O aceno do presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, de que não há mudança em curso na política de preços da empresa, contribuiu para a última mudança de sinal do Ibovespa, no fim da tarde, em direção à alta de 0,27%, aos 113.583,01 pontos, no encerramento de sessão ao longo da qual oscilou entre leves perdas e ganhos. Na máxima do dia, com as declarações de Luna, chegou aos 114.432,23 pontos, saindo de mínima a 112.360,24 e abertura aos 113.282,89 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,7 bilhões na sessão.
Ao fim, o desempenho negativo das ações com exposição à economia doméstica, especialmente varejo, pressionado pela alta da inflação e dos custos de crédito, acabou ofuscado pelo de grandes bancos, positivo, e em geral favorável também nos setores associados a commodities e demanda externa, em dia no qual o Brent foi negociado a US$ 79 por barril pela primeira vez desde 2018. Destaque também para recuperação do minério de ferro na China, em alta pouco acima de 7% nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa cede agora 4,38%, colocando as perdas do ano a 4,57%.
Assim, em dia misto para os índices de Nova York, a contribuição de Petrobras (ON+1,56%, PN +0,89%), Vale (ON +1,43%) e especialmente a de bancos, segmento no qual os ganhos chegaram nesta segunda-feira a 3,78% (Unit do Santander) entre as maiores instituições, foi decisiva para contrabalançar a percepção negativa sobre a economia local, em meio a constantes revisões, para cima, nas projeções de juros, câmbio e inflação, em paralelo a menores para a expansão do PIB, especialmente no próximo ano.
"O cenário externo é construtivo: após o pico na retomada global no segundo trimestre, o quarto trimestre deve ser de recuperação bem distribuída entre Ásia, Europa e Estados Unidos, com a reabertura da economia na Ásia. Há muitos sinais, nos dados econômicos, de que o crescimento (global) vai reacelerar, com a variante Delta em movimento de fading (desaparecimento). O desempenho das commodities e do yield de 10 anos (americano) é bom presságio de crescimento (econômico), assim como se vê, hoje, no desempenho do Dow Jones (em alta) e do Nasdaq (em baixa), típico de rotação" , diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, antevendo mais apetite por risco em ativos fora do EUA, nos mercados desenvolvidos.
No Brasil, avalia Attuch, Vale tende a se recuperar em reação aos preços do minério de ferro, cujo ponto mais baixo possivelmente tenha ficado para trás, na prolongada correção observada em boa parte de setembro – nesta segunda, em Qingdao (China), a tonelada fechou em alta de 7,17%, a US$ 119,31, após ter sido negociada recentemente abaixo de US$ 100. "A China tomou medidas sobre a produção de aço para melhorar as condições ambientais, tendo em vista a realização das Olimpíadas de Inverno, em fevereiro de 2022. Depois do Ano Novo Lunar, a tendência é de que a economia chinesa volte a acelerar, com retomada também na produção de aço", acrescenta.
Em outro desdobramento sobre o reaquecimento das commodities, Attuch chama atenção para os preços do gás natural na Europa, que preocupam alguns governos, como os de Itália, Espanha e Grécia, os quais já sinalizaram subsídios ao consumidor.
Por outro lado, a perspectiva para Brasil segue pressionada pelas revisões, em baixa, para o PIB, e o mercado mantém a percepção de que o governo tenta "comprar popularidade" para o desafio eleitoral do ano que vem, em soluções como a dos precatórios, o que deixa o desempenho fiscal sob escrutínio. "É preciso ver até onde irão essas revisões do PIB, quando se estabilizarão", acrescenta.
"Os destaques do Focus nesta semana tiveram a ver com inflação e PIB, principalmente. A inflação já vem sendo revisada há algum tempo pra cima, tanto pra este ano como para o ano que vem, com IPCA a 8,45% para 2021 e de 4,12% para 2022, na visão do mercado. E o PIB continua a ser revisado para baixo, com recuperação lenta e gradual da economia – nesta leitura do Focus, estável para 2021, a 5,04%, mas para 2022 constantemente revisado para baixo, agora a 1,57%", diz Cristiane Quartaroli, economista do banco Ourinvest.
"O mercado continua apostando no aumento das expectativas de inflação: foi o 25º aumento consecutivo para o ano, no Focus desta semana. Ainda há muita pressão dos combustíveis e da energia elétrica, e isso acaba contaminando outros setores também, causando esse aumento constante de projeções", diz Bruno Mansur, especialista da Valor Investimentos.
Na ponta negativa do Ibovespa nesta segunda-feira, destaque para Méliuz (-5,18%), à frente de Via (-4,71%) e de Magazine Luiza (-3,97%). Na face oposta, Marfrig (+7,15%), BRF (+7,00%) e PetroRio (+5,09%).