O mês de maio começou com mau agouro nos mercados globais, arrastando o Ibovespa de volta aos patamares de janeiro e minguando a alta do índice no ano. O cenário de elevação de juros nos Estados Unidos e aqui, na quarta-feira, que já prometiam deixar o mercado cauteloso nesta semana, se somou a dados piores que o esperado da indústria nos Estados Unidos, na Europa e, principalmente, na China, consolidando o ambiente de aversão a risco.
Com receio de que a atividade global já cambaleante seja ainda mais prejudicada pelo ambiente de aperto monetário e pelos novos <i>lockdowns</i> na China, os investidores retiraram recursos de ativos de risco e enxugaram investimentos em emergentes como o Brasil. Com isso, o Ibovespa encerrou o dia em queda de 1,15%, aos 106.638,64 pontos, nível não visto desde janeiro.
Na mínima do dia, chegou a tocar os 105.218,19 pontos, patamar no qual se manteve por boa parte da tarde. Já no fim do pregão, contudo, uma melhora dos índices em Nova York, que encerraram o dia positivos, levou a referência da Bolsa de volta aos 106 mil pontos.
"Hoje foi um resultado de um mix de coisas. Inflação altíssima no mundo, inclusive nos EUA, principal economia do mundo, e o ruído de que pode haver recessão com a retirada de estímulos à economia. Somado a isso tem a guerra, que gera impacto muito forte para a inflação mundial, principalmente energia. E para piorar, a China fechada por conta do covid. Foi a cereja do bolo", aponta Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.
A derrocada desta segunda-feira, aliada à sucessão de baixas das últimas semanas, minguou os ganhos tidos neste ano pelo Ibovespa. Em 2022, o índice acumula alta magra de 1,73%. Ante o cenário de desaceleração chinesa, os ativos ligados a commodities entraram com força no vermelho nesta segunda-feira, com uma perspectiva que não só a oferta global de manufaturados vai ser negativamente afetada, com uma nova rodada de disfunções na cadeia de suprimentos, mas também a demanda por commodities, o que impacta diretamente o Brasil.
"Os últimos PMIs (índice de gerentes de compras da indústria) sugerem que a atividade teve um início mais fraco no segundo trimestre, à medida que os <i>lockdowns</i> na China levaram a uma forte queda na atividade lá. E os componentes que olham para o futuro – incluindo novos pedidos e novos pedidos de exportação – sugerem que a atividade vá enfraquecer mais", aponta a consultoria britânica Capital Economics em relatório.
Os ativos ligados a commodities metálicas sofreram, com Vale em queda de 0,44% e Gerdau chegando a recuar 2,55% (PN). Além disso, nem mesmo o barril de petróleo acima dos US$ 100 foi suficiente para segurar as ações das petroleiras, com PetroRio figurando entre as maiores quedas da bolsa (-5,81%) e Petrobras terminando o dia em queda de 1,79% (ON) e 0,99% (PN). Somado à alta inflação interna e juros altos, varejo e techs também sofreram, além dos bancos, com a B3 capitaneando as perdas, com queda de 3,7%.
"Estamos vendo uma continuidade do que aconteceu na sexta-feira no fim do dia, setores mais cíclicos, tanto domésticos quanto globais, liderando a queda na bolsa. Isso é explicado pelo receio dos mercados por uma aceleração de juros nos Estados Unidos, um ciclo mais longo e talvez até mais acentuado nas próximas reuniões", aponta Luiz Adriano Martinez, administrador de portfólio da Kilima Asset.
Na próxima reunião de política monetária americana, na quarta-feira, o mercado espera que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) suba os juros em 0,50 pontos, mas acredita que a atual conjuntura levará o banco central americano a deixar a porta aberta para altas mais agressivas.
Para Martinez, o comportamento do índice brasileiro em maio será ditado por dois fatores, sobretudo: o quão agressivo o Fed se propuser a ser e os sinais vindos da economia chinesa. "A maneira como a China está tratando a covid está prejudicando bastante a economia corrente. O que precisa ser definido é se essa piora é só restrita ao lockdown. Se num segundo momento, quando as medidas deixarem de ser implementadas, será que a economia volta com a mesma força de anteriormente?", questiona.