Sob o governo de Joe Biden, os EUA anunciaram uma nova e ambiciosa meta ambiental, que exigirá uma transformação na economia do país e pode ajudar a frear o aquecimento global. Se executada, a promessa do americano de cortar pela metade as emissões domésticas de gases causadores de efeito estufa até 2030 deve fazer com que os EUA façam sua parte para limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
O efeito de uma redução nas emissões de carbono ainda nesta década por parte do segundo maior poluente do mundo, só atrás da China, teria efeito concreto nos níveis de aquecimento, mas não só. A ideia do governo Biden é provocar os demais signatários do Acordo Climático de Paris a entregar mais do que se comprometeram ao assinar o tratado, em 2015.
No acordo, elaborado durante o governo Obama, os EUA haviam declarado que iriam reduzir as emissões de 26% a 28% na comparação com os níveis de 2005. Biden dobrou a meta, prometendo uma revolução na forma como os americanos geram energia, empregos e se deslocam. "Os sinais (da mudança climática) são inconfundíveis, a ciência é inegável e o custo da inação continua aumentando", disse Biden. "Realmente não tenho escolha. Temos de fazer isso", disse Biden aos líderes internacionais.
"Quando os EUA estabelecem uma meta de redução de emissões de 50-52% em relação aos níveis de 2005 até 2030, isso não é apenas transformador para os cidadãos daquele país, mas também influencia todas as outras economias, pequenas e grandes", disse Christiana Figueres, uma das negociadoras do Acordo de Paris, em artigo publicado pela CNN.
"A verdade é que os EUA representam menos de 50% das emissões mundiais", disse Biden, ao pedir engajamento do restante do mundo. "Nenhuma nação pode resolver esta crise por conta própria", disse o americano.
Biden recolocou os EUA no Acordo Climático de Paris no mesmo dia de sua posse. O país tinha se retirado do tratado durante o governo Donald Trump, que tratava o tema com desdém e dizia que o acordo trazia desvantagens para os americanos. O compromisso anunciado ontem é o maior que os EUA já assumiram em termos de redução das emissões, apesar de ainda ser visto por ativistas como menor do que o desejado. "É o suficiente? Não, mas é o melhor que podemos fazer hoje e prova que começamos a agir", disse o enviado especial do clima de Biden, John Kerry.
Para implementar a meta, Biden precisará tirar do papel seu plano trilionário de infraestrutura, com o qual pretende ampliar a rede de tecnologia dos EUA, além de promover construções e reposicionar a indústria automobilística americana para, ao mesmo tempo, tornar a economia do país mais próxima de um sistema ambientalmente sustentável e criar empregos verdes.
"Quando falo de clima, penso em criação de empregos, oportunidade econômica. Quero construir uma infraestrutura crucial, produzindo tecnologia limpa. Converso com especialistas e vejo o potencial para um futuro mais próspero e justo", disse Biden, que enfrenta resistências no Congresso ao pacote.
Ele também anunciou que os EUA planejam dobrar até 2024 sua ajuda oficial aos países em desenvolvimento para enfrentar a mudança climática, em comparação com os níveis registrados dez anos antes. Trump bloqueou as contribuições dos EUA ao Fundo Verde para o Clima, estabelecido pelo Acordo de Paris de 2015 para ajudar as nações pobres com pouca responsabilidade pelo aquecimento.
<b>Protagonismo</b>
Os EUA buscam liderar o debate sobre questões climáticas e reorientar a economia nacional para alcançar a China, em uma nova etapa da busca por protagonismo entre as duas potências econômicas. Em discurso na segunda-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, deixou clara a preocupação americana com o fato de os chineses estarem na frente dos americanos na agenda verde.
Na semana passada, o czar do clima dos EUA, John Kerry, viajou a Xangai para se encontrar com seu homólogo chinês na primeira visita de alto nível de um funcionário do governo Biden à China. Os dois países concordaram em tomar ações concretas na década de 2020 para reduzir as emissões de carbono. China e EUA são os dois maiores poluentes do mundo.
<b>PROMESSAS</b>
Japão
Governo aumentou a meta de redução de emissões de dióxido de carbono para 46% até 2030, diante dos 26% previstos até
agora. Em 2019, o Japão era o quinto país que emitia mais CO2
no mundo, atrás de China, EUA, Índia e Rússia, de acordo com a plataforma online Global CO2 Atlas.
Reino Unido
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que será anfitrião da reunião do clima COP26, em novembro, e pretende se colocar como um líder mundial na luta contra o aquecimento global. Ontem, ele reforçou o compromisso de Londres com a redução de emissões: 78% para 2035, em comparação com os níveis de 1990. O objetivo anterior era uma redução de 68% para 2030.
União Europeia
A União Europeia confirmou uma redução de 55% de suas emissões para 2030, em comparação a 1990, após um acordo entre eurodeputados e representantes dos países da UE, na quarta-feira. O entendimento será incorporado a uma Lei de Clima para todos os membros do bloco.
China
A China, o país mais poluente do mundo, responsável por 25% das emissões mundiais dos gases de efeito estufa, não anunciou nenhuma nova meta. Mas, no ano passado, prometeu cooperar com os EUA e com o restante do mundo na questão. Em 2016, a China se comprometeu a reduzir as emissões de carbono em 60% e 65% até 2030. O país se encontra a caminho de bater a meta.
Rússia
O presidente Vladimir Putin
assegurou que a Rússia, o quarto maior emissor do mundo,
manterá seus compromissos de reduzir em 30%, em comparação com suas emissões de 1990, uma meta classificada como "consideravelmente insuficiente" pelo grupo Climate Action Tracker (CAT).
Índia
Também não houve novos compromissos da Índia, que já havia prometido reduzir as emissões de carbono em 33% e 35% até 2030, em relação a 2005.
Coreia do Sul
Governo sul-coreano disse que deixará de financiar centrais
elétricas de carvão no exterior. A Coreia do Sul também apresentou o compromisso de alcançar emissões zero até 2050.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>