Estadão

Com foco em precatórios, Ibovespa sobe 1,29%, a 110.249,73 pontos

O Ibovespa teve dia de recuperação técnica após encadear cinco perdas que o colocaram, ontem, no menor nível de fechamento desde novembro. Nesta terça-feira, 21, sinal de solução para o impasse sobre precatórios e, consequentemente, para o Orçamento de 2022 contribuiu para reforçar o ânimo dos investidores ainda no início da tarde, levando então o Ibovespa às máximas e o dólar às mínimas da sessão. Ao final, o índice de referência da B3 mostrava ganho de 1,29%, aos 110.249,73 pontos, entre mínima de 108.859,22, da abertura, e máxima de 110.923,17 pontos, com giro financeiro a R$ 33,4 bilhões nesta terça-feira. No mês, o Ibovespa cede 7,18%, limitando perda a 1,07% na semana – no ano, cai 7,37%.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que a "solução" acordada nesta terça-feira para o pagamento de precatórios em 2022 "não é calote". Depois de uma reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, Pacheco anunciou que enviará ao Congresso proposta de retirar do teto de gastos a maior parte dos R$ 89,1 bilhões devidos pelo governo em dívidas judiciais e que deveriam ser pagos no ano que vem.

A ideia é corrigir o montante pago com precatórios em 2016, ano em que o teto de gastos foi instituído, e travar o pagamento das despesas nesse valor, que seria de cerca de R$ 39 bilhões a R$ 40 bilhões. Com isso, cerca de R$ 50 bilhões do total previsto para 2022 ficaria "alheio ao limite do teto", e poderia ser transferido para 2023.

"A declaração sobre precatórios agradou por mostrar alguma unidade. Talvez não haja mais espaço para agenda de reformas este ano, mas para contenção de danos, sim", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, observando também que a recuperação de hoje teve impulso do exterior, com Nova York vindo ontem de seu pior dia desde maio. Ao final, após oscilação, NY fechou sem direção única.

Assim, tendo caído mais no mês, o Ibovespa busca diminuir a distância que se alargou ao longo de setembro, até aqui também negativo em Nova York e em outros grandes mercados da Europa e da Ásia, abalados por incertezas sobre a economia chinesa, em especial os efeitos de eventual insolvência da Evergrande sobre o sistema financeiro do país, bem como por alguns sinais, mais fracos, da economia americana.

Em outro importante desdobramento do dia, o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU, no fim da manhã, foi recebido com neutralidade pelo mercado, visto como um aceno à base eleitoral doméstica, embora em tom de menos confronto do que o expedido em 2019, na estreia de Bolsonaro neste foro internacional.

"Poderia ter sido melhor se o tom fosse mais diplomático, como se chegou a esperar, já que ali não deveria estar falando para sua base. A agenda externa está travada há meses, é negativa no meio ambiente, e um ganho de imagem seria importante, quem sabe, até para atrair investimentos", diz Cruz.

"Bolsonaro tentou adotar um tom mais neutro, apesar de continuar afirmando que os problemas de inflação foram resultado das restrições de circulação no Brasil. Não houve piora nos mercados locais, sobretudo no dólar, que hoje devolveu parte da alta observada ontem, em dia de cautela para os emergentes por conta da aguardada decisão de política monetária do Fed, amanhã", diz Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.

Para Cruz, da RB, o Federal Reserve pode amarrar amanhã comunicação no sentido de um "tapering dovish", com provável início no primeiro trimestre de 2022, prevalecendo assim alinhamento em torno do pensamento de Jerome Powell, presidente do Fed. Aqui, o Copom deve anunciar aumento de 1 ponto porcentual na Selic, em ritmo que deve ser mantido até o fim do ano – "a dúvida é sobre sinal quanto ao final do ciclo". De qualquer forma, observa Cruz, o câmbio tem mostrado mais resiliência, o que já reflete certa ancoragem na expectativa de alta para os juros, acima do nível neutro.

Na B3, o dia foi de recuperação parcial bem distribuída pelos setores e empresas de maior peso na composição do Ibovespa, à exceção de siderurgia (Gerdau PN -0,90%, CSN ON -0,38%, que chegaram a segurar a ponta negativa do índice na sessão), apesar da interrupção nesta terça-feira da longa série negativa, que retrocedia a 8 de setembro, de correção nos preços do minério de ferro na China.

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