Estadão

Com piora do humor externo, Ibovespa cai 0,96%, a 114,8 mil pontos

A piora do humor externo no meio da tarde lançou o Ibovespa em direção a perdas maiores no fechamento desta terça-feira, véspera de feriado aqui com mercados que estarão abertos lá fora. Assim, a cautela pré-feriado doméstico ganhou contornos de aversão a risco mais para o fim do dia, quando o Ibovespa perdeu de vez a linha dos 115 mil pontos, atingindo 114.296,52 pontos na mínima da sessão, menor nível desde a abertura de 3 de outubro (110.047,56 pontos), quando o índice da B3 passou a escalar naquele dia seguinte ao resultado do primeiro turno das eleições.

Nesta terça, nem a melhora parcial e passageira em Nova York em parte da tarde, onde o blue chip Dow Jones chegou a subir mais de 1% (e fechou em leve alta de 0,12%), contribuía para evitar que o Ibovespa emendasse a terceira perda, em queda de 0,96%, aos 114.827,12 pontos no fechamento, com máxima do dia correspondente à abertura, aos 115.927,72 pontos.

O humor externo piorou no meio da tarde, com reflexos aqui especialmente nos juros futuros e no câmbio, mas também na Bolsa, em razão de comentários de autoridade monetária britânica sobre a volatilidade no mercado de lá. Aqui, a aguardada deflação do IPCA em setembro, a terceira seguida, também não foi o suficiente para impedir que a referência da B3 navegasse no negativo desde o início da sessão. Na semana, o Ibovespa cede agora 1,33%, limitando o ganho do mês a 4,35% – no ano, o índice sobe 9,54%. O giro financeiro foi a R$ 31,6 bilhões nesta terça-feira.

Após ter andado à frente de pares externos na semana passada, com leitura entusiasmada do mercado sobre o resultado do primeiro turno da eleição, o Ibovespa mostra um grau maior de cautela neste começo de nova semana, ainda bem negativa para referências de fora como Nasdaq (-2,12%); FTSE 100 (-1,51%), de Londres; e Hang Seng (-5,12%), de Hong Kong, no menor nível em 13 anos nesta terça-feira, em meio a preocupações sobre liquidez no setor imobiliário chinês.

No exterior, o acirramento das tensões militares no Leste Europeu, as limitações impostas pelos Estados Unidos a componentes eletrônicos direcionados à China e a expectativa, na quarta, para a ata do Federal Reserve também são fatores citados por analistas para justificar a cautela ainda prevalecente. E na quarta, dia quente no noticiário externo, não haverá negócios na B3, no feriado da Padroeira.

Destaque da agenda doméstica nesta terça-feira, a leitura sobre o IPCA, embora positiva para o apetite por risco, ainda divide opiniões com relação ao que projeta para o comportamento futuro dos preços. "O IPCA trouxe a terceira leitura consecutiva de deflação, quadro um pouco mais confortável para a inflação daqui ao fim do ano. Até julho, a inflação em 12 meses estava rodando em patamar de dois dígitos, e conseguiu romper esse patamar, agora a 7,1%, com grande parte desse efeito vindo das medidas de desoneração tributária, principalmente nos combustíveis", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

"Além das medidas tributárias adotadas neste ano, a desaceleração dos preços das commodities internacionais tem contribuído para uma desaceleração do cenário inflacionário brasileiro", aponta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

"A deflação de setembro foi menor do que imaginávamos, com algumas surpresas, como as pressões ainda muito grandes de vestuário, dentro de bens industriais, em nível ainda muito forte, sem ceder, e a parte de serviços ainda disseminada, com números um pouquinho acima do que a gente esperava", diz Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital. "A deflação está ainda muito concentrada naqueles grupos iniciais, de gasolina, energia elétrica e depois comunicações – os setores que receberam as medidas tributárias -, e agora entrando parte do grupo de alimentos, notavelmente leite e carnes", acrescenta. "O resto, a parte de bens industriais e serviços, vemos muito pouco sinal de mudança em relação à inflação."

"A deflação de 0,29% em setembro ante agosto veio um pouco aquém do consenso, de -0,33% para o mês – esperávamos -0,37% para agosto. Temos uma dinâmica de preços mais arrefecida, um pouco melhor, mas serviços ainda preocupa, embora haja também uma melhora. Problema da inflação ainda existe, mas a qualidade do dado tem melhorado", diz Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital.

Na B3, dando prosseguimento de forma moderada à recente realização de lucros, as blue chips de commodities seguiram em leve ajuste (Petrobras ON -0,97%, PN -0,75%, Vale ON -0,68%), em dia amplamente negativo para as ações de grandes bancos, com destaque para BB (ON -2,40%) e Santander (Unit -2,37%). Na ponta de perdas, Locaweb (-6,92%), Qualicorp (-5,57%), CVC (-5,50%) e Hapvida (-4,11%). No lado oposto, destaque absoluto para Braskem (+20,40%), bem à frente de Raízen (+6,62%), de Rumo (+4,22%) e de Cielo (+1,76%).

A gestora americana Apollo fez nova oferta pela Braskem, que inclui o fechamento de capital da empresa na B3 e a posterior reabertura na Bolsa de Nova York, antecipou o colunista Lauro Jardim, de O Globo. "Pelo que vimos aqui, houve mais uma proposta, 25% maior do que a anterior, chegando a quase R$ 50 por ação, o que possivelmente abrange a participação de Petrobras. Então, há um ganho enorme em relação à cotação atual do papel, puxando hoje bastante pra cima" os preços da ação da Braskem, diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos. Braskem PNA foi o sexto papel mais negociado no pregão.

"Um ponto que tem que ficar de olho é eventual mudança de governo. Caso haja mudança, seria bastante positivo que a venda ocorra antes disso, porque é difícil que um novo governo queira a saída da Petrobras do ativo. Essa é a grande dificuldade do negócio", acrescenta Meira.

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