“Grinta e cuore” – coragem e coração, em português. Essas duas palavras – pode-se acrescentar também ansiedade – definem bem o sentimento que se passa em uma cidade apaixonada por futebol, que pode ver o seu time ser campeão nacional novamente depois de uma espera de 28 anos. Assim está Nápoles, a bela e “quente” localidade ao sul da Itália, na reta final do Campeonato Italiano. O Napoli – cabeça a cabeça com a grande rival do norte, a Juventus – aposta todas as suas fichas nas quatro últimas rodadas para conquistar o título que não vem desde os tempos de Diego Maradona e Careca.
No domingo passado, o gol salvador do zagueiro senegalês Koulibaly justamente contra a Juventus, em Turim, aos 44 minutos do segundo tempo, recolocou o Napoli na briga direta pelo título. Deste domingo contra a Fiorentina, em Florença, até a 38.ª e última rodada, em 20 de maio, contra o Crotone, em Nápoles, serão quatro decisões. Pela glória ou mesmo por mais um ano na espera, o napolitano sabe que um projeto a longo prazo está em andamento para devolver a alegria a todos na cidade.
Fundado em 1904, o Napoli teve resultados medianos na Itália por décadas – ganhou apenas duas edições da Copa da Itália – e só foi aparecer no cenário internacional 80 anos depois, quando um franzino meia argentino foi contratado junto ao Barcelona. Maradona chegou em Nápoles e começou um reinado que durou sete temporadas e rendeu dois títulos nacionais (em 1987 e 1990) e um da Copa da Uefa, em 1989. Com Careca, o amigo brasileiro a quem chama até hoje de Antônio, fez uma dupla infernal para os adversários.
Depois desta fase de glórias, veio a crise financeira. Na década de 1990, o Napoli passou por momentos conturbados, o clube chegou a ser rebaixado e voltou à Série A mais de uma vez. Em agosto de 2004, com uma dívida gigantesca, a equipe foi à falência e deixou de existir. Foi aí que o tal projeto a longo prazo começou.
Graças aos esforços do renomado produtor cinematográfico Aurelio de Laurentiis, um napolitano apaixonado por futebol que não queria deixar a cidade sem um time, o Napoli ressurgiu. Ele pagou 30 milhões de euros (aproximadamente R$ 115 milhões, na cotação atual) pelo espólio, refundou o clube com um novo nome (Napoli Soccer, no lugar do tradicional Società Sportiva Calcio Napoli, recuperado mais tarde) e teve de recomeçar na Serie C.
A sua promessa era de recolocar o Napoli na Série A em até cinco anos e a cumpriu em três. Na elite, De Laurentiis pôde começar a investir mais no elenco e contratou em 2007 um jogador que hoje é o símbolo da reconstrução do time: Marek Hamsik. O pouco badalado meia eslovaco já quebrou dois dos mais importantes recordes do clube. É o maior artilheiro, com 119 gols – ultrapassou Maradona, que fez 115, nesta temporada -, e o que mais vestiu a camisa na história (497 partidas).
Nestes 11 anos, Hamsik esteve em campo com vários jogadores que De Laurentiis apostou e teve sucesso. São os casos, por exemplo, dos centroavantes Edinson Cavani (hoje no Paris Saint-Germain) e Gonzalo Higuaín (na Juventus). Com eles, o Napoli ganhou duas Copas da Itália e uma Supercopa Italiana e voltou a jogar competições europeias com frequência, dando trabalho para clubes tradicionais como Chelsea, Bayern de Munique, Manchester City e Real Madrid.
INOVAÇÃO – Para comandar em campo o seu projeto no Napoli, De Laurentiis sempre apostou em técnicos com ideias inovadoras e deu tempo de trabalho a eles. Foi assim com Walter Mazzarri (por quatro anos), com o espanhol Rafa Benítez (dois anos) e agora com Maurizio Sarri. Este napolitano de 59 anos, sempre agitado no banco de reservas, começou a carreira justamente há 28 anos e passou por 17 equipes até voltar a Nápoles em 2015.
Desde então, com um time rápido e bom toque de bola, Sarri fez o Napoli ser bem visto e muito elogiado no mundo do futebol. Com uma defesa experiente com os espanhóis Pepe Reina e Albiol, um meio de campo versátil com os brasileiros Jorginho e Alan e um ataque rápido e matador com o italiano Insigne e o belga Mertens, muitas vitórias vieram e agora o tão sonhado e desejado título nacional está perto.
“O Napoli tem um modelo de jogo que te permite encarar qualquer time. Eu sou fã do Sarri principalmente porque essa retomada tem a ver com a chegada do novo presidente, tem a ver com uma série de coisas, uma reconstrução depois da gente ter decretado falência, ter caído. Pro napolitano é um motivo de orgulho. Teve Maradona, teve Careca… Não tem a qualidade dos jogadores do passado, mas tem um jeito de jogar te permite sonhar novamente. É o que deixa o napolitano orgulhoso”, afirmou o ex-atacante Caio Ribeiro, hoje comentarista da Globo, que jogou em Nápoles na década de 1990 e se diz um torcedor fanático do time.