Toda quinta-feira os alunos do 5º ano do ensino fundamental da Escola Villare, em São Caetano do Sul, no ABC paulista, saem da sala para ter aula no parque. A disciplina é dada não por um professor, mas por quatro. E os estudantes aprendem conceitos de Biologia, Geografia e Artes. A matéria, chamada de Grupo de Pesquisa Interdisciplinar (GPI), parece um projeto extracurricular, mas faz parte da grade regular, com exigência de notas e frequência.
Assim como o Villare, outras escolas particulares de São Paulo estão alterando o currículo para acrescentar matérias que vão abordar mais de uma disciplina – conceito chamado “steam” (que na sigla em inglês significa Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática).
“Nós ainda temos as aulas exclusivas de cada uma das disciplinas e temos essa aula que é complementar. As áreas só têm sentido quando elas se conversam. Ninguém que vai estudar Física ou Química fica só nessas disciplinas, sem abordar a Matemática, por exemplo”, disse Ligia Berenguel, vice-diretora da escola.
Outros colégios adotaram as aulas interdisciplinares para os alunos do ensino médio. É o caso do Bandeirantes, que está modificando o currículo para integrar diferentes matérias. Os alunos do 1º ano terão, a partir de 2016, aulas conjuntas, com pelo menos dois professores, nos laboratórios de Química, Física e Biologia.
“Os alunos estarão mais autônomos, mais protagonistas e os conteúdos farão mais sentido para eles. Eles não deixarão de ser preparados para as provas mais tradicionais, como vestibulares, e ainda terão o acréscimo de um preparo de pensamento crítico, raciocínio complexo e resolução de problemas”, afirmou Cristiana Mattos de Assumpção, coordenadora de Ciências do colégio.
Segundo ela, a mudança curricular no Bandeirantes é consequência de um conceito que vem sendo aplicado há 20 anos, por meio de projetos extracurriculares e de alguns trabalhos em sala de aula. “O colégio vem investindo em projetos para adquirir o know-how de como trabalhar dessa forma, avaliar os impactos na aprendizagem e capacitar os professores para repensar seu papel como educadores e sua relação com os alunos”, disse Cristiana.
Resultado
Os coordenadores dos colégios disseram ter observado que os alunos ficam mais empolgados e curiosos com os conceitos discutidos nas aulas que abordam mais de uma matéria. “Essas novas disciplinas possibilitam abrir o pensamento, criar um ambiente investigativo e promover o empoderamento dos estudantes a partir de seu processo de aprendizagem”, afirmou Luis Fernando Massagardi, orientador pedagógico do Colégio Ofélia Fonseca.
Neste ano, a escola reestruturou a grade curricular do ensino médio, reduzindo a carga horária exclusiva de algumas disciplinas para que fossem abordadas em aulas por área. Os alunos do 2º ano passaram a ter uma nova disciplina, Ciências da Natureza, com professores de Biologia, Química e Física. Já os do 3º ano ganharam duas novas matérias: Linguagens, com um professor de Língua Portuguesa e outro de Literatura; e Política e Sociedade, com professores de História e Filosofia.
“Quando apresentamos o conteúdo por áreas, o aluno passa a ver mais sentido no que está sendo estudado. Ele vivencia um processo independente dessa ou daquela disciplina, e nesse caminho ele vai se apropriando dos conhecimentos específicos”, disse Massagardi. Ele também afirmou que as aulas com mais de um professor em sala permitem que um mesmo assunto seja abordado de formas diferentes.
Para as escolas, esse é um caminho para o ensino nos próximos anos. Mesmo nas aulas que abordam uma única disciplina, os professores têm sido incentivados e cobrados para que tentem ampliar os conceitos e, assim, mostrar a aplicação do que é ensinado. “Essa tendência de trabalhos interdisciplinares já vem sendo apontada como formato necessário para suprir as demandas da formação de um cidadão no século 21”, disse Cristiana.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.