Com preços em alta, commodities vão alavancar receitas de exportações

Impulsionadas principalmente pelo minério de ferro, as principais commodities produzidas no País devem alavancar as receitas brasileiras com exportações neste ano, amenizando a crise econômica remanescente da pandemia. Segundo estimativas da Tendências Consultoria, o minério, a soja e o petróleo devem registrar uma alta de 12,9% nos preços nos próximos 12 meses.

"Em 2021, devemos alcançar um nível de preços que não vimos nos últimos seis anos", diz a economista Yasmin Riveli, da Tendências. Segundo um índice de preços da consultoria que engloba as três principais commodities exportadas pelo Brasil, as cotações do minério de ferro, da soja e do petróleo estarão, neste ano, 33% acima do verificado em 2016 – o pior ano da década para as commodities e o segundo pior para a economia brasileira.

Na comparação com o super ciclo do segmento ocorrido entre 2010 a 2014, porém, os preços ainda estarão 34% abaixo dos registrados em 2011, o melhor ano do período.

Yasmin explica que a cotação do minério de ferro vem batendo máximas históricas, mas os preços do petróleo e da soja, apesar de estarem se recuperando, devem continuar em níveis inferiores aos observados no início da década passada. Essa combinação acabará inviabilizando um novo super ciclo de commodities, como alguns analistas vinham projetando para 2021.

O minério de ferro é a commodity cujo preço mais depende da economia chinesa, e a demanda no país está acelerada com a retomada da indústria. Durante o ano passado, o preço do produto subiu 94,7% (leia mais informações nesta página).

Já o petróleo e a soja estão mais conectados com o restante do mundo, que ainda patina com a instabilidade econômica decorrente da pandemia. Ainda assim, problemas climáticos e a demanda da China – cujo governo estimulou o aumento de estoques de grãos, preocupado com uma possível falta de alimentos por conta da covid – fizeram com que o preço da soja subisse 35,6% em 2020.

Única commodity das mais importantes exportadas pelo Brasil a ter queda na cotação em 2021, o petróleo também está em situação que pode ser considerada positiva. O preço do barril caiu 22,5% no ano passado, mas teve uma recuperação de 163% desde que atingiu o fundo do poço, ao ser cotado a US$ 19,54 em abril, quando o mundo estava em lockdown.

<b>Incertezas</b>

A economista Lia Valls, do FGV Ibre, reconhece que a expectativa no mercado é que os preços continuem em patamares elevados no primeiro semestre deste ano, mas alerta que as incertezas também são altas. "Não é certo se haverá um novo ciclo. As pessoas estão vendo a economia começar a se recuperar, mas ninguém sabe quão forte será a segunda onda da pandemia."

Para Júlia Passabom, economista do Itaú Unibanco, há espaço "na margem" para novos aumentos. "Podemos continuar vendo preços mais altos, uma vez que tem o La Niña (fenômeno climático que reduz a produção agrícola) e os estoques (de grãos) caem. O minério também está bastante atrativo, mas é preciso observar se tem fôlego para andar mais do que já andou", afirma.

A economista diz também não esperar que a alta das commodities pressione ainda mais a inflação. "Há espaço para a inflação desacelerar, porque o choque vai se dissipando", acrescenta.

<b>Minério pode ir a US$ 180 com menor produção</b>

O minério de ferro, que passou 2020 todo em alta, acelerou o ritmo em dezembro e bateu a casa dos US$ 160 por tonelada no fim do ano. A divulgação de estimativas de produção decepcionantes pela Vale tornou remoto o cenário de equilíbrio entre oferta e demanda e agiu como catalisador da curva de alta, que vinha sendo sustentada pela forte demanda da China no pós-pandemia.

A mineradora brasileira divulgou, no início de dezembro, que espera entregar neste ano entre 315 milhões e 335 milhões de toneladas. Em 2019, a empresa havia anunciado uma projeção diferente: de 375 milhões a 395 milhões de toneladas para 2021.

Em relatório, a consultoria australiana Macquarie afirmou que, com a redução das projeções da Vale, ficou difícil enxergar como o mercado pode atingir o equilíbrio – até porque, com a chegada da vacina contra a covid, a tendência é de retomada da produção de aço em países da Europa e no Japão, aquecendo a demanda.

A Macquarie calcula uma falta de 50 milhões de toneladas de minério em 2021 e diz que as opções de oferta adicional – como maior exportação pela Índia e a reativação de mineradoras chinesas de alto custo – não estão à mão de imediato. A conclusão é que um aumento adicional nos preços é uma possibilidade real.

<b>Projeções</b>

Apesar do aumento nos preços do minério de ferro em 2020, analistas esperavam um freio para este ano, com a entrada de novas capacidades no mercado e menor consumo. Depois que a Vale anunciou uma redução na estimativa de produção, porém, o fim do rali da commodity saiu do horizonte de economistas, que revisaram seus cálculos.

Em dezembro, o Safra elevou sua projeção média de preços em 2021, de US$ 75 por tonelada para US$ 100. O Itaú BBA alterou de US$ 100 por tonelada para US$ 110. Já o BTG Pactual indagou, em relatório sobre a Vale, se a próxima parada do preço será na marca dos US$ 180 por tonelada.

O Credit Suisse afirmou a clientes, também em dezembro, que a queda nos embarques brasileiros, a projeção de produção da Vale e a demanda aquecida das siderúrgicas chinesas tornam factível que o preço se mantenha no patamar de US$ 150 por tonelada. O Goldman Sachs passou a ver este mesmo nível como justo para a média dos próximos seis meses e projeta preço médio por tonelada em US$ 120 para este ano, uma elevação substancial frente à estimativa feita em setembro, de US$ 90 por tonelada.

"É difícil falar de limite. O mercado deve continuar com oferta-demanda justa nos próximos meses", diz Daniel Sasson, do Itaú BBA.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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