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Com medo, carioca revê uso de apps de trânsito

No domingo de carnaval, a arquiteta Paloma Soares, de 35 anos, e uma amiga tentavam chegar ao bloco Cordão do Boi Tolo, na zona portuária do Rio, quando o taxista fez um desvio inesperado. Guiado pelo Google Maps, entrou em uma favela, onde se depararam com um homem com um fuzil. Em seguida, foram abordados por outro, armado com pistola.

“Perguntou se éramos gringas. Fiquei nervosa, com medo do que poderia acontecer. O motorista explicou que erramos o caminho e por sorte nos deixaram seguir”, contou Paloma.

No dia seguinte, a turista argentina Natália Cappetti, de 42 anos, não teve a mesma sorte. O carro em que estava foi atingido seis vezes ao entrar no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. Ela seguia a rota indicada pelo Waze após visitar o Cristo Redentor quando foi orientada a entrar num dos acessos à favela. Um tiro a feriu pelas costas. Ela segue internada, com estado de saúde estável.

O ataque aconteceu no mesmo local em que o italiano Roberto Bardella, de 52 anos, foi morto, em dezembro. Ele seguia o roteiro traçado pelo GPS de sua moto entre o Cristo e Copacabana. Ao chegar a um dos acessos à favela, foi baleado. Seu primo foi mantido por duas horas sob a mira de bandidos.

Os casos violentos envolvendo pessoas que se guiam por aplicativos levam motoristas a rever o uso da tecnologia e a buscar alternativas para evitar áreas de risco. As empresas também atualizam seus bancos de dados. O Waze criou, em 2016, o “alerta de áreas com risco de crime” para o Rio. São 25 regiões “avaliadas por terem maior índice de crime e menor quantidade de solicitação de rotas do Waze”, informou a assessoria da empresa. Esses locais estão sendo ampliados.

“Essas áreas com risco de crime foram identificadas com base em várias fontes de informações de terceiros sobre crimes e depois tiveram referências cruzadas por nossos funcionários e nossa rede local de editores de mapa voluntários”, diz o Waze.

Em 2016, a prefeitura do Rio também reforçou a sinalização nos acessos de algumas favelas. A mudança nas placas foi após a morte de um agente da Força Nacional durante a Olimpíada, que entrou por engano na Vila do João, no Complexo da Maré. Ele se guiava pelo Waze.

Em vez de “Vila do João”, a sinalização diz: “Seja bem-vindo à Comunidade Vila do João”.

Para estrangeiros, o alerta tem pouco efeito. A Companhia de Engenharia de Tráfego disse que está revendo toda a sinalização, mas o recomendável é seguir “pelas principais vias”.

Tensão. O motorista Pablo Vitó Nogueira, de 30 anos, teve o carro cercado por traficantes ao entrar numa favela da zona oeste do Rio. Estava com a noiva e o filho dela, de 3 anos. “Saíamos de uma festa infantil e me deram indicações de um caminho longo para a Avenida Brasil. Acabei me confundindo e liguei o Waze. O aplicativo mandava atravessar o trilho do trem e seguir por menos de 500 metros. Andei 100 e quatro homens com pistolas e fuzis cercaram meu carro”, contou. “Um deles estava nervoso. Mas outro viu que tinha criança no carro e liberou o caminho.”

Motorista de aplicativos como Uber e Cabify, Nogueira criou um perfil no Facebook (Vitó Personal Driver) com dicas de segurança. “Desligo o aplicativo quando circulo por áreas que não conheço. Prefiro pedir informações. O morador sempre vai te dizer se ali é seguro.”

A jornalista Ana Linhares, de 46 anos, já se viu duas vezes em bocas de fumo ao seguir o Google Maps, mas não sofreu violência. A última foi no dia 11, quando o policiamento no Rio estava menor por causa dos protestos de famílias de PMs. “O aplicativo me levou primeiro para a contramão e tive de subir na calçada para desviar de um ônibus. Depois parei na favela, às 20h30.” Ana decidiu aposentar o aplicativo. Procurado, o Google Maps não se pronunciou.

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