O Comitê Olímpico Internacional (COI) espera que a posse de Michel Temer como presidente em exercício do Brasil desate vários nós que a entidade considera existir na organização da Rio-2016. A expectativa é de que o novo governo represente a retomada de aportes de recursos federais nesta reta final da organização dos Jogos, dinheiro que será utilizado para compra de materiais e equipamentos e para bancar custos diversos.
Michel Temer já confirmou que abrirá oficialmente os Jogos no dia 5 de agosto no estádio do Maracanã, algo que vinha sendo uma das preocupações do COI. Mas a maior aflição dos dirigentes nas últimas semanas era com a incapacidade de levar os diferentes níveis de governo a dialogar para solucionar ainda problemas importantes na organização.
Uma delas é a compra do material esportivo para o evento, uma conta de R$ 80 milhões e que ficou com o governo federal. A ideia era que Brasília compraria bolas, canoas, redes e outros materiais que, depois do evento, seriam deixados para as federações brasileiras. Mas, diante da crise econômica e a paralisia no governo Dilma Rousseff, um volume grande de compras ainda precisa ocorrer até agosto.
Além disso, o COI quer transferir para o governo alguns custos dos Jogos. Como o gasto com a gasolina dos mais de 4 mil carros no evento sejam arcadas pela Petrobrás. A conta estimada está em R$ 60 milhões e, em troca, a estatal entraria como “patrocinadora”, pois a Rio-2016 não aceita a injeção de dinheiro público na organização.
A dificuldade encontrada nas últimas semanas para fazer valer interesses relativos aos Jogos levou inclusive ao rompimento entre o prefeito Eduardo Paes e o governo Dilma. Paes passou a ser o interlocutor de Temer com os dirigentes olímpicos. Ambos são do PMDB e o COI recebeu o recado de que, a partir de agora, a preparação “vai andar”.
O presidente em exercício garantiu que está “em total apoio” ao projeto olímpico. O COI também adotou discurso conciliador em relação ao novo governo. “Queremos trabalhar com o novo governo para realizar uma Olimpíada de sucesso no Rio”, disse o presidente da entidade, o alemão Thomas Bach, nesta quinta-feira.
Oficialmente, Bach insiste que a preparação para os Jogos “entra agora numa fase muito operacional e problemas como esse têm uma influência muito menor que em outros estágios da organização dos Jogos”. Mas a realidade, segundo fontes de alto escalão das federações esportivas, é que muito trabalho ainda precisa ser feito no Rio e o temor é de que haja um estouro no orçamento ou dificuldades para completar promessas assumidas com o governo federal.
Por meio de Paes, o COI e a Rio-2016 haviam solicitado à equipe de Temer que o então ministro do Esporte, Ricardo Leyser, e Andrei Rodrigues, titular da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça e coordenador nacional de segurança dos Jogos Rio 2016, fossem mantidos, justamente para dar continuidade ao projeto.
Temer não atendeu ao pedido sobre a pasta de Esporte e nomeou o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) como o novo ministro. Mas deu garantias de que não mexeria na parte operacional.
PROTOCOLO – Outra preocupação do COI era que a presença de Dilma no estádio da abertura poderia ofuscar o evento, com vaias e protestos como ocorreram na Copa das Confederações, em 2013. Temer será quem irá declarar abertos os Jogos. Mas o fará das tribunas, sem descer até o gramado do Maracanã.
A expectativa dos organizadores é de que a nova etapa signifique uma confirmação dos chefes de estado que irão ao Rio para o evento. Até agora, o Itamaraty havia recebido a confirmação de 60 governos. Mas espera cerca de 110. Temer afirmou em discurso nesta quinta-feira que os Jogos “servirão para a recuperação da imagem do País”, além de ajudar na “inserção internacional de nossa economia”.