Mantidas as condições de isolamento social no País recomendadas pelas autoridades de saúde para se evitar a propagação do novo coronavírus, 22% das empresas industriais do Brasil só têm condições financeiras de manter as atividades em funcionamento por mais um mês e 45%, no máximo, por três meses. Os dados constam de pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), encomendada ao Instituto FSB Pesquisa.
Entre as empresas que tiveram queda de faturamento, 48% avaliam possuírem condições financeiras para manter a atividade entre um e três meses e 25% por menos de um mês. Já entre aquelas que tiveram aumento de faturamento, 23% acreditam que conseguem manter a atividade por um período entre seis meses e um ano e 26% por mais de um ano.
O levantamento aponta que 74% das empresas foram impactadas no atual cenário e 82% registraram queda no faturamento nos últimos 45 dias. Para 49% das que tiveram perda de faturamento, o recuo foi de mais de 50%. Outras 29% viram os ganhos diminuírem entre 31% e 50%.
Para enfrentar este momento e tentar atravessar a crise mantendo a atividade, muitas indústrias se beneficiaram das medidas adotadas pelo governo que permitiram acordos para a suspensão do contrato de trabalho ou redução da jornada e salário durante três meses.
As negociações para reduzir jornada e salário atingiram 39% da indústria, sendo que metade adotou a medida pelos três meses permitidos pelo governo. Outros 22% optaram pela suspensão dos contratos, sem o pagamento do salário.
"Os dados mostram que as medidas trabalhistas, que resultaram em mais de 8 milhões de acordos individuais para redução de jornada e salário e suspensão de contratos de trabalho, foram importantes para a preservação de empregos", afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
A pesquisa mostra que 66% das empresas não demitiram funcionários em razão dos impactos provocados pela pandemia. E, entre o universo dos que dispensaram empregados, 78% acreditam que essa medida será temporária, mesmo que a maioria acredite que haverá redução de receita no setor industrial como um todo em 2020.
"O governo adotou várias medidas para blindar famílias, com o auxílio emergencial de R$ 600, e as empresas, com o esforço de flexibilizar as questões trabalhistas. As empresas não gostam de demitir muito rápido, porque demitem e depois têm dificuldade para encontrar mão de obra para recontratar", afirma o gerente executivo de Economia da CNI, Renato da Fonseca.
Ele pondera, no entanto, que mesmo com a reabertura gradual de várias atividades, as empresas estão, em sua maioria, com receitas baixas, o que pode sim levar ao fechamento de muitas delas. Segundo ele, a principal dificuldade atual para os empresários é acesso ao crédito.
O levantamento mostra que sete em cada dez executivos consideram apropriadas as iniciativas adotadas pelo governo para o enfrentamento dos efeitos da pandemia. Mas, quando questionados se essas ações são suficientes, esse índice de concordância cai para 39%. E a dificuldade de acesso ao crédito é um dos obstáculos citados pelos empresários, principalmente para capital de giro. "O agente financeiro está com a certeza de que muitos vão quebrar", afirma.
"Com uma crise dessa, a solução que a gente está vendo no mundo todo, até nos Estados Unidos que pouco intervêm, é o Tesouro como garantidor", afirma Fonseca. Segundo dele, a expectativa do setor é pela aprovação do Fundo Garantidor para Investimentos (FGI) expandido, que viabilizaria uma garantia maior do Tesouro Nacional às operações de crédito neste momento.
<b>Política eficaz</b>
Os impostos foram apontados como os problemas financeiros mais significativos para a indústria (26% das respostas), seguido da folha de pagamento (23%). Assim, as medidas do governo que permitiram o adiamento ou parcelamento do pagamento de impostos nesse período de pandemia foram consideradas a política mais eficaz para 38% dos executivos entrevistados. Ainda com relação às medidas já anunciadas pelo Executivo federal, a maioria aprova, mas as considera insuficientes.
<b>Expectativas</b>
O levantamento aponta que 64% dos entrevistados esperam uma redução de receita total neste ano em comparação com 2019. Outros 23% projetam uma manutenção e apenas 12% têm expectativa de aumento. Quando a pergunta foi sobre a expectativa para receita anual de todo o setor industrial, 86% responderam que esperam por uma redução neste ano.
Com relação o tamanho do quadro de funcionários, 58% esperam manter o atual número de funcionários, 24% esperam reduzir, e 17% aumentar.
O setor também projeta, em sua maioria, para o pós-pandemia apenas a manutenção da produção nos níveis anteriores à crise. Para 46%, levará mais de seis meses após o fim do isolamento social para essa produção começar a crescer. Outros 32% acreditam nessa trajetória de crescimento após dois a três meses.
"Muitos consumidores ainda terão receio de ir às ruas, enquanto não tiver uma cura (para a covid-19). Não será uma recuperação imediata. Além disso, haverá todo um período de um custo maior, porque as empresas terão de cumprir um protocolo de segurança, sem poder trabalhar com a capacidade total. Levará de seis meses a um ano, onde teremos uma economia diferente, até ter uma recuperação", avalia Fonseca.
Ele defende a retomada da agenda das reformas, como tributária, projeto do setor elétrico, novo marco para o saneamento, para atrair novos investimentos do setor privado. "O Congresso precisa voltar nessa agenda, assim que passar este momento de medidas emergenciais."
A pesquisa da CNI foi feita com 1.017 executivos industriais de todas as regiões do Brasil entre os dias 15 e 25 de maio, com intervalo de confiança de 95%. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais.