O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, suspendeu nesta segunda, 22, a trégua com o Estado-Maior Central, o principal e mais poderoso grupo de dissidentes da guerrilha das Farc, em quatro das regiões mais conturbadas do país. A decisão foi uma resposta ao assassinato de quatro menores indígenas que tentaram fugir após serem recrutados à força por uma frente do grupo.
"Informa-se que a trégua que vigorava atualmente com este grupo armado nos departamentos de Meta, Caquetá, Guaviare e Putumayo está suspensa, e todas as operações ofensivas foram reativadas", escreveu o presidente, em comunicado divulgado no Twitter. Embora o cessar-fogo permaneça em outros territórios, essas quatro regiões do sul do país constituem um bastião dos guerrilheiros.
Os menores da comunidade murui haviam sido recrutados à força pela Frente Carolina Ramírez do Estado-Maior Central das Farc. O assassinato dos quatro menores foi denunciado no sábado pela Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana (Opiac). Segundo as autoridades colombianas, os jovens foram mortos na fronteira entre os departamentos de Caquetá e Amazonas.
"Foi um fato atroz que questiona a vontade de construir um país em paz. Não há justificativa para esse tipo de crime", acrescentou Petro. O presidente informou que a suspensão entraria em vigor 72 horas após seu comunicado.
Em 2021, o centro de estudos independente Indepaz calculou que o Estado-Maior Central tinha cerca de 1,7 mil combatentes. Liderado por Iván Mordisco, ele faz parte dos grupos armados ilegais, com os quais Petro quer negociar e desarmar, no âmbito de sua política de "Paz Total".
<b>Cessar-fogo</b>
Em abril, a facção dissidente afirmou que estava pronta para iniciar as negociações em maio, mas essas discussões nunca se concretizaram. Segundo Petro, a intenção de diálogo se mantém, e os guerrilheiros oficializarão em breve os nomes de seus negociadores.
O cessar-fogo foi anunciado pelo presidente Petro pouco antes da meia-noite de 31 de dezembro e abrange cinco grupos armados com os quais seu governo busca um acordo de paz: o Exército de Libertação Nacional (ELN); o Estado-Maior Central e a Segunda Marquetalia, ambos dissidências das Farc; as Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC) e os Paramilitares de Sierra Nevada.
A trégua já foi suspensa, porém, com a guerrilha do ELN, que se recusou a acabar com as hostilidades apesar das negociações de paz com o governo desde novembro; e com o cartel do Clã do Golfo, que atacou a força de segurança pública e a população civil.
"Se o cessar-fogo não for eficaz em determinados territórios para proteger a vida e a integridade da população, não faz sentido persistir nisso", insistiu Petro.
No Twitter, o governador do Departamento de Meta, Juan Guillermo Zuluaga, celebrou a decisão: "A suspensão do cessar-fogo com os dissidentes não é só pelo vil assassinato de quatro crianças, mas também pelos sequestros, extorsões e outras ações criminosas que nunca cessaram".
Em nota enviada à imprensa, o grupo Estado-Maior Central criticou duramente o governo, sem mencionar o assassinato dos menores indígenas. "O rompimento unilateral desencadeará a guerra e multiplicará os mortos, feridos e prisioneiros", diz o texto.
"Da nossa perspectiva, esse foi o governo menos sério para estabelecer negociações, a ponto de nem ter instalado os mecanismos de verificação da trégua", acrescentaram os rebeldes. O grupo pediu ao presidente para traçar uma política de paz "sem improvisos".
<b>Estratégia</b>
A estratégia de paz e segurança de Petro, o primeiro esquerdista a governar a Colômbia, é cada vez mais criticada pela oposição, que questiona a capacidade das Forças Armadas e do presidente de não cederem às pressões de grupos ilegais.
"O primeiro responsável pela escalada da violência é Petro, que sob o engano da Paz Total , deixou a Colômbia nas mãos dos terroristas", disse a senadora de direita María Fernanda Cabal.
Sem o cessar-fogo com o Estado-Maior Central, o ELN e o Clã do Golfo, restariam apenas as tréguas com a Segunda Marquetalia, outra facção de dissidentes liderada pelo ex-número dois das Farc, Iván Márquez, e as Autodefesas Conquistadoras da Serra Nevada, grupo paramilitar de Santa Marta. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>