Estadão

Com Petrobras sob pressão, Ibovespa cai 0,33%, aos 112,7 mil pontos

Com a Petrobras em acentuação de perdas bem acima da correção da commodity na sessão, o Ibovespa resistiu em parte do dia, não o suficiente para mostrar sinal positivo no fechamento desta segunda-feira, apesar do suporte proporcionado pela maioria das ações de primeira linha. Além do mergulho da Petrobras (ON -6,03%, PN -6,61%), Vale também fechou abaixo da superfície, embora discretamente (ON -0,19%). Assim, sem o apoio das duas gigantes das commodities, o Ibovespa oscilou entre 112.164,36 e 113.679,63, encerrando o dia aos 112.784,52 pontos, em baixa de 0,33% nesta abertura de semana, com giro a R$ 21,2 bilhões na sessão. No mês, o índice da B3 cai 3,24%, limitando ganho a 2,78% no ano.

Nas últimas cinco sessões, o Ibovespa mantém fechamento negativo, permanecendo nesta segunda no menor nível de encerramento desde 5 de junho, então aos 112.696,32 pontos.

"Oscilou em torno dos 113 mil pontos na maior parte do dia, com Petrobras inclinando o índice para baixo em diversos momentos da sessão. Foi um movimento importante que se viu nas ações da empresa, e o que pesou foi a proposta do Conselho, de mudança na política de indicação para a área de governança. Foi o que mais fez preço hoje, com a percepção de que há ameaça aos dividendos e à própria governança da companhia", diz Bruna Centeno, sócia e especialista da Blue3 Investimentos, referindo-se à notícia de que o Conselho aprovou proposta para revisão da política de indicação de membros da alta administração e do conselho fiscal.

"O temor é o de que se possa ver novamente o que aconteceu em governos passados: uma gestão muito mais alinhada aos interesses do governo do que a uma condução técnica, fundamental às decisões da estatal. E o mercado precificou isso, em grau muito negativo hoje, o que pautou a Bolsa como um todo em grande parte do dia", acrescenta a analista da Blue3.

A Petrobras anunciou que o Conselho aprovou a apresentação da proposta de revisão do Estatuto Social. "A proposta de retirar as proibições previstas na Lei 13.303/2016 (Lei das Estatais) pode ser vista como um retrocesso na governança corporativa. Além disso, o texto fala sobre a criação de uma reserva de remuneração de capital, o que poderia afetar a distribuição de proventos da companhia por facilitar o não pagamento de dividendos extraordinários acima da política mínima, caso esse seja o caminho tomado pela companhia", observa Júlia Aquino, analista da Rico Investimentos.

No quadro mais amplo, o mercado monitorou também o resultado do primeiro turno da eleição na Argentina e os desdobramentos do conflito no Oriente Médio, assim como a escalada dos juros de mercado nos EUA, que, mais cedo, superaram o limiar de 5% para o vencimento de 10 anos. "No começo do dia, a taxa do Treasury de 10 anos avançou para o patamar de 5% pela primeira vez desde 2007. A alta dos rendimentos de renda fixa geralmente reduz a atratividade dos ativos de maior risco, como as ações, por desequilibrar a relação risco-retorno", diz Júlia, da Rico.

Ao participar de abertura de evento do <b>Estadão</b> nesta segunda-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que começa a se consolidar uma interpretação menos benigna, e mais estrutural, para a elevação dos juros nos Estados Unidos, referência para o resto do mundo. "Em sendo estrutural, existe a pergunta de por quanto tempo os juros seguirão mais altos", acrescentou Campos Neto, que espera mais uma alta da taxa de juros do Federal Reserve, na reunião de política monetária do BC americano em dezembro.

Campos Neto observou também que a reversão dos estímulos fiscais concedidos na pandemia para evitar uma depressão econômica não se deu de forma sincronizada. As condições fiscais, destacou, seguem bem frouxas tanto nos Estados Unidos como em parte da Europa, pressionando os juros de todo o mundo.

Nesse contexto amplo, apesar da cautela que ainda mantém na defensiva o apetite global por risco, alguns papéis da carteira Ibovespa conseguiram andar bem na sessão, com CVC (+9,20%), Gol (+5,51%) e MRV (+5,28%) à frente. "O que está subindo forte nesse momento são, na média, justamente os ativos que vinham sofrendo nas últimas semanas: cíclicos locais, small caps, companhias endividadas e similares", diz Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research.

Na ponta perdedora do Ibovespa nesta primeira sessão da semana, além das duas ações de Petrobras no topo da lista, destaque também para Magazine Luiza (-1,95%), Prio (-1,73%) e Suzano (-0,91%).

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