Nas primeiras cenas de <i>Broker</i>, numa noite de chuva intensa, uma moça abandona um bebê numa espécie de caixa. O recém-nascido logo é recolhido. A cena – chocante – dá início a esse novo estudo do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda sobre a questão da família, disfuncional ou não.
Dispositivos como esse, que recebem bebês indesejados, são mantidos por entidades religiosas na Coreia do Sul, país onde se passa a história. Nada têm de novo. São similares modernos, equipados com câmeras para registrar a chegada de novos rejeitados, das famigeradas "rodas dos enjeitados", presentes na Idade Média em vários países europeus e também no Brasil Colônia. As crianças recolhidas eram criadas por instituições de caridade – religiosas, em geral – ou encaminhadas para adoção.
<b>MERCADORIA</b>
Num tempo em que tudo se transforma em mercadoria, essas crianças abandonadas chamam a atenção de "atravessadores" com a ideia de negociá-las com casais em busca de filhos para adoção. Para esses casais, comprar diretamente crianças com atravessadores significa simplificar o muitas vezes complicado processo de adoção.
Esta é a história por trás de Broker. Algo de fundo verídico, pois mulheres sem condições de criar filhos podem chegar ao extremo de abandoná-las para que outras as adotem. E, se existe essa demanda, para falar em termos da economia de mercado, existirão pessoas dispostas a servir como intermediárias. São prestadores de serviço, atravessadores, "brokers" ou corretores, no jargão comercial genérico para a atividade de intermediação.
Na situação mostrada pelo filme, uma dupla de traficantes leva o bebê rapidamente, antes que a mãe, Moon So-young (Ji-eun Lee), tenha tempo de se arrepender. Logo a imagem do vídeo registrando o depósito do bebê na caixa é apagado para não deixar provas. No entanto, duas policiais, Soo-jin (Bae Doona) e Lee (Lee Joo-Young), observam tudo, tentando dar flagrante nos traficantes de bebês.
Temos aí uma situação bem definida desde o início. Dois homens dispostos a fazer dinheiro, uma mãe talvez arrependida, a presença da polícia, uma criança um pouco mais velha que se junta ao grupo. Quem acha que, com esses elementos, estaremos diante de uma trama rotineira ou sem sal, não perde por esperar.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>