Variedades

Claudio Botelho e Charles Möeller festejam 25 anos de parceria em musical

O primeiro trabalho conjunto aconteceu em 1990, na montagem Hello, Gershwin, com direção de Marco Nanini – ali, Claudio Botelho estrelava e Charles Möeller cuidava do cenário e do figurino. Fazia apenas um ano que se conheciam, mas já suspeitavam que o amor comum pelos espetáculos musicais da Broadway os levaria para uma carreira de sucesso. Hoje, já são 36 montagens que trazem a inconfundível marca Möeller e Botelho, e a mais recente, Kiss Me, Kate – O Beijo da Megera, em cartaz no Rio, coleciona críticas entusiasmadas.

Um reconhecimento cultivado aos poucos – no primeiro espetáculo em que assumiram o comando, As Malvadas, de 1997, o dinheiro era curto e a plateia era formada em sua maioria por amigos e convidados. Hoje, a assinatura da dupla tornou-se valiosa – em um quarto de século, eles aproveitaram o ressurgimento do musical no Brasil (agora sob a forte influência do estilo Broadway) e se firmaram como Os Reis dos Musicais, título de um apurado livro assinado por Tânia Carvalho e lançado pela Imprensa Oficial de São Paulo em 2010.

Botelho e Möeller sabem que não descobriram a pólvora – o musical é um estilo praticado no Brasil desde o início do século 19. Mas conseguiram a alquimia certa, ou seja, unir o apuro técnico e o senso profissional da Broadway com a familiaridade musical típica do brasileiro.

“Passamos a ser uma dupla de fato, assinando juntos nossas criações, em Cole Porter – Ele Nunca Disse que Me Amava, em 2000”, conta Möeller, para quem a opção pelo teatro musical foi tomada a partir de firmada a parceria com Botelho. “O que sedimentou nossa amizade foi o entusiasmo comum pelo gênero musical”, completa Botelho, que conheceu Möeller em 1989. “Eu tocava piano em uma peça dirigida por Miguel Falabella e Charles chegou para integrar o grupo. Logo, percebemos a afinidade pelo musical.”

É preciso lembrar que, na época, o gênero era praticamente ignorado e as condições, péssimas. “O som era uma tragédia, as pessoas usavam microfones amarrados, tudo chiava e apitava”, relembra Möeller. “A luz não era de musical, era uma luz de peça normal, sem o menor cuidado e incapaz de preparar o clima para a música; os cenários rangiam, demoravam minutos para serem trocados, ou seja, nada funcionava.”

O desastre continuava em cena, quando era raro encontrar um profissional que soubesse cantar, dançar e interpretar. O aprendizado, portanto, foi mútuo: ao mesmo tempo em que se alimentavam anualmente na Broadway e em Londres, onde assistiam às novidades, Möeller e Botelho participaram da formação e aprimoramento de profissionais brasileiros.

Com isso, montaram verdadeiras joias em palcos nacionais, como Company (2001), Sweet Charity (2006), A Noviça Rebelde (2008), Avenida Q (2009), Gypsy e Hair (ambos em 2010), Um Violinista no Telhado (2011) e Nine – Um Musical Felliniano (2015). Também promoveram autores nacionais, notadamente Chico Buarque, em montagens como Suburbano Coração (2002), Ópera do Malandro (2003), Os Saltimbancos Trapalhões – O Musical e Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos, ambos de 2014.

“Eles são o próprio teatro musical no Brasil”, atesta Jorge Takla, também notório encenador de grandes montagens. “A parceria deles funciona lindamente, o que reflete nos trabalhos”, observa Claudia Raia, que participou de Sweet Charity. “Nasceram um para o outro.”
Formada por espíritos antagônicos (enquanto Möeller é solar, expansivo, Botelho é mais fechado, irônico), portanto, complementares, a dupla prepara-se agora um novo desafio e que não resultará em um musical: a versão para o teatro de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, que já foi filmado de forma intensa em 1962, com Bette Davis e Joan Crawford como as irmãs rivais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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