Com menos de um ano de existência, o Monsoon, clube de Porto Alegre (RS), foi campeão invicto do Campeonato Gaúcho da Série B – equivalente à terceira divisão estadual. A campanha pode ter surpreendido a todos que acompanharam o torneio, menos a direção e o elenco, que sempre acreditaram na possibilidade de conquista desde a estreia na disputa. O time tem diretriz corporativa na administração, espera formar atletas na base, valorizar os profissionais para vender e já almeja chegar à elite gaúcha, no Gauchão, junto com Grêmio e Inter.
O presidente do Monsoon é Lucas Pires, empresário de 37 anos. Ele já trabalhou como representante de atletas do futebol e do UFC. O esporte havia ficado de lado em sua carreira, e Pires assumiu o conselho do grupo Monsoon Venture Partners, que opera fundos de investimentos e capital de risco e tem sedes em Miami, nos Estados Unidos, e também em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A ideia de voltar ao esporte, com investimento da empresa, veio durante o momento de reclusão da pandemia e foi posta em prática no segundo semestre de 2021. O investimento neste ano foi de R$ 3 milhões. Também pegou carona na onda das SAFs, a Sociedade Anônima do Futebol.
O objetivo do dirigente estava claro: "Não existe só participar. Vamos para ser campeão", definiu Pires sobre o ímpeto inicial e as metas para os torneios disputados no Rio Grande do Sul. Ele ainda garante que a Série A2 de 2023 será encarada da mesma forma. Seu percurso é longo, mas o primeiro passo foi dado de forma acertada.
O Monsoon disputa atualmente a Copa FGF (similar à Copa Paulista). Foi somente nesta competição que o clube teve a primeira derrota. Perdeu para o Guarani de Venâncio Aires por 2 a 1 na terceira rodada. O time conseguiu classificação para as oitavas de final, em que enfrentará o Farroupilha. O título é tarefa difícil, mas visto como objetivo, o que garantiria vaga na Copa do Brasil de 2023. Se isso acontecer o salto será gigante em tão curto espaço de tempo. A competição dá vaga para o torneio nacional, cuja decisão da edição deste ano está entre Corinthians e Flamengo, com premiação de R$ 80 milhões. Se der certo, o Monsoon será um desses 80 clubes do torneio que muitos poucos conhecem.
A competitividade se viu na campanha da Segundona do Rio Grande do Sul, encerrada em setembro. Nenhum adversário bateu o Monsoon, que comemora um ano de existência em outubro e fecha o primeiro ano de registro junto à Federação Gaúcha de Futebol (FGF) somente em abril.
O título foi celebrado no Parque Lami – como é conhecido o Estádio João da Silva Moreira, casa do Monsoon. O local é alugado por Roberto de Assis Moreira, irmão de Ronaldinho Gaúcho, que já empreendeu com o extinto Porto Alegre Futebol Clube. Sem perder o nível de competição, o Monsoon quer também ser um clube formador, a exemplo dos grandes nomes que saíram da capital gaúcha. "É muito difícil fazer futebol. É preciso valorizar os homens que fazem acontecer", reconhece Pires sobre a gestão que considera humanizada dos atletas.
O Monsoon conta, além do time profissional, com equipes sub-15 e sub-17. O tema da valorização dos jogadores e funcionários tem o tom do mundo corporativo na fala do presidente. Os negócios, contudo, não são deixados de lado e o trabalho de negociar atletas com a elite do esporte nacional também é meta da agremiação.
O zagueiro Lucas Coutinho, de 24 anos, é cria da base do Cruzeiro e circulou por clubes de expressão estadual. Chegou ao Monsoon para a disputa da Série B e se firmou como titular. O camisa 3 define que mistura raça e técnica em campo, mas enquanto afirma isso à reportagem, é interrompido pelo presidente Pires que comenta: "o Couto joga de terno". "Chegamos com a intenção de subir e sermos campeões. Formamos uma família e ganhamos pelo grupo", afirma o zagueiro sobre a campanha do clube no Estadual. Ele é reticente em cravar o futuro, mas diz que ficaria à disposição do clube para 2023. O time paga em dia.
FOLHA DE R$ 120 MIL
Coutinho compõe o elenco de 28 atletas do Monsoon. A folha salarial é de R$ 120 mil. Entretanto, a operação do clube não é viável sozinha, e o grupo empresarial por trás da agremiação precisa injetar verba mensalmente. "O clube ainda não é sustentável, pela qualidade que temos de garantir aos atletas, para desenvolvermos também seres humanos e homens melhores", diz Pires. O dinheiro é menor porque o time ainda não tem grande visibilidade.
O dirigente conta que, antes da criação do Monsoon, buscou contato com outros clubes já formados e que poderiam receber investimento da empresa. À época, o ex-jogador e empresário Ronaldo havia recém-formalizado a compra do Cruzeiro por R$ 400 milhões. Entretanto, Pires priorizou criar o projeto do zero. A zona sul de Porto Alegre foi o local escolhido e já exportou sucessos. Foi de onde saíram o próprio Ronaldinho Gaúcho e Raphinha, que atualmente defende o Barcelona e a seleção brasileira. A expectativa é que o clube não seja mero empreendimento, ainda que funcione como um negócio, mas compreenda o futebol como uma indústria de sonhos. Ninguém confirma qualquer investimento da família de Ronaldinho nos negócios do time, a não ser mesmo o aluguel do estádio.