Com Powell, Bolsa fecha em baixa de 2,13%, aos 94.685,98 pontos

O Ibovespa fechou em baixa pelo segundo dia, em realização um pouco mais aguda do que a da sessão anterior, com o Fed, mas ainda assim conseguindo se manter acima do nível de fechamento do dia 5 de junho – ou seja, no maior nível desde a última sexta-feira, 5, quando o Ibovespa encadeava a sexta sessão de ganhos, e que chegaria na última segunda a sete avanços consecutivos, firmando-se nos maiores níveis desde o começo de março. As perdas foram bem distribuídas pelos diferentes setores, abrangendo commodities (Petrobras ON -2,95%), siderúrgicas (Usiminas -5,62%), infraestrutura (Eletrobras ON -5,59%), bancos (Santander -4,89%) e companhias aéreas (Gol -9,64%, na ponta negativa do Ibovespa).

Nesta quarta-feira, 10, pré-feriado no Brasil, o índice de referência da B3 fechou em baixa de 2,13%, aos 94.685,98 pontos, bem perto da mínima do dia, mas não muito distanciado da máxima do ciclo de recuperação sustentado a partir da segunda quinzena de maio e reforçado neste início de junho, atingida anteontem, aos 97.693,47 durante a sessão, e reaproximado hoje no pico intradia, de 97.645,85 pontos. Na semana, os ganhos ficam limitados agora a 0,05%, mas em junho o Ibovespa ainda acumula forte avanço de 8,33% – no ano, a perda acumulada está em 18,12%. O giro financeiro se manteve hoje acima de R$ 30 bilhões, totalizando R$ 33,7 bilhões na sessão.

As perdas do dia chegaram a se suavizar logo após a decisão de política monetária do Federal Reserve, às 15h. Nos minutos seguintes, os três índices de NY passavam a terreno positivo na sessão, após terem se mantido mistos até então – o Nasdaq seguiria em alta até o encerramento, renovando máxima histórica. Pouco antes da decisão, o Ibovespa apontava perdas de 1,67% e, nos minutos seguintes, chegou a limitá-las a 0,54%, então aos 96.221,46 pontos, tendo chegado a 94.776,81 pontos até então no que era a mínima do dia.

No comunicado, os integrantes do comitê de política monetária americano apontaram que continuam "comprometidos a usar todos instrumentos de apoio nesta hora desafiadora". O gráfico de pontos apontou que nenhum dirigente do Fed prevê aumento de juros antes de 2022 – hoje, a taxa de juros de referência foi mantida na faixa de zero a 0,25%, conforme esperado.

Contudo, as perdas do Ibovespa e a falta de direção única em Nova York voltaram a se impor no início da fala do presidente do Fed, Jerome Powell. "O mercado talvez estivesse esperando demais do Fed, que já disponibilizou uma boa dose de estímulos", diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. "Havia a expectativa de que a comunicação de Powell trouxesse a discussão sobre controle da curva de juros, que seria um estímulo adicional, na medida em que o Fed não trabalha com a possibilidade de juros negativos. Mas se a discussão sobre o controle avançou, Powell preferiu não comunicar. É a bala de prata que tem sido guardada pelo Fed", acrescenta a economista.

Segundo Solange, a depender do que ocorrer no processo de reabertura das economias, o mercado tende a se convencer de que o nível de estímulos já assegurados pelo Fed é o suficiente. "Está todo mundo de olho na reabertura das economias nos EUA, na Europa, na Ásia e, se não houver segunda onda da doença e retomada de quarentenas, a tendência é de que ocorra uma acomodação" da ansiedade, avalia a economista.

No pior momento de hoje, as perdas do Ibovespa chegaram a 2,15%, com o índice a 94.664,81 pontos na mínima do dia, que prevaleceu até o fim da sessão. Na entrevista coletiva, Powell disse que a taxa de desemprego de maio nos EUA, celebrada na última sexta-feira pelos mercados ao vir melhor do que se esperava, subestimou o nível de desemprego em cerca de 3 pontos porcentuais. Ele apontou também que o recuo do PIB no 2º trimestre deve ser o mais severo já registrado nos EUA, e que uma recuperação total não deve ocorrer até que as pessoas tenham confiança. Havia expectativa de parte do mercado de que novos estímulos pudessem ser sinalizados hoje, mas Powell se limitou a dizer que a política monetária está em "bom lugar, e isso é bem entendido pelos mercados".

Com a melhora da percepção de risco, especialmente a partir do exterior, nas últimas quatro sessões o Ibovespa superou a marca de 97 mil pontos nos melhores momentos dos respectivos pregões, com a linha dos 97,6 mil pontos mostrando-se como resistência nas últimas três. A percepção é de que alguma realização e lateralização tende a prevalecer no curtíssimo prazo, com a marca de 97 mil emergindo como um ponto de venda, especialmente para os que ingressaram mais cedo no ciclo de recuperação e se inclinem a embolsar lucros. Vencida a resistência, a expectativa é de que o Ibovespa retome os 100 mil pontos, apesar das inúmeras incertezas sobre o grau de recuperação doméstica posterior ao ápice da pandemia, cujos estragos começarão a ser aferidos de forma mais próxima nos balanços do segundo trimestre.

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