamos estar prontos para esta importante fase", afirmou o atacante. Foi dos pés de Lautaro o gol que garantiu a Inter na decisão, após vencer o Milan na partida de volta das semifinais.
TRÍPLICE COROA DO MANCHESTER CITY
A Liga dos Campeões é a obsessão do Manchester City. A chegada de Pep Guardiola, após a equipe ter sido eliminada nas semifinais da competição na temporada 2015/2016, tinha como um dos objetivos permitir que o clube alçasse voos maiores na Europa. Na Inglaterra, conseguiu moldar uma equipe com a sua cara e conquistou cinco vezes o Campeonato Inglês.
Mas ainda falta a Liga dos Campeões. Em diversas oportunidades, Pep e a diretoria do clube reiteraram que estão satisfeitos com o trabalho no City. O treinador já destacou que dá mais importância para o campeonato nacional, com 38 rodadas, do que a competição europeia. Para os torcedores, no entanto, a ausência da Liga dos Campeões na sala de troféu tem um peso.
Desde 2016, o City foi eliminado uma vez nas oitavas e três vezes seguidas, entre 2018 e 2020, nas quartas de final. Em 2021, chegou à sua primeira decisão, mas foi derrotado pelo Chelsea. "Quantos clubes destruíram suas ideias por não conquistar a Liga dos Campeões? E quantos se tornaram grandes por vencerem? Eu não concordo com essa visão, mas sei que nosso trabalho será validado se ganharmos. Se não vencermos, não fará sentido (o nosso trabalho). É injusto, mas temos de aceitar", disse Guardiola.
Campeão inglês e da Copa da Inglaterra nesta temporada, o City pode igualar o feito do rival Manchester United caso conquiste a Liga dos Campeões. Em 1998/1999, o rival se tornou o primeiro clube inglês – e, até hoje, o único – a conquistar a tríplice coroa. O City chegou perto em 2018/2019, quando conquistou todos os títulos domésticos. Faltou apenas a competição europeia.
Em comparação com 2021, quando foi vice-campeão, a base segue a mesma, mas com um diferencial: Erling Haaland. Artilheiro da Liga dos Campeões nesta temporada, o norueguês é um dos fatores para explicar o sucesso do City. Decisivo no confronto das oitavas, contra o RB Leipzig, e das quartas, diante do Bayern de Munique, o centroavante está entre os cotados a conquistar a Bola de Ouro neste ano.
Por outro lado, Haaland vive uma seca de gols em jogos decisivos. Passou em branco nas duas semifinais contra o Real Madrid na Liga dos Campeões, na final da Copa da Inglaterra e na Supercopa da Inglaterra, ainda em seu primeiro mês no City. Além disso, está há cinco jogos sem ir às redes.
Outros nomes também foram decisivos na campanha: De Bruyne, Gündogan – que erguerá o troféu caso o City seja campeão -, Jack Grealish e Rúben Dias são peças fundamentais de uma equipe que se reconstruiu durante a temporada. O time chegou a ficar oito pontos atrás do Arsenal, na liderança do Campeonato Inglês, mas se recuperou nos confrontos diretos com o rival londrino (duas vitórias, por 3 a 1 e 4 a 1, na campanha).
ESQUEMAS SEMELHANTES
Ao longo da campanhas na Liga dos Campeões, Manchester City e Inter se adaptaram com esquemas táticos semelhantes. No papel, tanto Guardiola quanto Inzaghi montam suas equipes com três zagueiros, o que possibilita aos homens de frente exercer pressão sobre a saída de bola do adversário.
A tendência da partida é que o Manchester City mantenha a bola sob seus domínios a maior parte do tempo. Será um desafio para a Inter anular esse esquema, como reconheceu o próprio treinador. "Quanto mais você vê o City, mais você entende seus resultados. Eles têm técnica, bom preparo físico, um time completo. Eles jogam de forma brilhante na posse de bola e no ataque. Equipe com poucos pontos fracos", avaliou Inzaghi, em entrevista ao portal sempreinter.com.
No papel, a diferença nos planos de jogo está no meio-campo e ataque. O City tem Haaland à frente, como o único homem de referência, que é utilizado nos jogos como uma "distração" para o setor defensivo adversário. Contra o Real Madrid e Manchester United, serviu para esse propósito. A Inter tem dois homens de referência, Lautaro e Lukaku, e um meio-campo com cinco jogadores.
Na última final do City, este segundo terço do campo congestionado foi um fator para a derrota diante do Chelsea. Sem o domínio no setor, Guardiola perdeu o controle da partida desde o início ao não escalar volantes. Ao longo do ano ele relembrou o erro em algumas oportunidades e chegou a afirmar que não iria "pensar demais" novamente antes da escalação.