A economia brasileira apresentou forte retração em maio, de acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado nesta segunda-feira, 17. O indicador, que é uma espécie de "prévia do BC" para o Produto Interno Bruto (PIB), caiu 2% já livre de efeitos sazonais, revertendo alta de 0,81% que havia registrado em abril.
Influenciada principalmente pelo fim das safras de soja e milho, maiores do que inicialmente esperado, a queda forte do IBC-Br surpreendeu economistas e analistas de mercado. De acordo com as expectativas coletadas pelo Projeções Broadcast, as previsões variavam de uma queda de 1,2% até uma alta de 1% para o indicador em maio. A mediana das projeções era negativa, mas de apenas 0,1%.
"Como tivemos um desempenho forte desses grãos (grandes safras de soja e milho) nos primeiros meses do ano, ou eles precisavam repetir o comportamento em maio, ou algum outro vetor (setor) precisava substituí-lo, o que não aconteceu", disse Antonio Ricciardi, economista da GO Associados, sobre o tombo do indicador em maio.
Ao comentar o resultado do IBC-Br, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que era "esperado" diante do patamar "muito elevado" do juro real no País. Haddad se disse ainda preocupado com a situação e ironizou afirmando que a desaceleração da economia "pretendida" pelo Banco Central "chegou forte".
"A pretendida desaceleração da economia pelo Banco Central chegou forte e a gente precisa ter muita cautela com o que pode acontecer se as taxas (de juros) forem mantidas na casa de dez (pontos porcentuais). É muito pesado para a economia, está muito pesado para a economia", disse.
Também sem se ater aos dados objetivos que levaram à queda do índice, o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, atacou os juros altos "escandalosos" segundo ele, ao falar ontem do IBC-Br.
O incômodo do governo com o mau desempenho do indicador se explica. No final de maio, o Ministério da Fazenda aumentou sua projeção para o PIB deste ano, de 1,61% para 1,91%. Na ocasião, o secretário de Política Econômica (SPE) da Fazenda, Guilherme Mello, disse ao <i>Estadão/Broadcast</i>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que o resultado poderia ficar mais perto de 2,5%. A estimativa do BC para o PIB de 2023 é de alta de 2%, segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado no mês passado.
<b>Aperto</b>
Entre os economistas e analistas de mercado, o IBC-Br de maio é um importante sinalizador do que vem pela frente. Gabriel Couto, economista do Santander Brasil, disse que o recuo além do esperado reforça a visão de que os dados mais positivos de atividade que foram registrados no primeiro trimestre tendem a ficar restritos ao período.
"A tendência é de variações na vizinhança de zero. A perspectiva de um PIB estagnado no período está se consolidando cada vez mais", disse Couto, referindo-se às projeções do banco para o desempenho do PIB no segundo trimestre.
Ricciardi, da GO Associados, lembrou que foi a agricultura a grande surpresa positiva do desempenho do PIB do primeiro trimestre, uma vez que as performances mais fracas de indústria, serviços e varejo já eram esperadas. "Esses outros setores seguem em baixa, com impacto do juro alto e das condições financeiras apertadas", salientou o economista.
Na avaliação de Ricciardi, vetores favoráveis que podem impulsionar a economia, como a confirmação do corte na taxa Selic em agosto pelo BC, podem trazer impacto positivo para a atividade doméstica. Mas se de fato isso ocorrer, ressaltou ele, seus efeitos só devem ser percebidos nos últimos meses do ano, em novembro ou dezembro.
<b>Divergência</b>
Apesar do recuo em maio, em 12 meses o IBC-Br acumula alta de 3,43%, ligeiramente abaixo da variação de 3,57% dos 12 meses encerrados em abril. Segundo o BC, o indicador registrou avanço de 1,63% no acumulado do trimestre de março até maio em relação aos três meses anteriores (dezembro a fevereiro), já ajustada sazonalmente.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, afirmou que o resultado ruim de maio não altera o cenário de que a atividade econômica ainda está aquecida. "O IBC-Br tem uma dinâmica própria, é difícil de entender o que realmente puxou para baixo o dado na margem", disse. "Mas o momento para dados de atividade, com vimos nas últimas leituras de volume de serviços e produção industrial, segue relativamente positivo."
Na avaliação do economista, fatores como a tendência de queda internacional nos preços dos combustíveis, aliados à valorização do real e à materialização de cortes na Selic em agosto, podem contribuir para o cenário de atividade mais aquecida do que o inicialmente projetado para o ano. "Esse recuo do IBC-Br em maio não coloca risco para um crescimento acima de 2% da economia", afirma.
A perspectiva de desaceleração para atividade também no segundo semestre deve se manter, na avaliação do economista. "O agro deve continuar contribuindo relativamente bem, porém, com a queda nas cotações internacionais de algumas commodities agrícolas, esse impacto é moderado", disse.
As projeções da Austin para o PIB estão em revisão, devendo ficar entre 2% e 2,5%. O Santander projeta alta de 1,9%, enquanto a XP prevê avanço de 2,2% para o PIB em 2023.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>