O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu nesta noite de quinta-feira, 30, que a meta de inflação de 2018 será de 4,5%, com margens de tolerância de 1,5 ponto porcentual (pp) para cima e para baixo. Com isso, o Banco Central deve mirar no ponto central da meta, mas pode deixar que o IPCA encerre 2018 num intervalo de 3% a 6%. Para o ano que vem, o CMN ratificou a meta definida há um ano de 4,5%, com bandas de 1,5 pp.
Em sua primeira entrevista coletiva na última terça-feira, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, não quis antecipar seu voto no CMN sobre a meta de 2018. Mas garantiu que, uma vez definida a meta que o BC deve entregar daqui a dois anos e meio, a instituição iria calibrar as condições monetárias para atingir o centro da meta, “seja ele qual for”. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado esta semana, o BC revelou que sua estimativa para o IPCA acumulado em 12 meses até junho 2018 ficará em 4,2% pelo cenário de referência e em 5,5% pelo de mercado.
Apesar de avaliarem que uma meta menor pode significar um compromisso maior da autoridade monetária em relação ao combate à inflação, analistas temiam, antes de o resultado ser divulgado, que isso se traduza em alta da Selic por mais tempo do que o previsto hoje. Significaria também um auxílio a menos para a retomada da atividade, que hoje está em recessão.
Esta é a 14ª vez que o CMN decidiu por uma meta de 4,5%. Em 2005, as bandas eram de 2,5 pp e de 2006 até este ano, recuaram para 2 pp. No ano que vem, ficará mais estreita, em 1,5 pp. Levando-se em conta o piso e o teto neste período, houve descumprimento da meta apenas no ano passado, quando o IPCA chegou a 10,67% (o limite era 6,5%).
Por conta disso, o ex-presidente do BC, Alexandre Tombini, teve de escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda para justificar o fracasso de sua tarefa. Com isso, desde que o regime de metas de inflação foi adotado no País, em 1999, houve três ocasiões em que o documento precisou ser escrito.
Também desde então, em apenas três ocasiões o IPCA ficou abaixo do centro da meta: em 3,14% em 2006; em 4,46%, em 2007 e em 4,31%, em 2009, ano da crise financeira internacional. O CMN é formado pelos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles; do Planejamento, Dyogo Oliveira, e Ilan Goldfajn.
Na entrevista de anteontem, Goldfajn avaliou que a meta de inflação do ano que vem é “ambiciosa e crível ao mesmo tempo”. Ambiciosa, de acordo com ele, porque a inflação do ano passado esteve próxima de 11%, mas crível porque as estimativas da autoridade monetária já estão próximas dos 4,5%.
Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada no dia 16, o colegiado informou que sua projeção apontava para um IPCA de 4,5% no ano que vem. Na terça-feira, o RTI atualizou o número para 4,7%. “Já estamos muito próximos do centro da meta de 2017”, disse. No Relatório de Mercado Focus da última segunda-feira, os analistas previam que a inflação de 2017 ficará em 5,50% e a de 2018, em 4,50%.
Passando um recado firme para o mercado, Goldfajn afirmou que, no regime de metas, o objetivo do BC é cumprir plenamente o alvo estabelecido. “O regime mira o ponto central da inflação”, reforçou, acrescentando que há condições de o BC entregar o centro da meta no ano que vem. Nessa mesma entrevista, o presidente do BC descartou a possibilidade de ajustar a meta de 2017, como vinha especulando o mercado financeiro.
Goldfajn avaliou que o ajuste da meta no passado foi bastante útil, mas que não via motivos para que isso ocorresse agora. Em 2003 e 2004, o governo decidiu ajustar a meta ao verificar que não iria atingir seu objetivo. No primeiro ano, a meta passou de 3,25% para 4% e a banda de tolerância aumentou de 2 para 2,5 pontos porcentuais. Já em 2004, o objetivo foi ampliado de 3,75% para 5,5% e o intervalo foi mantido em 2,5 pp.
TJLP
O CMN manteve a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) em 7,5% ao ano, porcentual que vigorará pelos próximos três meses. Esta é a segunda vez consecutiva que a taxa ficou estável. Para chegar a uma taxa, o CMN leva em conta a meta de inflação e o risco país. A taxa básica de juros (Selic) está em 14,25% ao ano desde julho de 2015.
Em março, a TJLP foi mantida nesse nível pela primeira vez. Nas cinco reuniões anteriores, a maior parte delas com o então ministro Joaquim Levy à frente da Fazenda, o CMN havia aumentado a TJLP. Depois de dois anos em 5% ao ano, a taxa foi para 5,5% em janeiro do ano passado, passou para 6% em abril, para 6,5% em julho, 7% em outubro e 7,5% em janeiro deste ano.