O otimismo em relação à economia apresentado por analistas do mercado no início do ano vem se reduzindo dia após dia. Se em janeiro havia quem falasse em crescimento até superior a 4% este ano, o desempenho bem mais fraco que o esperado dos principais setores – indústria, comércio e serviços – no primeiro trimestre mudou radicalmente esse quadro. Nesta quinta-feira, 17, o mercado já trabalha com uma previsão de crescimento mais perto dos 2%.
Levantamento feito pelo Projeções Broadcast com instituições financeiras apontou que a expectativa atual dos analistas é de um crescimento de 2,3% – e com viés de baixa, já que muitos ainda não revisaram suas projeções, mas já disseram que o farão. Em fevereiro, essa expectativa era de crescimento de 3%.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o crescimento esperado no início do ano tem sido corroído pela paralisação das reformas estruturais e microeconômicas – com destaque para o fracasso da reforma previdenciária -, pelo cenário externo desafiador e pelas incertezas em relação à corrida presidencial.
“A rota positiva das reformas morreu em maio de 2017, quando veio à tona o áudio de Joesley Batista, da JBS, com o presidente Michel Temer”, disse Vale, citando as dificuldades do governo em emplacar as reformas no Congresso após as denúncias do executivo. O fim definitivo desse processo, segundo ele, ocorreu em fevereiro, quando Temer decretou intervenção federal no Rio, enterrando de vez a reforma da Previdência. “E há também outras coisas atrapalhando, como a situação externa mais difícil, com aperto monetário (alta dos juros) nos EUA e complicações geopolíticas, além das eleições no Brasil.”
No início do ano, havia mais convicção do mercado de que um candidato comprometido com as reformas da economia ganharia a eleição. Mas, com o passar do tempo, esse quadro vem ficando vez mais obscuro. E, sem as reformas, a avaliação é que o País deve acabar caminhando novamente para a recessão. Essa incerteza trava os investimentos, o que se reflete no ritmo lento de crescimento econômico.
“A leitura não é que antes a sensação era muito boa e agora piorou. A média mostra que a economia está morna. Falta animação aos empresários, aos consumidores e ao próprio mercado em relação à retomada”, avaliou a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour Chachamovitz.
O economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, acredita que o mercado de trabalho mais fraco que o esperado – o índice de desemprego até cresceu no primeiro trimestre – e as dúvidas com relação à eleição estão entre os fatores que prejudicam a retomada. Além disso, as incertezas quanto ao cenário fiscal – o País vem operando com um rombo bilionário nas contas públicas – permanecem. “A consolidação fiscal precisa estar no topo da agenda do novo presidente”, alertou.
Prévia
Na última quarta-feira, 16, um outro indicador mostrou que a economia realmente está num ritmo muito abaixo do que se projetava. Após quatro trimestres consecutivos de crescimento, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,13% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2017.
Considerado uma espécie de “prévia” do PIB, o IBC-Br serve como um parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. Mesmo com a queda do indicador no primeiro trimestre, economistas consultados pelo Projeções Broadcast ainda preveem PIB no azul no primeiro trimestre, mas bem próximo de zero – a projeção é de uma alta de 0,3%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.