O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, ameaçou nesta quinta-feira, 11, cortar o fornecimento de gás e mercadorias através do país para a Europa se a UE impuser mais sanções a seu regime por causa da crise de imigrantes na fronteira com a Polônia.
A UE importa 40% do gás que consome dos russos. Deste volume, 20% do combustível passa por Belarus, por meio de dois gasodutos que atravessam o país.
Lukashenko fez a ameaça em resposta a um anúncio de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, na quarta-feira, 10, de que o bloco ampliaria sanções ao regime de Belarus, acusando Minsk de um jogo de poder geopolítico cínico ao encaminhar migrantes para as fronteiras da UE em uma tentativa de desestabilizar o bloco.
Na quinta-feira, Lukashenko advertiu que Minsk responderia a quaisquer sanções inaceitáveis. "Estamos aquecendo a Europa e eles estão ameaçando fechar a fronteira", disse ele, de acordo com a agência de notícias estatal Belta. "E se cortarmos o gás para eles? Recomendo que os líderes da Polônia, Lituânia e outras pessoas sem cabeça pensem antes de falar. Não devemos parar de defender nossa soberania e independência."
<b>RÚSSIA, BELARUS E O GÁS DA UE</b>
Os preços do gás e dos combustíveis na Europa dispararam este ano em meio a preocupações com a baixa oferta antes do inverno. A disponibilidade global ficou mais restrita à medida que as economias se recuperaram da pandemia de covid-19, enquanto os envios através de gasodutos da Rússia para a Europa Ocidental foram menores do que o normal, em meio à pressão russa pela construção de um gasoduto no Mar Báltico. A crise dos refugiados em Belarus se insere neste contexto já que Lukashenko é um velho aliado de Putin e Moscou mantém forte influência sobre seu regime.
Thierry Bros, ex-consultor de petróleo e gás do Ministério da Economia da França e professor da Sciences Po em Paris, disse ao Financial Times que a Rússia e a Gazprom irão determinar se Lukashenko cumprirá sua ameaça.
"Eles controlam o trânsito por Belarus, e se Lukashenko tentar cortar o abastecimento, eles têm uma influência significativa sobre seu regime e a opção de redirecionar o abastecimento de gás", disse ele. "A questão chave é se Vladimir Putin apoia Belarus nesta ameaça."
James Waddell da Energy Aspects, uma consultoria, disse ao britânico The Guardian que a ameaça de Lukashenko não parecia crível: "Seria muito difícil para o Kremlin não estar politicamente vinculado a qualquer crise no trânsito de gás em Belarus, e isso provocaria uma resposta da UE."
A ameaça de Lukashenko ocorre em meio à crescente preocupação internacional com a situação na fronteira entre o país e a Polônia, onde milhares de migrantes se reuniram nos últimos dias. Muitos chegaram à Belarus de países como Iraque, Síria e Iêmen, e autoridades europeias dizem que o aumento está sendo orquestrado por Minsk em um esforço para desestabilizar a UE.
Autoridades polonesas disseram na quinta-feira que várias centenas de migrantes tentaram forçar sua passagem pela fronteira na área de Bialowieza no dia anterior.
Questionado sobre relatos de que a Polônia estava empurrando os migrantes de volta para a fronteira, um porta-voz da comissão europeia disse que os governos deveriam agir de acordo com os "direitos fundamentais" e que Bruxelas estava "estudando opções humanitárias e o retorno seguro os seus países de origem".
A situação desta vez é diferente de outras crises migratórias. Em 2015, quando milhões de migrantes e solicitantes de asilo acudiram às fronteiras da Europa, quase despedaçando a União Europeia, muitos países-membros ofereceram asilo aos refugiados; outros, como Polônia e Hungria, fecharam suas fronteiras.
Seis anos depois, o atual impasse na fronteira entre Polônia e Belarus ecoa aquela crise, mas desta vez as autoridades europeias insistem que os países-membros estão unidos em relação à defesa das fronteiras da Europa e que a imigração descontrolada acabou.
O que é diferente desta vez, afirmam os europeus, é que esta crise é inteiramente fabricada pelo ditador belarusso, Aleksandr Lukashenko, como resposta a sanções que a UE impôs ao seu país em face à eleição fraudulenta e a violenta repressão sobre a dissidência doméstica.
"Essa questão fronteiriça entre Polônia e Belarus não é um tema migratório, é parte de uma agressão de Lukashenko contra Polônia, Lituânia e Letônia, que tem como objetivo desestabilizar a UE", afirmou Ylva Johansson, comissária europeia para assuntos internos.
A crise começou no fim de agosto, quando crescentes grupos de migrantes, em sua maioria do Oriente Médio, começaram a aparecer em massa nas fronteiras de Polônia, Lituânia e Letônia, conduzidos por Belarus. Esse movimento aumentou muito atualmente, com pelo menos 4 mil homens, mulheres e crianças retidos nas regiões fronteiriças entre Belarus e seus vizinhos, enfrentando frio congelante, sem abrigos nem banheiros apropriados.
Mas Polônia e Lituânia declararam estado de emergência e fortificaram suas fronteiras, enquanto forças belarussas têm ajudado, em alguns casos, os migrantes a atravessar ilegalmente. As regiões fronteiriças foram fechadas para jornalistas e prestadores de ajuda humanitária, mas vídeos e fotos desconcertantes, de migrantes tentando cortar e arrancar barreiras de arame farpado, têm circulado, com frequência divulgados pelo próprio governo belarusso. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)