Acompanhando o dia positivo em Nova York, onde os mercados foram favorecidos por levantamento preliminar positivo sobre as vendas do varejo nos Estados Unidos no período anterior ao Natal, o Ibovespa sustentou os 105 mil pontos nesta primeira sessão da última semana do ano, em que ainda acumula perda de 11,31%, até aqui o pior desempenho anual para a referência da B3 desde 2015 (-13,31%). O Ibovespa vem de leve ganho de 2,92% em 2020, o primeiro ano da pandemia. Em 2015, a sequência foi pior: após queda de 2,91% em 2014 e de 15,50% em 2013, acumulou retração de quase 29% ao longo daqueles três anos.
Hoje, com agenda doméstica esvaziada e um boletim Focus sem surpresas, o índice da B3, em alta de 0,63%, a 105.554,40 pontos no encerramento, acompanhou a alguma distância o rali em Nova York, com o S&P 500 em renovação de máxima histórica no primeiro pregão após o Natal, e o setor de tecnologia à frente do desempenho por lá nesta segunda-feira. Na máxima do dia, o Ibovespa foi aos 105.694,47, saindo de abertura a 104.891.96 e tocando, na mínima, 104.798,45 pontos. Bem fraco, o giro financeiro foi de R$ 20,1 bilhões na sessão. Após cinco perdas mensais consecutivas, o índice acumula recuperação de 3,57% em dezembro.
Apesar da reação positiva de Nova York à estimativa para o varejo americano, o efeito da variante Ômicron sobre a recuperação econômica global permanece como um fator a ser ponderado pelos investidores neste fim de ano.
"O crescimento exponencial do número de casos nos EUA e na União Europeia sustenta ambiente de maior cautela, principalmente depois do cancelamento de mais de 2.800 voos nos EUA neste final de semana por conta da propagação da Ômicron, e com alerta de uma das principais autoridades na área da saúde do país (Anthony Fauci, ontem), de que o aumento do número de casos desta nova variante pode acabar sobrecarregando os hospitais mesmo com a baixa letalidade dela", observa em nota a Guide Investimentos.
Em 2021, "a aceleração na escalada dos juros trouxe ainda mais pressão baixista para os papéis das empresas negociadas na bolsa brasileira", aponta em relatório o Banco Inter. "Nos riscos globais, as variantes de covid-19, primeiramente Delta e, mais recentemente, Ômicron, trazem uma provável nova realidade para os mercados: a de que conviveremos com os efeitos da pandemia ainda por um tempo", acrescenta a instituição, que, com os descontos acumulados na B3, projeta o Ibovespa a 125 mil pontos até o fim de 2022.
Caso a estimativa se confirme, a referência da B3 ficará não muito distante do ponto em que estava no encerramento de 2020 (119 mil pontos) e também abaixo da máxima histórica do último 7 de junho (131.190,30 no intradia e 130.776,27 pontos naquele fechamento).
Apesar dos fatores de risco que ainda predominam no cenário, hoje prevaleceu indicação da Mastercard de que as vendas do varejo nos Estados Unidos cresceram 8,5% entre o início de novembro e a véspera de Natal na comparação com o mesmo período de 2020 – o desempenho mais forte em 17 anos, ainda que abaixo da previsão de 8,8% feita pela empresa em setembro.
No Brasil, o Natal de 2021 registrou aumento real de 10% nas vendas de lojistas de shopping em relação ao ano passado, mas um resultado ainda distante do patamar de 2019. Segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), cerca de 123,7 milhões de consumidores foram às compras.
Na B3, as empresas do setor de varejo lideraram os ganhos desta segunda-feira, com Magazine Luiza em alta de 9,35% e Via, de 8,00% no fechamento, beneficiadas também pela redução da pressão na curva de juros ao longo da tarde, ambas à frente de PetroRio (+4,87%) e Qualicorp (+4,91%) na sessão. Na ponta oposta, Banco Pan (-3,23%), Assaí (-3,19%) e Azul (-2,99%).
Entre as blue chips, destaque nesta segunda-feira para ganho de 1,97% em Petrobras ON, com o Brent em alta superior a 3% na sessão, buscando se reaproximar de US$ 79 por barril. As ações de grandes bancos também tiveram sessão positiva, com ganhos de até 1,14% (Bradesco PN) no fechamento do dia. Vale ON fechou em baixa de 0,25%.
