Embora não tenha um objetivo didático, a série Contatos, que será lançada neste sábado, 30, às 16 horas, pelo Instituto Moreira Salles (IMS), é quase uma aula magna em três DVDs ministrada pelos maiores fotógrafos do século 20, entre eles Cartier-Bresson (1908-2004), Elliott Erwitt e Josef Koudelka, para citar apenas três dos nomes incluídos no projeto concebido pelo cineasta norte-americano William Klein, que acaba de completar 87 anos.
No lançamento do primeiro volume da série, serão exibidos, na sede carioca do IMS, os curtas sobre Cartier-Bresson, William Klein e Raymond Depardon, além de um documentário sobre o veterano fotógrafo mineiro Assis Horta, realizado pelo cineasta Jorge Bodanzky, que participa em seguida de um debate com o coordenador de fotografia contemporânea do IMS, Thyago Nogueira.
Nesse primeiro volume de Contatos, A Grande Tradição do Fotojornalismo, estão reunidos 12 fotógrafos que trabalharam para a agência francesa Magnum, criada em 1947 por Cartier-Bresson e Robert Capa. Eles contam suas experiências diante de uma folha de contato – a série é do começo dos anos 1990, antes da revolução digital -, justificando a edição de imagens históricas da fotografia jornalística. Além dos nomes já citados, esse volume inaugural traz ainda Robert Doisneau, Elliott Erwitt, Marc Riboud, Helmut Newton e Leonard Freed, entre outros fotógrafos.
O segundo volume, Renovação da Fotografia Contemporânea, deve sair em agosto e reúne artistas que renovaram a sintaxe fotográfica, seja por meio da superexposição pessoal, caso da norte-americana Nan Goldin (que antecedeu os selfies), do perfeccionismo técnico (Hiroshi Sugimoto, Andreas Gursky), da ambientação inusitada (Jeff Wall) ou da exploração temática do bizarro (Nobuyoshoi Araki).
Finalmente, o terceiro volume, Fotografia Conceitual, amplifica essas experiências ao destacar o trabalho de radicais como Martin Parr, dedicado ao impiedoso registro dos hábitos das classes populares. O volume traz também fotógrafos que dialogam com outras artes visuais, entre elas a pintura (Alain Fleischer) ou a arquitetura (Thomas Struth). Esse volume reúne ainda um time venerado pelos críticos além de Martin Parr (que faz exposição no Brasil este ano) e Thomas Struth: John Baldessari e Wolfgang Tillmans, entre outros. Seu lançamento está previsto para outubro.
A coleção de DVDs do IMS, lançada em 2012, já tem 26 volumes, cobrindo três linhas distintas: documentários (como Shoah, de Claude Lanzman), filmes de ficção (La Luna, de Bertolucci) e registros de entrevistas, debates e conferências promovidos pelo instituto.
Segundo o curador da programação de cinema do IMS, o crítico José Carlos Avellar, o modelo de Contatos deverá ser seguido numa série dedicada a fotógrafos brasileiros já em 2016 (Maureen Bissiliat está entre eles). O piloto é o documentário de Bodanzky sobre o veterano fotógrafo Assis Horta, mineiro de Diamantina, de 96 anos, pai de dez filhos, que guarda um acervo com mais de 100 mil chapas de vidro devidamente identificadas.
O próprio Bodanzky foi homenageado na coleção do IMS com o lançamento recente de seu Iracema, Uma Transa Amazônica (1975), feito em parceria com Orlando Senna. O filme ganhou um complemento 40 anos após sua realização. A convite do IMS, o diretor revisitou, na Amazônia, os lugares em que filmou o drama de uma jovem prostituta de 15 anos que se envolve com um caminhoneiro. “Queremos agora repetir a experiência com Geraldo Sarno, conhecido por seus documentários sobre a migração no Nordeste”, adianta Avellar.
O instituto também colaborou com a restauração de Imagens do Inconsciente (1986), documentário histórico sobre a médica psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999), pioneira na preservação dos trabalhos artísticos de doentes mentais ao criar, em 1952, o Museu das Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro.
O cinema estrangeiro não será esquecido. A coleção do IMS vai reeditar o polêmico A Tristeza e a Piedade (Le Chagrin et La Pieté, 1969), em que Marcel Ophuls denuncia o colaboracionismo francês durante a 2ª. Guerra, e vai lançar a única versão autorizada de A Viagem dos Comediantes (1975), um dos grandes filmes do cineasta grego Theo Angelopoulos (1935-2012), que nele trata das dificuldades que a Grécia, berço da democracia, teve, no passado, para derrotar seus ditadores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.