Em dia de elevação na curva de juros americana, com os investidores à espera de novos dados sobre a inflação dos EUA, na quinta-feira, e de correção nos preços do minério de ferro na China, o setor metálico manteve o Ibovespa na defensiva nesta abertura de semana que traz, amanhã, o IPCA-15 referente a fevereiro. Dessa forma, o índice da B3 se manteve em faixa estreita de cerca de 900 pontos entre a mínima (129.076,84) e a máxima (129.977,73) da sessão, em que saiu de abertura aos 129.416,99 pontos. Ao fim, mostrava leve ganho de 0,15%, a 129.609,05 pontos, com giro financeiro fraco, de R$ 17,4 bilhões.
Após recordes recentes em Nova York, os três principais índices acionários fecharam o dia em baixa: Dow Jones -0,16%, S&P 500 -0,38% e Nasdaq -0,13%. "Hoje, houve descolamento aqui após todo o entusiasmo no exterior em torno dos resultados da Nvidia, que beneficiaram especialmente as ações de tecnologia mundo afora. Aqui, o descolamento, contudo, foi limitado pela forte correção vista nos preços do minério de ferro", diz Victor Miranda, sócio da One Investimentos.
Assim, na B3, apesar do avanço de Petrobras (ON +1,05%, PN +1,89%) – em linha com os ganhos do petróleo na sessão em meio à instabilidade geopolítica no Oriente Médio, e às vésperas de possível distribuição de dividendos extraordinários em 7 de março -, bem como de alguns bancos (BB ON +0,96%, Itaú PN +0,29%), a queda de 2,42% em Vale ON, a ação de maior peso no Ibovespa, limitou o potencial de alta do índice. O setor metálico não foi bem nesta segunda-feira, em que o minério recuou mais de 3% em Dalian e na casa de 4% em Cingapura e Qingdao. Nesse contexto, destaque para a queda de 3,16% em CSN e de 1,21% para Gerdau.
O Conselho de Administração da Petrobras está dividido em relação ao pagamento de dividendos extraordinários relativos a 2023, mas as condições para que ocorra são favoráveis, com a dívida da companhia sob controle e o preço do petróleo indicando certa estabilidade, reporta do Rio a jornalista Denise Luna.
No setor metálico, além dos preços do minério de ferro, o mercado ainda monitora a possível sucessão no comando da Vale, e não agradou muito a notícia de que, após fracassar na indicação do ex-ministro Guido Mantega para a empresa, o governo estaria apoiando o nome do acionista Paulo Caffarelli, com passagem por Cielo e longa carreira no Banco do Brasil, além de ter sido secretário-executivo do Ministério da Fazenda – mas sem tanta experiência no setor de mineração, apontam alguns analistas, apesar de Caffarelli ter estado também na CSN.
Na ponta do Ibovespa na sessão, JBS (+4,19%), Marfrig (+3,87%) e BRF (+3,78%). No lado oposto, Pão de Açúcar (-7,41%), Dexco (-5,96%) e IRB (-3,85%).
"A queda do minério de ferro afetou o desempenho do Ibovespa hoje, em momento em que a Bolsa tem sofrido com a retirada de recursos pelo investidor estrangeiro. Janeiro já tinha sido o de maior saída de recursos para o mês desde 2016, e fevereiro dá prosseguimento a esse movimento de saque, com retirada na casa de R$ 10 bilhões, inferior apenas aos R$ 20 bilhões de fevereiro de 2020", diz Gabriel Freitas, sócio e especialista da Blue3 Investimentos.
A agenda doméstica, amanhã, traz a leitura preliminar do índice oficial de inflação do país, no momento em que o mercado segue, pari passu, as métricas que interferem na orientação da política monetária. Após alta de 0,31% em janeiro, "o IPCA-15 de fevereiro deve registrar aumento, para 0,82%, impulsionado pelo ajuste das mensalidades escolares e pelos efeitos da nova alíquota do ICMS sobre combustíveis, que entrou em vigor no início do mês", observa em nota a Guide Investimentos.
"Essa perspectiva de aceleração da inflação tem sido monitorada de perto pelo BCB Banco Central do Brasil, que ainda mantém a estratégia de realizar mais dois cortes de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros, Selic, apesar do risco crescente de não conseguir finalizar o ciclo de cortes com a taxa em um dígito", acrescenta a casa.
Nova leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos também está no centro da atenção do mercado nesta semana: na quinta-feira, será conhecido o PCE, métrica de inflação favorita do Federal Reserve, o BC americano.
"Uma leitura elevada deste índice poderia solidificar a convicção, entre os formuladores de política monetária nos EUA, de que é prudente proceder com cautela nesta fase final do combate à inflação, postergando a expectativa de redução da taxa de juros para junho", aponta a Guide, observando que, na véspera da divulgação do PCE, será conhecida a mais recente leitura sobre o PIB americano. No Brasil, a agenda da semana traz também o PIB do quarto trimestre.