Variedades

Clássico natalino reúne jovens talentos

Nenhum mês denuncia tanto a sua chegada como dezembro. Se fosse feita uma relação de clichês do último mês do ano, certamente dois itens clássicos constariam no rol: a esperançosa vinheta da Rede Globo (“Hoje é o novo dia de um novo tempo que começou…”) e o timbre de Simone obrigando o ouvinte a fazer um balanço do ano (Então é Natal, e o que você fez?). Para o público paulistano, a lista pode ser completa com o balé O Quebra-Nozes. Montado pela companhia de dança Cisne Negro desde 1983, o espetáculo chega a seu 31º ano em temporada que começa hoje e vai até 21 de dezembro, no Teatro Alfa.

“É uma coreografia dançada no mundo inteiro por várias companhias”, diz a diretora de ensaios Dany Bittencourt, filha de Hulda Bittencourt, diretora artística e fundadora da companhia. “Faz parte da cultura da família: se não tem O Quebra-Nozes, não parece que é Natal.”

Uma das prova da tradição vem do próprio elenco. Convidados a interpretar o Príncipe do Açúcar e a Fada Açucarada nas quatro apresentações iniciais, Cícero Gomes e Karen Mesquita, que integram o grupo de primeiros solistas do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, já ensaiavam a coreografia para executá-la no Rio. “A gente faz todo ano”, diz Gomes. “É bom porque já viemos preparados.” Durante a segunda semana de espetáculos, os convidados são Nadia Muzyca, primeira bailarina do portenho Teatro Colón, e Luis Ortigoza, que ocupa a mesma posição no Ballet de Santiago, no Chile.

O enredo da obra é o mesmo: Clara se encanta pelo boneco quebra-nozes que ganha no Natal e, brincando com o presente, acaba dormindo e entra em um universo onírico. No entanto, alguns detalhes variam de acordo com a versão que a companhia deseja montar. O Estado teve acesso ao primeiro ensaio dos bailarinos convidados. Na ocasião, eles passaram a coreografia e faziam ajustes para se afinar à versão da Cisne Negro. “Muita coisa muda”, afirma Karen. “Quando entramos em cena lá no Rio, por exemplo, aparecemos juntos e só o mestre de cerimônia está no palco. Aqui entramos separados e os bailarinos estão no palco. No primeiro ensaio, soltaram a música e a gente nem entrou.”

Para ela, a própria maturidade dos bailarinos impede que a tradição caia na monotonia da mesmice. “A cada ano temos um outro amadurecimento, uma outra técnica. Pensamos nisso para que o trabalho se torne um pouco diferente”, diz Karen, que executa a coreografia há nove anos. Já Gomes se deixa levar pela emoção. Ele assume que, sempre que o elenco dO Quebra-Nozes é divulgado, surge um pensamento de cansaço, mas a trilha acaba renovando o gosto. “A música de Tchaikovsky é uma das melhores do mundo! Envolve muito o bailarino. Também gosto de ver as crianças na plateia, com os olhos arregalados.”

A dupla foi indicada a participar do espetáculo por Ana Botafogo, a pedido de Hulda, que confiou cegamente na sugestão. Ana tem uma relação intensa com a companhia: já dançou com o grupo e foi casada com um de seus produtores.

Segundo Dany Bittencourt, a bailarina tem presença frequente nas apresentações dO Quebra-Nozes, sempre dando seus pitacos. Neste ano, atuou oficialmente como ensaiadora ao lado de nomes como Toshie Kobayashi e Sérgio Marshall.

A temporada é marcada pela primeira parceria do grupo com a Bachiana Filarmônica Sesi-SP, sob a regência de João Carlos Martins e John Boudler, em apresentação única no domingo, às 18h. Entre os músicos, a participação de Guido SantAnna. Com apenas 9 anos, o violinista prodígio é considerado uma promessa da música erudita nacional.

Além de Guido, dois jovens talentos participam dO Quebra-Nozes. O gaúcho Gabriel Figueiredo, de 14 anos, repete a parceria que começou no ano passado com a Cisne Negro. Com apenas 4 anos de carreira, ele venceu o Youth American Grand Prix, em Nova York, no ano passado, e é bolsista da escola alemã John Cranko, em Stuttgart. Vencedor do prêmio APCA de melhor ator pelo longa Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, Ghilherme Lobo também integra o elenco.

O QUEBRA-NOZES
Teatro Alfa. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, 5693-4000. 5ª, 21 h; 6ª, 21h30; sáb., 17 h e 20 h; dom., 15 h e 18 h. R$ 50/R$ 110. Até 21/12.

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