Em tempos de inflação alta, os brasileiros têm buscado alternativas para proteger o patrimônio. Em 2015, o Tesouro Direto foi a “menina dos olhos” de muitos investidores, que aliaram a segurança da renda fixa à rentabilidade dos títulos públicos. Como a elevação dos preços deve seguir em patamar alto e a taxa básica de juros (Selic) deve subir ainda mais em 2016, os rendimentos dos títulos deverão continuar atrativos.
O número de investidores ativos no Tesouro Direto subiu 72% nos 12 meses encerrados em outubro, enquanto o estoque de aplicações atingiu R$ 22,9 bilhões, alta de 57,7%. A quantidade de participantes ultrapassou o número de investidores na Bolsa, com 587,3 mil pessoas. Foi a primeira vez que isso aconteceu desde a criação do produto, em 2002.
“Vai ser difícil encontrar outro investimento que bata o juro de 14%. Não é impossível, mas em outros ativos, como Bolsa e câmbio, há o risco”, diz o diretor da Easynvest Amerson Magalhães.
A rentabilidade chama a atenção principalmente se comparada à da caderneta de poupança, que vai perder para a inflação pela primeira vez em 13 anos. Segundo a consultoria Economática, o ganho anual da poupança está em 7,95%, frente à inflação de 10,48%. O cenário para 2016 não é animador: economistas consultados pelo Banco Central estimam o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 6,86%, acima do teto da meta, de 6,5%.
Apesar do crescimento neste ano, a quantidade de investidores nos títulos públicos ainda é bem menor do que os que escolhem a caderneta de poupança, que tem 137 milhões de clientes. Desses, 70% investem até R$ 500. Por isso, o governo ainda vê potencial de expansão. “Há muito espaço a ser conquistado”, diz Débora Araújo, analista de Finanças e Controle do Tesouro, acrescentando que o investimento mínimo é de R$ 30.
Para ajudar nessa popularização, o Tesouro simplificou o nome dos títulos e deu maior liquidez ao produto, que agora pode ser vendido a qualquer momento. Segundo Débora, o governo prepara novas ações para o início de 2016, como um simulador que compara títulos com outros produtos financeiros.
Estratégias. Não existe “fórmula mágica” para escolher um título. Diante das incertezas política e econômica, porém, especialistas indicam títulos com prazo curto. “Está muito difícil fazer prognóstico para 2016”, diz Alexandre Fernandes, diretor de crédito da Rio Bravo.
O risco do Tesouro Direto é mínimo, porque é soberano – o investidor só deixa de receber se o País der calote, o que é improvável. Mas há o chamado risco de mercado: se o cliente resgata o valor da aplicação antes do vencimento, o título é vendido de acordo com a taxa do dia, e isso pode levar a uma perda. Logo, o ideal é segurar até o fim do prazo.
Segundo dados do Tesouro, 59,7% dos títulos vendidos são indexados à inflação e 53,8% deles têm prazo de 1 a 5 anos. Na corretora Rico, que viu o número de clientes da área subir 84% em 2015, os títulos que protegem da alta dos preços são os mais procurados. O analista Roberto Indech, no entanto, faz um alerta: “Se é um investimento de curto prazo, de até dois anos, indicamos o Tesouro Selic. Para médio prazo, o Tesouro IPCA é interessante”, explica. O Tesouro Selic é reajustado diariamente pela Selic. Já o indexado à inflação (Tesouro IPCA) costuma render mais, mas pode perder valor se o juro subir ou tiver o resgate antecipado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.