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Com estratégia arriscada, Bellucci evitou suspensão provisória e punição maior

Uma arriscada estratégia de defesa permitiu a Thomaz Bellucci evitar o tribunal de doping da Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês) e escapar de uma suspensão de dois a quatro anos. O resultado positivo, na avaliação do seu advogado, passou pela decisão de não aceitar uma suspensão provisória, praxe nos casos desse tipo na modalidade. Como consequência, levou gancho de só cinco meses.

Se tivesse aceitado a suspensão, Bellucci teria o caso de doping divulgado mundialmente ainda em setembro – seriam longos três meses de desgaste entre a denúncia e a decisão final da ITF, anunciada no dia 31 de dezembro. Por outro lado, teria o benefício de ter uma eventual punição com chances de se tornar retroativa à data da assinatura do documento de aceitação.

Como isso não aconteceu, ele corria o risco de ter o gancho contando a partir da data do anúncio oficial, no último dia do ano. “Foi uma estratégia nossa, definida pelo cliente, claro. Decidimos por não aceitar a suspensão provisória porque tínhamos muita certeza na absolvição do Bellucci”, disse o advogado Pedro Fida, em entrevista ao Estado.

A decisão não resultou em absolvição. Mas, diante do risco de suspensão de até quatro anos, a sanção de cinco meses surpreendeu, principalmente por contar do dia 1º de setembro, antes mesmo da data da denúncia (dia 18 do mesmo mês). Bellucci poderá voltar a jogar novamente em 1º de fevereiro.

O resultado da estratégia foi garantido pelo próprio tenista ao afirmar que sua imagem pouco foi atingida pelo doping. “Tivemos primeiro contato com patrocinadores e eles entenderam. Não acredito que será uma mancha na minha carreira. São dez anos entre os melhores do mundo. Tenho a consciência tranquila que fiz todo possível para manter minha reputação limpa”, afirma o atleta.

O que também surpreendeu no caso foi o tempo decorrido de três meses, entre a denúncia e a decisão final. Segundo o advogado de Bellucci, a demora se deveu à busca de muitas informações por parte da ITF. A entidade checou todas as análises realizadas por iniciativa da equipe do brasileiro, que encomendou estudos específicos para provar sua inocência.

Em sua defesa, Bellucci alegou que o doping pelo diurético hidroclorotiazida – proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada) por mascarar outras substâncias – foi fruto de contaminação cruzada nos suplementos vitamínicos que consumia por indicação de especialistas. Os suplementos eram manipulados por duas farmácias. Umas delas era a Body Lab Farmácia de Manipulação Ltda, do Rio de Janeiro, onde ele treinava.

Bellucci encaminhou dois frascos com os suplementos fabricados na farmácia, um de junho de 2017, ainda aberto, e outro de agosto do mesmo ano, ainda lacrado, para análise privada. Segundo a defesa, nos dois foi constatada a presença de hidroclorotiazida, apesar de a receita médica não prescrever a substância. Testes encomendados pela ITF atestaram estes resultados.

O tenista ainda mandou amostras do seu cabelo para exames com a intenção de comprovar que o diurético não mascarou nenhuma outra substância dopante, caso de esteroides. Estes testes, segundo relatório da ITF ao qual o Estado teve acesso, foram realizados pelo Korva Labs, prestigiado laboratório localizado em Los Angeles, que atende ATP, NBA, IAAF e UCI, entre outras entidades e competições. Todos os exames foram refeitos pela ITF, que repreendeu Bellucci pela iniciativa de fazer exames em laboratório particupar, ao invés de enviar as amostras diretamente pela entidade.

A federação reprovou ainda a abertura do frasco que ainda estava selado. E também criticou o brasileiro por não ter anunciado que estava tomando suplemento, o que é praxe em formulários entregues aos tenistas antes do início dos torneios. “A ITF está muito preocupada com esta omissão”, diz o relatório, que registra ainda o pedido de desculpas do tenista pela falta de informação.

Apesar disso, a entidade constatou a falta de intenção do brasileiro em obter benefícios com a ingestão do suplemento contaminado. O tenista sofre com problema crônico de perda de líquido durante as partidas. O diurético, portanto, tenderia a piorar esta sua limitação física. Pesou a favor do brasileiro também a atitude de colaboração na apuração do caso.

VIAGEM – Diante da investigação, Bellucci se afastou das competições por precaução e adiou os planos de morar nos Estados Unidos, como revelou ao Estado no mês passado. Sua ideia inicial era viajar antes de setembro. Com a denúncia, decidiu viajar somente nesta sexta, onde retomará os treinos visando seu retorno às quadras no próximo mês.
(colaboraram Paulo Fávero e Marcio Dolzan

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