A reunião de cúpula do G20 terminou na tarde deste sábado, 1º, em Buenos Aires com participação discreta do Brasil. Sem a presença do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que foi convidado por Michel Temer para ir ao encontro, a delegação brasileira teve poucos compromissos fora da agenda oficial da reunião. Foram apenas duas reuniões bilaterais, com Cingapura e Austrália, contra 14 do presidente da Argentina, Mauricio Macri. Temer deixou o encontro do G20 antes mesmo da sessão de encerramento.
Temer disse que convidou Bolsonaro há cerca de 25 dias para o encontro, mas, por questões de saúde, o presidente eleito não conseguiu participar. Bolsonaro também não mandou representantes. Mas durante os dias da reunião, ganharam os holofotes mais questões relacionadas ao próximo governo, como o acordo climático de Paris, do que questões da atual administração.
O presidente francês, Emmanuel Macron, levou Bolsonaro para os holofotes do G20 ao mencionar que a União Europeia não negocia com países que queiram deixar o Acordo de Paris. O brasileiro já declarou publicamente que pretende sair do acordo, mas Temer tentou minimizar essa possibilidade, ressaltando que uma coisa é que o se discute agora, e outra é quando um presidente faz quando toma posse. Por isso, Temer disse acreditar que esse ponto será equacionado. De fato, no documento final da reunião, os signatários do acordo, fechado em dezembro de 2015, se comprometeram com sua “plena implementação” – o que inclui o Brasil.
Durante o G20, Temer procurou enfatizar repetidas vezes o apoio do Brasil ao multilateralismo no comércio internacional e à Organização Mundial do Comércio (OMC). “O Brasil defende o inequívoco apoio ao sistema multilateral de comércio”, declarou o presidente durante discurso na plenária do G20. “Nossa mensagem foi para a abertura integral e ao não isolacionismo”, afirmou o presidente a jornalistas.
Ainda na comitiva brasileira, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, representou o país na reunião ministerial e também defendeu o multilateralismo. Ele também teve agenda enxuta e acompanhou o presidente em seus compromissos oficiais.
O secretário de relações internacionais do Ministério da Fazenda, Marcello Estevão, que chegou a Buenos Aires no domingo passado para participar das reuniões preparatórias, disse que mesmo antes do início da cúpula de líderes, já havia dificuldade em achar um consenso sobre a maneira de tratar as tensões comerciais no texto. No comunicado final divulgado hoje, a palavra “tensão” nem sequer foi citada, com os líderes preferindo falar de “questões” comerciais, defendendo a reforma da OMC.
A participação de Temer na reunião de cúpula do G20 em 2017 em Hamburgo, na Alemanha, já havia sido tímida. Em meio às repercussões negativas do escândalo da delação da JBS, ele chegou a cancelar sua participação no evento, mas resolveu ir na última hora. Ele não teve reuniões bilaterais e ainda voltou ao Brasil antes do final da reunião. A mesma decisão se repetiu hoje, com Temer deixando a plenária antes mesmo do seu fim e até da divulgação do comunicado final.