<b>Dólar</b>
Após uma manhã volátil, o dólar se firmou em queda na segunda etapa do pregão. Se de manhã a desconfiança dos investidores com a variante ômicron, após milhares de voos cancelados nos últimos dias, levou a moeda ao pico dos R$ 5,70, à tarde a divisa renovou sucessivas mínimas à medida em que melhoravam o comportamento das commodities, com destaque para o petróleo. Assim, com mais apetite a risco no mercado, a maior parte das moedas emergentes reverteu as perdas para o dólar. Aqui, a moeda americana terminou em queda de 0,42% ante o real, aos R$ 5,6392.
"Essa semana, por ser a última do ano, tem baixíssima liquidez. No início do dia, um dos principais fatores que impactou os mercados foi o receio dos investidores com a variante ômicron. Ao longo do dia, tivemos reversão de tendência e o dólar superou os R$ 5,70, mas caiu em seguida com melhora do desempenho do preço das commodities, que aumentou um pouco o apetite por risco", resume Zeller Bernardino, especialista da Valor Investimentos.
Na máxima do dia, o dólar chegou a ser negociado a R$ 5,7062, em alta de 0,76%. Na mínima, tocada à tarde, chegou aos R$ 5,6336.
Hoje, uma virada contundente na cotação do barril de petróleo foi um dos fatores de maior peso para que a moeda americana se firmasse em queda ante o real. O óleo, que pela manhã tinha comportamento misto lá fora, se firmou em alta e fechou com avanço de 3,21% (Brent) e 2,41% (WTI).
Com a melhora no apetite por risco, o comportamento do dólar também piorou ante moedas como peso chileno, rand sul africano e rublo. A principal exceção ao movimento é a lira turca, que caía x% devolvendo, em meio a uma grave crise cambial, os fortes ganhos registrados na semana passada, após medidas anunciadas pelo país.
"Liquidez está baixa, os movimentos ficam mais difíceis de ter uma narrativa boa, mas olhando o movimento da moeda hoje, ela não está descolando de outros pares. De manhã, quando o DXY começou a voltar um pouco, as moedas em geral acompanharam e começaram a apreciar. Outras moedas ligadas a commodities ganharam um pouco mais de força", afirmou o economista-chefe da Kilima Asset, Luciano Costa. No fim da tarde, o DXY, que mede o dólar frente seis moedas fortes, era negociado em alta de 0,07%, aos 96,084 pontos no fim da tarde.
<b>Taxas de juros</b>
Os juros futuros fecharam a sessão regular com viés de alta nos vencimento de curto prazo e estáveis na ponta longa. Após começarem a tarde perto da estabilidade, as taxas percorreram a tarde sob alguma volatilidade. As de curto prazo chegaram a zerar o viés de alta e as longas, a se firmar em baixa, com mínimas em toda a curva a partir da melhora do câmbio local e do apetite ao risco para ativos emergentes. Mas, sem respaldo de liquidez, o movimento de recuo nos prêmios não teve forças para se sustentar até o fim.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a etapa regular em 11,635% e a estendida em 11,63%, de 11,609% na quinta-feira. As taxas dos DIs para janeiro de 2025 e 2027 encerraram a etapa regular estáveis, em 10,58% e 10,53% respectivamente. Na estendida, terminaram em 10,555% e 10,47%.
O mercado de juros acabou se apegando ao câmbio e aos poucos indicadores positivos do dia como referência para operar. O dólar começou a sessão em alta, mas virou para baixo ainda pela manhã, renovando mínimas no começo da tarde na medida em que o fortalecimento do petróleo ajudava moedas emergentes, como o real. Ainda que com um certo "delay", os juros acompanharam a melhora, com mínimas na última hora de negócios, quando em Nova York as bolsas batiam máximas.
André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, destaca três fatores que em tese também colaboraram para a desinclinação da curva nesta segunda: o comportamento das medianas de IPCA no Boletim Focus e, divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o IPC-S Capitais e os dados da confiança da indústria. "Todos conspiram para uma Selic não tão agressiva, favorecendo posições vendidas", afirmou.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) apresentou queda de 2,0 pontos em dezembro na comparação com novembro, a 100,1 pontos, na quinta queda consecutiva. Já o IPC-S desacelerou em seis das sete capitais pesquisadas na terceira quadrissemana de dezembro.
Na pesquisa Focus, as medianas de IPCA 2021 (10,04% para 10,02%) e de 2023 (3,40% para 3,38%) oscilaram em baixa, enquanto a de 2022 manteve-se em 5,03%. São deslizes ainda muito discretos, mas vistos como boa notícia, considerando os vários meses em que a direção única era de alta e também o peso dado pelos diretores do Banco Central às expectativas de inflação para seu plano de voo, em documentos e entrevistas recentes.