Em uma tentativa de aproximação com o eleitorado evangélico, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) postou nesta segunda, 21, um vídeo em suas redes sociais no qual exalta os valores cristãos enquanto segura a Bíblia em uma mão e a Constituição na outra. "O Brasil é uma República laica, mas a Bíblia e a Constituição não são livros conflitantes", disse o presidenciável pedetista. A publicação de Ciro foi atacada por pastores aliados do presidente Jair Bolsonaro e deixa explícita a briga pelos votos do segmento religioso entre os pré-candidatos ao Planalto.
Na mensagem de pouco mais de 2 minutos, Ciro disse que o Brasil "se formou no berço do cristianismo". Aliado e conselheiro de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, postou uma resposta rápida nas redes sociais atacando o ex-ministro. "Começou a temporada de mentira, safadeza e cinismo na política", afirmou o líder religioso. Em seguida, Malafaia disse que o PDT apoia o aborto e a "ideologia de gênero".
A gravação de Ciro ocorreu após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrar na semana passada no Rio de Janeiro com Manoel Ferreira, bispo primaz da Assembleia de Deus, uma das maiores igrejas do País. Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, o eleitorado evangélico está dividido entre o atual e o ex-presidente: 35% das intenções de voto para Lula e 34% Bolsonaro.
Estudioso do tema, o cientista político Vinicius do Valle, autor do livro Entre a religião e o lulismo, avalia que Ciro terá muita dificuldade para se aproximar desse eleitorado. "Ele não tem qualquer relação com o movimento evangélico. Soa artificial, mas é uma primeira tentativa de aproximação", afirmou. Valle ressaltou ainda que Bolsonaro está fechado com os principais líderes evangélicos brasileiros, mas Lula conta com um apoio enraizado e crescente na base desse segmento. "Esse é o momento mais frágil de Bolsonaro entre os evangélicos. Não há um domínio absoluto da alta cúpula das igrejas sobre os fiéis."
Em 2010, os evangélicos representavam 22% da população do País, segundo a última edição do Censo, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Ciro nunca foi ligado à igreja e alguns líderes evangélicos estão se descolando da imagem de Bolsonaro. Enquanto isso, Lula tem muito apoio nas classes D e E. Está mais forte. Existem 11 mil igrejas na capital (paulista). Quando você anda nos bairros mais pobres vê várias na mesma rua", afirmou o pastor da Igreja Evangélica Poderoso Deus, Luciano Luna, que também é coordenador de assuntos religiosos do PSDB paulistano.
Ao mesmo tempo que luta para ser o candidato do PSDB à Presidência, o governador João Doria tenta também quebrar a polarização entre os fiéis. O tucano vai fazer uma série de agendas nas igrejas quando avançar a vacinação, disse Luna. "Quando era prefeito, Doria virou amigo dos grandes líderes das igrejas, que estão em sua maioria na capital. Fizemos um culto com 300 pastores dentro da Prefeitura e levamos ele em todas as igrejas."
Presbítero da Assembleia de Deus e filiado ao Podemos, o pastor Geraldo Malta acredita que 90% do segmento evangélico permanecerá com Bolsonaro. "O (bispo) Manuel Ferreira recebeu o ex-presidente por cortesia, já que eles são amigos e foram deputados juntos. É muito difícil evangélico votar na esquerda", afirmou.
O presidente mantém um discurso sob medida para esse público religioso. Foi contra o fechamento das igrejas na pandemia e mantém a promessa de indicar para o Supremo Tribunal Federal (STF) um ministro "terrivelmente evangélico" após a aposentadoria de Marco Aurélio Mello.
Além do alinhamento com as pautas religiosas, o governo Bolsonaro tem evangélicos em postos-chave: o Ministério da Educação é comandado pelo pastor presbiteriano Milton Ribeiro. Damares Alves, pastora da Igreja Batista, é a titular do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Cotado para o STF, André Mendonça, ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União, é pastor presbiteriano.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>