Palmeirense que vai a todos os jogos do clube, dentro e fora do Brasil, o professor Rafael Rodrigues Alboccino decidiu comemorar o último Dia dos Pais no Allianz Parque. Ele nem bem havia chegado de outro jogo no Paraguai pela Copa Libertadores. Em São Paulo, pegou sua filha, Luna Emanuelle, de 8 anos, e comprou os ingressos para o estádio. A menina gostou. Onde ficou, havia pipoca, comida, refrigerante, brincadeiras com os monitores e pebolim. Se quisesse, tinha até o jogo de futebol. Os divertimentos não foram preparados só para a data festiva. Eles exemplificam uma nova tendência: estádios com serviços e atrações de entretenimento para atrair novos torcedores, fazendo com que eles passem mais tempo no estádio. E, obviamente, consumam mais.
O camarote do Corinthians abre as portas para 300 pessoas quatro horas antes do início das partidas. Por meio de uma autorização especial da PM, o espaço localizado no setor Oeste vende bebidas alcoólicas até duas horas antes do jogo. A exemplo do estádio palmeirense, o espaço oferece barbearia, videogame, mesas de sinuca, pebolim, palco para apresentação musical e DJs, open bar, churrasco e hamburgueria. Também faz parte das atrações dos camarotes a presença de ex-atletas, que circulam para serem notados.
Tem barbearia? Isso mesmo. “O futebol tem de ser visto como entretenimento que vai além dos 90 minutos de jogo”, diz Leonardo Rizzo, dono de uma empresa que possui camarotes em três estádios paulistas. “É uma tendência mundial que pude perceber em viagens por mais de 40 países”, diz.
Mauro Corrêa, da empresa de gestão esportiva Golden Goal e especialista no mercado de hospitalidade, concorda com a inovação. “Esses serviços são a forma de o futebol competir com outras opções de lazer, como cinema, teatro ou uma viagem em família”, conta.
O negócio não é unanimidade. Alguns corintianos protestaram nas redes sociais quando o clube inaugurou uma piscina de dois metros de diâmetro e 80cm de profundidade, que fica em uma área vip. É um camarote dentro do camarote que custa R$ 4 mil para dez pessoas. Na opinião dos críticos, o espaço é uma ostentação, distante do perfil dos torcedores médios.
Vale lembrar que metade do público é formado pelo segmento corporativo, ou seja, empresas que compram os assentos para negócios e relacionamento com seus próprios clientes.
Para o jogo Corinthians x Ceará, pela Copa do Brasil, na próxima quarta-feira, os ingressos para o camarote, sem acesso à área da piscina, custam de R$ 200 a R$ 390. A diferença dos valores é apenas o local em que o torcedor pode acompanhar a partida, todos oferecem os mesmos serviços extras. Como comparação, um lugar no setor Norte da Arena Corinthians, o setor mais em conta custa R$ 30. “Vivemos fase difícil no País, mas em algum momento eu acho que o torcedor deve se dar esse presente”, diz o implantodontista palmeirense Marcos Inohue.
Os camarotes também têm o desafio de superar os altos e baixos dos clubes. A taxa de ocupação dos camarotes de Corinthians é Palmeiras é de 95% enquanto a do Morumbi está na casa de 70%. A diferença está no desempenho dos times: os dois primeiros têm títulos recentes, mas o São Paulo soma sete anos sem conquistas. A média do mercado é ocupação de 50%.
Independentemente dos valores e das intempéries das equipes, os espaços atraem novos torcedores. Inoue leva os filhos Marcos e Giselle e a mulher Gislaine ao estádio do Palmeiras. O empresário corintiano Youssef Turk, brasileiro de origem libanesa, convenceu a mulher, Terylaine Turk, a ir ao estádio só por causa dos diferenciais que o espaço oferece. “Os estádios que não oferecerem algo diferente serão ultrapassados”, diz Inoue.