Em dia de leitura frustrante sobre a economia chinesa – a que setores relevantes da B3, como mineração e siderurgia, têm exposição -, o Ibovespa aprofundou correção que havia prevalecido na semana anterior, quando acumulou perda de 1,32% apesar do exterior, na ocasião, positivo. Hoje, com aversão a risco também lá fora, o índice de referência da bolsa brasileira fechou em baixa de 1,66%, a 119.180,03 pontos, atingindo na mínima 118.683,65 pontos, menor nível intradia desde 5 de maio (117.724,64), saindo de máxima, na abertura, aos 121.191,45 pontos. O giro financeiro foi de R$ 38,6 bilhões e, no mês, o Ibovespa cede 2,15%, limitando os ganhos do ano a apenas 0,14%.
Foi o primeiro fechamento abaixo dos 120 mil pontos para o Ibovespa desde 12 de maio, então aos 119.710,03 pontos, e o pior nível de encerramento desde 4 de maio (117.712,00 pontos), com o mercado se preparando para o vencimento, nesta quarta-feira, de contratos futuros sobre o índice.
Considerado um suporte importante, a linha de 120 mil pontos havia sido defendida com sucesso mesmo nos piores momentos das três sessões anteriores, quando prevalecia a percepção sobre o "risco Brasil", associado especialmente à gestão fiscal, em meio à formatação de novo programa social, de maior alcance, e a dúvidas sobre a versão final da reforma do IR, cuja votação na Câmara foi adiada para esta semana. O pedido do presidente Bolsonaro por impeachment dos ministros Barroso e Moraes, do STF, é acompanhado também com atenção pelo mercado, em meio à turbulenta relação entre Executivo e Judiciário.
"Não duvidaria de uma correção até os 117 mil pontos. Hoje, Vale (ON +0,46%) acabou ajudando à tarde, virando do negativo para o positivo, o que contribuiu um pouco para segurar o índice, muito pressionado por dados chineses bem abaixo do consenso, especialmente a produção industrial. Além dos dados chineses, a Covid-19 volta a preocupar por lá, e também nos Estados Unidos, com tensão geopolítica emergindo após a retirada americana do Afeganistão", diz Rodrigo Friedrich, chefe de renda variável da Renova Invest, escritório ligado ao BTG Pactual.
No exterior, "os mercados de ações têm apresentado um bom desempenho nas últimas semanas e a retração desta segunda-feira provavelmente tem muito a ver com isso", observa em nota Craig Erlam, analista de mercado sênior da OANDA na Europa. "Houve alguns números econômicos ruins, começando com a leitura do índice de sentimento do consumidor (nos EUA), da Universidade de Michigan, na sexta-feira, quando o movimento corretivo começou. Mas o mercado estava preparado para alguma realização de lucro e os investidores provavelmente estão aproveitando a oportunidade", acrescenta o analista, destacando também os dados chineses, que "vão alimentar a incerteza de curto prazo no país".
Em Nova York, Dow Jones e S&P 500 se firmaram em alta à tarde, e voltaram a renovar máximas históricas de fechamento, descolados da cautela externa. O crescimento econômico da China vai desacelerar este ano devido às enchentes do verão local e às medidas de restrições para conter o coronavírus, afirmou o porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas do país, Fu Linghui, após uma série de dados que apontaram para esfriamento da atividade.
Assim, nesta segunda-feira na B3, o desempenho das ações de siderurgia (Usiminas PNA -5,30%, Gerdau PN -3,13%, CSN ON -2,72%) refletiu evolução abaixo do esperado para a produção industrial na segunda maior economia do mundo, com desaceleração do setor de construção. Com o Brent em queda, negociado abaixo de US$ 70 por barril, Petrobras ON e PN fecharam o dia respectivamente em baixa de 1,91% e 2,42%. Dia negativo também para outro segmento de peso no Ibovespa, bancos, com perdas de até 1,14% (Itaú PN) na sessão. Na ponta negativa do índice, CVC cedeu 8,56%, à frente de Embraer (-6,45%). No lado oposto, Qualicorp subiu 3,85%, CPFL, 2,04%, e Suzano, 1,58%.