Em uma operação digna de cinema, com mais de 500 policiais e 22 helicópteros, o governo da Colômbia capturou o maior traficante do país e um dos mais procurados do mundo, Dario Antonio Úsuga, conhecido como Otoniel, foragido há mais de uma década. A operação é considerada a mais importante contra o narcotráfico na Colômbia desde a morte de Pablo Escobar.
Otoniel, de 50 anos, foi um camponês que deixou de ser guerrilheiro da esquerda, se transformou em paramilitar de extrema direita e, por fim, se consolidou como o chefe do narcotráfico mais procurado na Colômbia e pelos Estados Unidos, que ofereciam uma recompensa de US$ 5 milhões por informações sobre seu paradeiro ou captura.
O narcotraficante era o líder do grupo de paramilitares que se autodenomina Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC), também conhecidas como Clã do Golfo, presente em quase 300 cidades do país, segundo o centro de estudos independente Indepaz. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos descreveu o Clã do Golfo como "uma das organizações transnacionais do crime organizado mais importantes" do mundo.
O governo aponta o grupo, que se financia principalmente com o narcotráfico, o garimpo ilegal e a extorsão, como um dos responsáveis pela onda de violência que assola o país, a pior desde a assinatura do acordo de paz com a guerrilha das Farc, em 2016. Esse é o principal êxito do governo conservador no combate ao crime organizado que mais exporta cocaína no mundo.
"Otoniel foi o traficante mais temido do mundo, matador de policiais e líderes sociais, além de recrutador de crianças. Este é o golpe mais duro que se desferiu no narcotráfico neste século no nosso país, comparável somente com a queda de Pablo Escobar", disse o presidente colombiano, Iván Duque, após a captura de Otoniel, no sábado à noite. Escobar foi considerado o grande barão da cocaína e morreu em uma ação da polícia colombiana e do Departamento antidrogas americano, a DEA, em 1993.
Otoniel foi capturado em uma área próxima da fronteira com o Panamá e um dos principais redutos das AGC. Para capturá-lo, a polícia colombiana antecipou um trabalho por satélite com agências dos Estados Unidos e do Reino Unido. Cerca de 500 homens, apoiados por 22 helicópteros, foram mobilizados no município de Necoclí para executar a operação, na qual morreu um policial.
O líder criminoso viajava sozinho, a pé ou em mula, e nunca dormia duas noites seguidas no mesmo lugar. Nos últimos dias da perseguição, adentrou na mata virgem da região de Urabá, de onde é originário, e se desfez de seus telefones.
Otoniel também tinha vários truques para escapar da polícia. Entre eles estava o uso de cães treinados para alertar quando algum estranho se aproximava. Segundo a imprensa colombiana, Otoniel não utilizava celulares para evitar o rastreamento. Ele se comunicava com os integrantes de sua organização enviando mensagens de voz que eram distribuídas em gravadores e pen drives ou por e-mail.
<b>VIDA NO CRIME</b>
Nascido em 15 de setembro de 1971 no município de Necoclí, estratégica região do noroeste da Colômbia, muito próxima da fronteira com o Panamá, mas também do Pacífico e do Caribe, ele ingressou aos 18 anos na extinta guerrilha Exército de Libertação Popular (EPL) com seu irmão Juan de Dios Úsuga David, o "Giovanni".
Mais tarde, se juntou às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia). Ele não fez parte do processo de paz que pôs fim a 26 anos de luta armada deste grupo rebelde e, entre 1993 e 1994, uniu-se às Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá (ACCU), uma organização paramilitar de extrema direita, criada para combater as guerrilhas e com ligações com o narcotráfico. "Não era revolucionário, era o que tinha e foi embora com eles", contou sua mãe em uma entrevista ao jornal colombiano El Tiempo em 2015.
Em 2005, o grupo se desmobilizou, largando as armas. Os irmãos então se juntaram ao chefe do narcotráfico Daniel Rendón Herrera, conhecido como "Don Mario". Quando Don Mario foi capturado em 2009, Otoniel e Giovanni ficaram no comando da organização. Otoniel se tornou o líder máximo quando seu irmão foi morto pela Polícia Nacional em 2012.
Montou um aparato criminoso com presença em quase 300 dos 1.102 municípios do país, principalmente no Pacífico, um local estratégico para o envio de cargas de drogas, segundo o centro de estudos independente Indepaz. "Tem um portfólio amplo de atividades criminosas, que incluem garimpo ilegal e a passagem de imigrantes para o Panamá", explicou à AFP o especialista em segurança Ariel Ávila. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>