Sesc-RJ, do Rio, e o Vôlei Nestlé, de Osasco, têm dominado o cenário do vôlei feminino há anos, enquanto o Dentil/Praia Clube, de Uberlândia, fez a melhor campanha da fase de classificação da Superliga. Em um cenário de favoritismo dessas equipes, o Camponesa/Minas entra em quadra neste sábado, às 15 horas, em Belo Horizonte, diante do Fluminense para sacramentar a passagem às semifinais apostando em uma dupla de levantadoras com histórias únicas para que não seja visto meramente como a quarta força da competição.
Aos 39 anos, Karine Guerra dá seus últimos passos no vôlei, carregando um peso extra e muito especial. Afinal, ela está grávida do seu segundo filho, Noah, com previsão de nascimento para o início de julho. E logo na temporada que a levantadora já havia planejado ser o último da sua carreira.
“Era uma decisão tomada antes da gravidez. Ela foi um susto, claro que bom, porque queria terminar a temporada jogando. Mas a gravidez veio de surpresa, embora planejasse ter outros filhos”, revelou Karine, que inclusive rejeitou oferta para seguir atuando no Minas após ser novamente mãe. “A primeira vontade da direção era até que eu não parasse, o Minas ofereceu dois anos de contrato, mas já tinha decidido”, explicou.
Na sua primeira gravidez, quando defendia o Praia, Karine já não atuava quando estava nesse momento da gestação. E a ideia inicial, inclusive, era de que a levantadora já tivesse deixado às quadras, pois o planejamento definido com a comissão técnica do Minas era de que ele atuasse apenas até a final do Sul-Americano, que ocorreu em 24 de fevereiro. “Agora a avaliação é dia-a-dia”, afirmou a levantadora, que já é mãe de Anna, de três anos, e ainda não precisou perder treinos em 2018 por causa da gravidez.
Nas últimas semanas, Karine tem participado dos os treinos com bola, físicos e de musculação ao lado das companheiras do Minas. Mas há algumas restrições, especialmente porque ela tem que cuidar da quantidade do calor a ser produzido e da ventilação do seu corpo, mantendo bom nível de respiração, algo que um rali muito longo pode dificultar. Além disso, usa uma cinta para evitar a diástase abdominal e evita quedas com a barriga para baixo.
Como é reserva de Macris, destaque do Minas e titular absoluta, Karine vem sendo mais conselheira do que jogadora, de fato, mais recentemente, embora tenha entrado em quadra no primeiro duelo com o Fluminense pelas quartas de final, no sábado passado, no Rio, vencido por 3 a 0. “A exigência do time tem sido mais psicológica do que dentro de quadra”, explicou, revelando qual deverá o seu próximo passo após deixar de ser levantadora. “Depois da final do Sul-Americano, quatro ou cinco meninas vieram agradecer por uma dica. E isso me mostra que há um outro caminho a seguir na minha próxima carreira, que vai ser na comissão técnica”, adiantou.
De qualquer forma, Karine promete estar ao lado do Minas até o final da sua campanha na Superliga, dentro ou fora de quadra. “Vou acompanhar o time até o final, mesmo que não possa entrar em quadra fisicamente”, disse.
Em 22 de abril, então, ela quer ser vista no banco de reservas apoiando Macris, levantadora titular do Minas, dez anos mais nova do que a companheira de posição. Essa é a data da decisão da Superliga, fase que o Minas não alcança desde 2004, sendo que o seu último título foi conquistado pelo time em 2002. Depois disso, veio a hegemonia de Rio, dez vezes campeão nesse período, e Osasco, dono de cinco taças.
Algo que impressiona muito nesse domínio é que entre 2005 e 2017, apenas um intruso avançou à final contra um desses rivais: o Praia, batido em 2016 pelo Rio. O time é candidato a repeti-lo em 2018, mas o Minas também quer fazê-lo e tem no seu retrospecto conquistas recentes que o inspiram, caso dos títulos mineiro, sobre a equipe de Uberlândia, e sul-americano, diante do time do Rio. “A equipe tem se colocado como um grande”, afirma Karine.
Além disso, conta com destaques individuais do vôlei nacional, como a oposta Destine Hooker e a central Mara, bem acionadas por Macris, eleita a melhor levantadora da Superliga nas últimas quatro temporadas. Com passagens pela seleção brasileira, ela busca a sua primeira final após defender times de investimento mais modesto, como Brasília e Pinheiros.
No fim de 2016, Macris decidiu se tornar vegana. O principal motivador, ela destaca, foi o sofrimento dos animais. Mas ela garante já enxergar melhoras físicas a partir da mudança no seu cardápio. “Me recupero melhor de treinos cansativos e jogos, diminuíram as dores musculares”, exemplificou.
Para mudar o hábito alimentar, Macris se inspirou em outra levantadora, Fernandinha, campeã olímpica com o Brasil em 2012, que também é vegana. “Não fiz transição, vi que era possível ser uma atleta saudável desse modo lendo estudos e conversando com especialistas”, disse.
Ela recebe orientações do nutricionista do Minas para fazer a reposição dos nutrientes presentes nos alimentos de origem animal e se impressiona com o esforço de Karine nos treinos. “É mágico vê-la vivendo esse momento que é tão especial para as mulheres”, afirmou. “É para aplaudir de pé”, concluiu.