Estadão

Com temor sobre China, Ibovespa cai 1%, a 116,8 mil, em baixa pelo 10º dia

Ainda em grau relativamente discreto de correção, que chegou hoje à casa de 4% no mês, o Ibovespa deu prosseguimento nesta abertura de semana à sequência negativa que coincidiu com o início de agosto, em baixa desde então, hoje pela 10ª vez consecutiva – algo não visto desde as 11 perdas seguidas em fevereiro de 1984, que haviam igualado, por sua vez, outras 11 quedas em junho de 1970, conforme levantamento do AE Dados. Nesta segunda-feira, o índice flutuou dos 116.529,96 (-1,30%) aos 118.081,90 pontos, nível semelhante ao da abertura, a 118.066,52 pontos.

Ao fim, a referência mostrava queda de 1,06%, aos 116.809,55 pontos, com giro a R$ 22,2 bilhões. Foi o primeiro ajuste diário na casa de 1% desde o início da correção em curso, em 1º de agosto, o que levou, hoje, o índice da B3 ao menor nível de fechamento desde 28 de junho, então aos 116.681,32 pontos. No mês, o Ibovespa recua 4,21%, em ajuste superior ao do Nasdaq (-3,89%) e também ao do índice amplo de Nova York, o S&P 500 (-2,16%). Assim, limita a alta do ano a 6,45%.

Na ponta do índice, destaque nesta segunda-feira para Alpargatas (+1,51%), Suzano (+1,49%) e CPFL (+1,19%). No lado oposto, Yduqs (-14,46%), Via (-7,03%) e Petz (-6,39%). O dia se mostrava uniforme, em grande parte da sessão, para as ações de maior peso no índice, em baixa, com destaque para a queda de 3,10% em Vale ON, na mínima do dia no fechamento, a R$ 61,90. O setor mineral e metálico ainda responde à percepção negativa sobre a demanda chinesa por matérias-primas, em meio a dados cada vez mais preocupantes sobre o ritmo de atividade na segunda economia do globo.

"Houve piora do sentimento do investidor, o que afeta em especial o setor de commodities, por conta da China, que tem desacelerado, o que pesou bastante no mercado hoje, em dia negativo para os preços das matérias-primas lá fora, inclusive para o petróleo", diz João Piccioni, analista da Empiricus Research. "Um mix pior para commodities pode pegar também na nossa moeda", acrescenta o analista. Hoje, o dólar à vista voltou a se reaproximar um pouco mais do limiar de R$ 5, em alta de 1,25% no fechamento, a R$ 4,9656.

"Foi mais um dia de queda para o Ibovespa, agora aos 116 mil pontos, ainda puxado pelo exterior, com notícias ruins sobre o setor imobiliário da China, que segue patinando. E aqui, do lado doméstico, expectativa ainda pelo reajuste dos preços da Petrobras nas refinarias ante a defasagem em relação às cotações internacionais do petróleo", diz Bruna Centeno, sócia e especialista da Blue3 Investimentos, mencionando também abertura na curva de juros, nos curtos como nos vencimentos mais longos, em razão do aumento da percepção de risco global e doméstica.

Se, por um lado, eventual recomposição nos preços praticados pela Petrobras – ainda esta semana – seria positiva para a empresa, por outro os agentes de mercado monitoram os efeitos que poderá trazer para a inflação – após a acentuação do IPCA de julho, em alta de 0,12% na margem, acima do esperado para o mês, ter decorrido essencialmente do grupo Transportes, pelo efeito do avanço nos preços da gasolina ao consumidor. Aceleração adicional na inflação corrente pode esfriar as apostas em um ritmo mais acentuado de afrouxamento monetário, observa a analista da Blue3.

"O dado de atividade doméstica divulgado hoje, o IBC-Br, veio acima do esperado, mas o mesmo índice mostrou fortes sinais de desaceleração, no segundo trimestre frente ao primeiro", diz Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos, acrescentando que o que tem predominado, no momento, é a percepção negativa sobre a economia chinesa, o que tira força do Ibovespa, agora abaixo dos 117 mil, para buscar a retomada dos 120 mil pontos. Em reflexo das incertezas sobre a China, especialmente desde o default da empresa Country Garden na semana passada, a perspectiva para as commodities não é das melhores. Dessa forma, "Vale, a ação de maior peso individual mo Ibovespa, caiu hoje 3%", observa a analista.

Algumas ações do setor de commodities, no entanto, conseguiram se descolar do mau humor no fechamento, com destaque para Petrobras (ON +0,48%, PN +0,26%), Gerdau (PN +0,70%) e Gerdau Metalúrgica (+0,08%).

No exterior, o dia já havia começado em tom majoritariamente negativo, especialmente na sessão asiática, estendendo-se em menor grau aos negócios na Europa e, em particular, a Nova York, onde o fechamento desta segunda-feira veio com sinal único, em variações moderadas nos principais índices de ações: Dow Jones +0,07%, S&P 500 +0,58% e Nasdaq +1,05%.

Mais cedo, "as bolsas do Japão e da China recuaram, com a Zhongzhi, uma empresa financeira chinesa enfrentando problemas de pagamento de dívidas – o regulador bancário da China, preocupado com potencial contágio, criou uma força-tarefa para examinar os riscos da instituição", aponta em boletim a Monte Bravo Investimentos.

Na B3, depois de o Ibovespa ter igualado na sexta-feira, em extensão, séries bem mais agudas de correção vistas em agosto de 1998 e fevereiro de 1995, ambas superiores a 20%, o ajuste de agosto de 2023, mesmo com o índice sempre em baixa nos fechamentos desde o começo do mês, está agora pouco acima de 4%, após ganhos acumulados entre abril e julho, com destaque para o avanço de 9% em junho.

Em janeiro, o Ibovespa deu a largada em 2023 no positivo, com o índice a 113,4 mil pontos no fechamento daquele mês, mas adernou em fevereiro (-7,49%) e março (-2,91%), encerrando o primeiro trimestre abaixo dos 102 mil pontos, com recuperação sustentada ao longo do trimestre seguinte, que o deixou bem perto dos 122 mil pontos no encerramento de julho, no início deste terceiro trimestre.

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